Qual a diferença entre batismo e selo do Espírito?
Existe hoje muita confusão na cristandade, especialmente entre os pentecostais, por falta de entendimento das diferentes maneiras como o Espírito Santo agiu na história e age no crente. Por exemplo, muitos erram ao pensar que 1 Coríntios 12 esteja falando do recebimento do Espírito Santo pelo convertido, quando ali o assunto é a inclusão do crente naquilo que aconteceu uma só vez no dia de Pentecostes.
(1 Co 12:12-14) “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos”.
Veja que o contexto é o corpo de Cristo e não a salvação individual e nem ao recebimento do Espírito Santo. Paulo fala aos Coríntios “todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo”. Obviamente o corpo não é formado cada vez que alguém se converte e recebe o Espírito, portanto isso aqui não aconteceu quando os de Corinto se converteram ou foram selados com o Espírito Santo, mas foi o que ocorreu em Pentecostes (quando os de Corinto nem tinham sido salvos ainda). Mas aquele evento de Pentecostes é válido para todos os que foram salvos depois. Todos estavam incluídos naquele batismo que formou a Igreja em Pentecostes. Pense no exército: ele foi formado em um determinado dia e a partir daí cada soldado é acrescentado ao “corpo” do exército sem que o exército seja formado outra vez. Pense no batismo no Espírito como um evento único que não se repete.
(Ef 4:4-6) “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós”.
Eu entendo que o versículo 5 esteja falando do batismo nas águas, porque no versículo 4 ele falou do corpo e do Espírito no qual esse um só corpo foi batizado.
(Ef 1:13-14) “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória”.
Aqui não é o batismo no Espírito, mas o recebimento do selo do Espírito, que é o próprio Espírito habitando em nós. No batismo de Pentecostes o Espírito veio habitar na terra e particularmente na igreja, embora naquele momento os 120 crentes ali tenham recebido individualmente o selo do Espírito também. Mas a partir daí (e é o assunto de Efésios) recebemos o selo do Espírito quando cremos. Chamar de batismo no Espírito é o mesmo que dizer que o corpo de Cristo é formado a cada pessoa que se converte. Mas não é, somos meramente acrescentados a um Corpo que já existe.
(Ef 5:18) “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito;”.
Aqui já é outra coisa que não tem a ver com o batismo de Pentecostes e nem com o recebimento do selo quando cremos. Aqui fala de nos enchermos do Espírito e é possível ver que a diferença é grande quando nos lembramos de que os santos do Antigo Testamento também eram cheios do Espírito, embora nenhum deles tenha participado da igreja (que foi criada quando o Espírito desceu em Pentecostes) e nem tinham o selo do Espírito (que é característico daqueles que fazem parte do corpo de Cristo, que é a Igreja).
Ao comparar com a embriaguez o apóstolo mostra que está falando de uma influência adicional, muito embora a embriaguez nos leve a perder os sentidos, o que o Espírito Santo não fará. Mas os aspectos semelhantes são a pessoa sendo influenciada por algo fora dela mesma, ficando mais alerta e disposta e agindo e caminhando de modo diferente. O “encher-se do Espírito” causa esse tipo de influência em nós, mas é algo que depende de nossa comunhão com Deus.
Então veja que temos algumas coisas distintas relacionadas ao Espírito:
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O encher-se do Espírito de Ef 5:18 que era algo possível mesmo aos santos do Antigo Testamento.
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O batismo do Espírito que aconteceu apenas uma vez em Pentecostes quando foi formado o corpo de Cristo, que é a igreja em Atos 2.
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O Espírito Santo habitando no crente como consequência disso, conforme o Senhor prometeu em João 14:16.
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O recebimento do selo do Espírito Santo, que é a garantia da nossa salvação em Efésios 1:13-14.
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A unção do Espírito que permite que o crente entenda as coisas de Deus, como ensina 1 João 2:27.
Quando você compara a descida do Espírito sobre o Senhor Jesus em seu batismo nas águas com a descida do Espírito sobre os 120 na formação da igreja em Atos encontra um grande contraste: sobre o Senhor o Espírito desceu em forma de pomba, mas sobre a igreja em forma de línguas como de fogo. A pomba nos fala de paz e o fogo de purificação. Não havia nada no Senhor que precisasse ser purificado, mas na igreja sim, daí a diferença.
Nós, individualmente, passamos primeiro pelo novo nascimento, ao nascermos da água e do Espírito, que nos infunde vida para podermos sentir o peso de nossos pecados (ou nem sentiríamos isso) e crer no Salvador. O sangue derramado na cruz nos purifica de todo pecado, deixando-nos portanto aptos a sermos feitos morada do Espírito.
Quanto à sua dúvida sobre batismo de crianças, tal prática não existe na Bíblia, mas existe sim o batismo de famílias como a do carcereiro em Atos 16:30-34 e de Estéfanas em 1 Coríntios 1:16, que foram obviamente batizadas na fé da cabeça da casa, como aconteceu em figura com todos os israelitas que saíram do Egito e passaram pelo mar (“Todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar” — 1 Co 10:2), mesmo aqueles que não tinham entendimento do que estava acontecendo.
É importante entender que o batismo não tem conotação com a salvação da alma, mas com o colocar alguém “a salvo” deste mundo por introduzi-lo na esfera cristã. Existem hoje no mundo milhões de pessoas que nunca foram salvas e mesmo assim professam ser cristãs por terem sido batizadas (independentemente da idade) em nome de Cristo. Este simples detalhe as tirou da esfera do paganismo e as introduziu numa nova esfera de responsabilidade, tal qual ocorreu com muitos que saíram do Egito, passaram pelo fundo do mar, e mesmo assim nunca tiveram um exercício pessoal de fé no Deus verdadeiro. O Antigo Testamento os chama de “vulgo”, pessoas que tinham o coração no Egito e nenhum apreço pelo pão que vinha do céu:
(Nm 11:4-6) “E o vulgo, que estava no meio deles, veio a ter grande desejo; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar, e disseram: Quem nos dará carne a comer? Lembramo-nos dos peixes que no Egito comíamos de graça; e dos pepinos, e dos melões, e dos porros, e das cebolas, e dos alhos. Mas agora a nossa alma se seca; coisa nenhuma há senão este maná diante dos nossos olhos”.