O que não é lícito ao homem falar?
Sua dúvida está em 2 Coríntios 12:1-4, ou a que palavras Paulo está se referindo como não sendo permitido ao homem falar: “Em verdade que não convém gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu. E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar”.
Paulo foi transportado ao terceiro céu, que ele identifica aqui como o Paraíso, o mesmo lugar para onde foi o ladrão que morreu na cruz, e ouviu coisas que são impossíveis de serem explicadas em termos humanos. Ou seja, ainda que um suposto médium espírita quisesse invocar o ladrão que está no Paraíso para vir aqui contar como é lá, este não teria palavras para se expressar em termos terrenos, tamanha é a diferença entre o que se passa ali e o que vivenciamos aqui.
Isto não quer dizer que Paulo não tenha entendido o que ouviu ali. Você pode não saber falar um idioma porém compreender algo que um estrangeiro lhe diz, e mesmo assim não ter palavras para traduzir aquilo ipsis litteris a alguém que lhe pergunte sobre aquilo. O que Paulo ouviu foram coisas tão elevadas que não haveria paralelo na linguagem humana para expressá-las. Além disso, o modo como ele fala, “que ao homem não é lícito falar”, indica que também não tinha autorização para tanto.
Um exemplo fraco disso seria um índio que nunca saiu da selva e nem viu TV ser transportado de repente em uma viagem pelo espaço numa cápsula, e lá na estação espacial ouvir todas as explicações dadas pelos astronautas. Imagine ele depois voltar e precisa explicar o que viu para os outros da tribo. Seria uma loucura, porque ele não teria nem parâmetros para comparar. Por isso os índios da América Central, quando viram os primeiros espanhóis montados em cavalos (na época não existiam cavalos nas Américas) acharam que cavalo e cavaleiro eram uma coisa só, isto é, que eram homens gigantes com quatro pernas. Eles logo se prostravam aterrorizados achando que estavam diante de deuses.
É por isso que não devemos dar crédito a esses “testemunhos” de pessoas que dizem ter ido ao céu ou ao inferno e saem por aí escrevendo livros e dando palestras. Se Paulo, que realmente foi arrebatado ao terceiro céu, disse ser impossível expressar em linguagem humana o que ele ouviu, quem essas pessoas acham que são para se considerarem aptas a revelar o que viram nesses lugares? Mesmo as visões gloriosas que encontramos nas Escrituras, descritas pelos profetas do Antigo Testamento e por João no livro de Apocalipse, são transformadas em linguagem de símbolos por faltarem elementos terrenos para explicá-las.
E veja também que Paulo toma tanto cuidado ao contar o que aconteceu consigo, que nem mesmo diz “eu fui ao Paraíso”, mas coloca tudo numa terceira pessoa, dizendo: ”conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu.” A possibilidade de sua carne se gloriar disso era tão grande que ele toma o maior cuidado, e mesmo assim logo em seguida já fala do “espinho na carne” que tinha para impedi-lo de se gloriar em razão da sublimidade e importância das muitas revelações que lhe foram dadas.
É aí que fica ainda mais absurdo vermos cristãos que rejeitam os escritos de Paulo como sendo opinião pessoal de um velho machista. Obviamente quem é espiritual irá entender quão elevadas foram as revelações que esse servo de Deus recebeu, dentre elas a revelação da Igreja, o segredo escondido nos séculos anteriores, as quais evidentemente não eram compreendidas nem em seu próprio tempo. No último capítulo de sua última carta, 2 Timóteo, ele conta que tinha sido abandonado por muitos.
Há ainda quem tente lançar descrédito sobre as epístolas de Paulo citando o que Pedro diz, como se o próprio Pedro estivesse criticando o que Paulo dizia:
(2 Pe 3:15-16) “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição”.
Porém o que Pedro fala aqui não é contra o ensino de Paulo, mas totalmente a favor. Ele reconhece que Paulo recebeu do Senhor uma sabedoria ímpar, e por isso falava de coisas difíceis de entender que os ignorantes distorciam. Pedro condena assim qualquer um que queira desacreditar os escritos de Paulo. Hoje há muitos que não entendem o evangelho de Paulo (rm) e pregam uma salvação por obras da Lei ou pelo batismo, rejeitam a doutrina da Trindade, duvidam da eleição dos salvos, desobedecem a doutrina por ele ensinada sobre a mulher cobrir a cabeça e ficar calada nas reuniões da igreja, etc.