Como a minha justiça pode exceder a dos fariseus?
Sua dúvida é como alguém pode ser justificado, se o Senhor exige que nossa justiça seja maior que a dos fariseus, que já eram tão zelosos em cumprir a Lei e os mandamentos. O versículo que citou é este: (Mt 5:20) “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”.
A justiça dos fariseus era uma justiça exterior, de fachada como são os sepulcros caiados. Era meramente ritualística e consistia em ordenanças. A justiça do crente em Cristo deve exceder a dos fariseus por ser de dentro para fora, e não de fora para dentro.
Pintar o sepulcro não altera seu interior cheio de podridão, mas aquele que foi salvo por Cristo teve primeiro seu interior transformado ao receber uma nova natureza, e é dessa nova natureza que procede a justiça que vem de Deus. A justiça do crente é consequência, e não causa, da justiça que excede a dos fariseus. O crente é feito “justiça de Deus” em Cristo, e expressa essa justiça em seu andar como resultado da obra de Deus em sua vida.
(2 Co 5:21) “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus”.
(Gl 3:24) “De maneira que a lei nos serviu de aio [babá], para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados”.
(Rm 3:24) “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”.
(Rm 5:1) “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo;”.
(Rm 5:9) “Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira”.
(1 Co 6:11) “E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus”.
(Gl 2:16) “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada”.
(Gl 5:18) “Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei”.
(Rm 4:5) “Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça”.
(Rm 8:33) “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica”. [“Justificar” significa “considerar justo”].
Os fariseus seguiam a Lei, porém não entendiam o espírito da Lei. Por isso o Senhor segue na passagem de Mateus 5 falando do espírito da Lei ao tratar de seis pontos: o sexto mandamento ou “Não matarás” (Ex 20:13 x Mateus 5:21-26), o sétimo mandamento ou “Não adulterarás” (Ex 20:14 x Mateus 5:27-30), a lei do divórcio (Dt 24:1 x Mateus 5:31-32), dos juramentos (Lv 19:12 x Mateus 5:33-37), da retribuição (Ex 21:24 x Mateus 5:38-42) e de como tratar os inimigos (Dt 23:6 x Mateus 5:43-48).
Sobre o sexto e sétimo mandamentos o Senhor ensina que não pesa somente a ação, mas a intenção do coração. A proibição não se restringe a matar ou adulterar, mas inclui odiar e cobiçar. Basta isto para mostrar que ninguém é justo segundo a carne e as aparências, que era como os fariseus tentavam justificar a si mesmos. A Lei serviu para mostrar a incapacidade do homem de atingir o nível de perfeição exigido por Deus, cabendo a ele tão somente esperar na graça e misericórdia de Deus para ser justificado.
Em meio aos comentários dessas seis leis, o Senhor ensina também que:
1. Nenhuma oferta é aceitável a Deus enquanto existir injustiça para com o próximo;
2. Eles (os judeus) estavam incorrendo em uma condenação maior por considerarem a Jesus (e a Deus) como adversário, ao invés de buscarem a conciliação;
3. Aquilo que Deus havia ordenado a Moisés acerca do divórcio não contemplava todo o pensamento de Deus, por ser brando em relação à posição mais radical de Deus, de existir apenas uma coisa (além da morte) capaz de dissolver o vínculo matrimonial, ou seja, o adultério;
4. Ninguém estaria obrigado a criar vínculos através de juramentos;
5. Agora estava valendo o inverso do que fora dito para o homem na carne (“olho por olho, dente por dente”) e,
6. O amor que realmente agrada a Deus é irrestrito, ou seja, inclui amigos e inimigos, bons e maus, pois é assim que Deus também ama o homem.
Então vem uma revelação importante: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus”. Em nenhum momento a Lei colocava o homem na posição de filho de Deus, como Jesus faz aqui ao dizer “vosso Pai”. Deus não é apresentado a eles como Jeová, o legislador, mas como o Pai amoroso.
Nenhum profeta jamais teria ousado falar assim: “Ouviste o que foi dito...”, ao citar a Lei, e então, “Eu, porém, vos digo...”. Quem jamais teria a ousadia de corrigir os mandamentos da Lei ou acrescentar coisas a eles? Isto seria blasfêmia, a menos que viesse da boca do mesmo que deu a Lei a Moisés no monte Sinai: o Emanuel, ou “Deus conosco”.
(Respondida com a ajuda de comentários de J. N. Darby e F. B. Hole).