Um católico pode ser salvo?

Depois de ler meu texto você escreveu tecendo diversos comentários que indicavam que você não entendeu o que leu. Achou que eu estivesse dizendo que para alguém ser salvo era preciso deixar sua denominação religiosa e congregar somente ao nome do Senhor, sem um templo, clero, etc. Mas depois de eu esclarecer que não era isso que eu disse você escreveu novamente indignado, desta vez por eu ter dito que católicos também poderiam ser salvos mesmo estando na igreja católica.

A salvação não tem nada a ver com o lugar que você congrega ou se não congrega em lugar nenhum. A salvação é somente pela fé em Cristo e em sua obra na cruz. Vamos a Cristo do jeito que estamos e, ao crermos nele, ele nos salva e uma vez salvo, salvo para sempre porque a salvação não depende de nossa obediência, mas da morte e ressurreição de Jesus. Existem salvos em todas as denominações cristãs (inclusive a católica) e fora delas. São pessoas que creem em Jesus, que nasceram de novo, que são membros do corpo de Cristo, do qual ele é a cabeça. Todos esses estarão no céu, mas não levarão para lá as denominações que carregavam aqui.

Parecia até que você concordava com isso quando escreveu: ”Medita nisso: alguns homens dizem que para ser salvo, é preciso guardar o sábado. Outros dizem que é preciso pagar os dízimos. Agora o senhor, pelo que entendi, também acrescenta uma condição para a salvação: “sair do erro”, ou seja, sair da denominação que frequenta para se reunir em nome de Jesus Cristo apenas. Repito que isso nós sempre fizemos. É razoável essa declaração?”.

Mas agora você diz que um católico não pode ser salvo a menos que saia de sua denominação católica! Quer conhecer um católico salvo por Cristo? Eu mesmo fui um durante cerca de um ano. Escutei o evangelho na faculdade de um irmão em Cristo que não falou de nenhuma denominação (embora ele congregasse em uma batista), mas pregou o puro evangelho da salvação pela fé em Cristo. Ao todo éramos doze universitários que se converteram na faculdade de arquitetura por meio do trabalho evangelístico daquele irmão.

Mas depois de minha conversão decidi voltar a frequentar a missa, pois vinha de família católica e nem imaginava o que acontecia em um templo protestante. Durante um ano inteiro fui católico, ajudei o padre na missa, organizei um grupo de jovens para ensinar a eles o evangelho (o padre não gostava porque eu dizia que a salvação era só pela fé em Jesus) e enquanto isso estudava a doutrina católica.

Um ano depois vi erros suficientes para sair daquela denominação. Mas entenda bem: durante aquele ano eu sabia que estava salvo por Cristo, entendia sua obra na cruz como suficiente para me salvar e simplesmente achava que imagens e santos eram uma espécie de anabolizante, dos quais alguns precisavam para fortalecer sua fé. Quantos estão na mesma condição no catolicismo? E quantos estão na mesma condição no protestantismo, em denominações que vendem vidrinhos de azeite, toalhinhas, água do Rio Jordão e um sem número de objetos que apelam para a superstição? Ou que fazem de seus líderes intermediários entre Deus e os homens, de um modo como muitos católicos enxergam seu clero ou os chamados “santos” canonizados?

Entenda que por mais de mil anos a única fonte do evangelho foi o catolicismo. Hoje existe cristãos no Japão, um dos países mais fechados às influências externas até o século 19, porque São Francisco Xavier conseguiu entrar e proclamar a palavra da cruz, muito antes que qualquer missionário protestante o fizesse. Certamente era uma evangelização contendo mistura e erros, mas o evangelho era lido nos templos católicos e pessoas se convertiam, porque o evangelho é o poder de Deus para todo aquele que crê. O poder está na Palavra aplicada pelo Espírito, e não na pessoa que prega ou onde ela prega. Onde você acha que Lutero ouviu a Palavra de Deus pela primeira vez?

Depois de convertida a pessoa poderá se separar do erro, seja esse erro católico, presbiteriano, adventista, batista ou outro (sim, todas as religiões têm erros), se desejar ir além da salvação e conhecer toda a verdade, isenta dos dogmas impostos pelos estatutos dessas religiões. Esta é a vontade de Deus para cada cristão, pois ele “quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” ou “cheguem ao pleno conhecimento da verdade”, como diz outra versão (1Tm 2:4). Outros talvez nunca se separem de suas denominações por uma série de razões, mas nem por isso estão menos salvos. Só estarão perdendo privilégios de uma melhor compreensão da verdade.

Das denominações que existem por aí o catolicismo é uma que ainda mantém o cerne da fé cristã (veja o Credo dos Apóstolos que é rezado nas missas, ele está correto). Os católicos creem na divindade de Jesus, algo que algumas igrejas evangélicas modernas colocam em dúvida e organizações como Testemunhas de Jeová e Mórmons excluem totalmente de suas doutrinas. Mas será que alguém que vá às reuniões das Testemunhas de Jeová ou da Igreja dos Santos dos Últimos Dias (Mórmon) pode se converter? Se a Palavra de Deus for lida nesses lugares e essa pessoa escutar, ela pode se converter sim. Mas não se sentirá em paz lá porque o Espírito Santo que virá habitar nessa pessoa insistirá para que ela se aparte do erro.

Não condicione a salvação à frequência ou não a uma religião, e nem tampouco à obediência, porque pela obediência ninguém conseguiu ser salvo, mas somente pela fé singela em Cristo. A Lei dada a Moisés foi a forma de Deus demonstrar que homem algum é capaz de obedecer 100% a Lei de Deus e, portanto, ser salvo com base na obediência. Dizer que alguém não é salvo por ser católico é dizer que a pessoa precisa de algo mais além de Cristo e sua obra para se salvar, o que é um erro.

Você diria que os profetas Elias e Eliseu foram salvos? Sim, acredito que concorde. Mas será que já percebeu que eles estavam no lugar errado? Quando Jeroboão dividiu o reino de Israel, o rei Roboão ficou no lugar que Deus havia estabelecido como o único lugar genuíno de adoração, Jerusalém. Jeroboão, porém, atraiu para si dez tribos e construiu para elas dois lugares de adoração totalmente espúrios e não autorizados por Deus. Então houve por muito tempo um lugar de adoração genuíno, frequentado pelas tribos de Judá e Benjamin, chamadas simplesmente de “Judá”, e por indivíduos de outras tribos que eventualmente iam para Jerusalém adorar, e havia “Israel”, as demais dez tribos, adorando no lugar errado à revelia de Deus. E mesmo assim Deus colocou profetas seus nessas tribos, como foi o caso de Elias e Eliseu, porque Deus se importa com o seu povo.

Negar que possam existir salvos por Cristo no catolicismo ou em outras denominações cristãs (ou fora delas) é negar até mesmo o hino “Just as I am”, que você deve conhecer em português como “Tal como sou” ou “Tal como estou”. Deus recebe qualquer um, do jeito que está e onde está, e o salva se este tão somente crer em Jesus. Se a pessoa salva por Cristo irá sair ou permanecer conectada ao erro religioso, isso é outra história. Mas ninguém poderá negar que somos salvos do jeito que o Senhor nos encontra. Tentar se livrar de todas as arestas para só então ir a Cristo é confiar que a carne tem poder de melhorar. O filho pródigo foi recebido pelo pai do jeito que estava. Foi o pai quem o vestiu de roupas limpas, colocou sandálias em seus pés e um anel no dedo.

O que você diria a um católico apostólico romano que chegasse a você dizendo que quer ser salvo de seus pecados? Diria “Sai da igreja católica e serás salvo” ou “Crê no Senhor Jesus e serás salvo”? Ouvi um irmão dizer que é por amar o pecador que Deus o recebe e o salva do jeito em que está. E que é por amar demais o pecador que Deus não quer deixá-lo do jeito que está.

Sua reação ao que eu disse só demonstra o quanto muitas igrejas chamadas “evangélicas” não pregam um evangelho puro, mas igualmente misturado com obras e atitudes, nada diferente portanto do evangelho misturado pregado no catolicismo. No fundo, no fundo, muitas estão dizendo nas entrelinhas: “Venha para a minha igreja e serás salvo”. O dia em que você se aprofundar no que dizem algumas religiões protestantes das mais fundamentalistas, ficará surpreso por saber que não pregam uma vida eterna no céu, mas na terra, ou que estão pouco ligando para Israel, pois no seu entender Israel foi substituído pela Igreja e perdeu assim todas as promessas feitas pelos profetas do Antigo Testamento. É estarrecedor o que existe nas entrelinhas de muitas doutrinas chamadas “evangélicas” ou “protestantes”, sem falar dos mercenários que invadiram as ondas de rádio e TV.