Quantos evangelhos existem?
Na Bíblia não encontramos apenas um “evangelho do reino” e um “evangelho da graça”, mas o evangelho em diferentes aspectos, pregado a diferentes pessoas em diferentes épocas. Para entender melhor isto é preciso lembrar que “evangelho” significa simplesmente “boa notícia” ou “boas novas” e, independente de seu caráter, tempo e lugar, o que Deus sempre exigiu foi “crer”. Se alguém “fez” algo, isso foi apenas consequência de um passo de fé que veio primeiro.
Portanto, quando Deus prometeu a Adão e Eva em Gênesis 3:15 que da semente da mulher viria um que esmagaria a cabeça da serpente, aquilo foi um “evangelho” ou “boa notícia”. Eva creu, pois ao nascer seu primeiro filho achou que seria aquele, e disse “Alcancei do Senhor um homem” (Gn 4:1).
A Noé foi dada também uma “boa notícia” ou “evangelho”, quando Deus, depois de avisar que a terra seria destruída, apresentou o meio de salvação: a arca. Noé creu no “evangelho” e foi salvo.
(Hb 11:7) “Pela fé Noé, divinamente avisado das coisas que ainda não se viam, temeu e, para salvação da sua família, preparou a arca, pela qual condenou o mundo, e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé”.
A mensagem de Deus a Abraão também foi um “evangelho” ou “boa notícia”, quando avisou que teria um filho em idade avançada e que sua semente traria bênção a todas as nações da terra. Abraão creu em Deus e isso lhe foi imputado como justiça (Gn 15:6; Romanos 4:3).
(Gl 3:8) “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti”.
Os israelitas no Egito também receberam o “evangelho” ou “boas novas” quando Deus avisou que seriam libertos por meio de Moisés (um tipo de Cristo). Eles creram na boa notícia.
(Ex 4:31) “E o povo creu; e quando ouviram que o Senhor visitava aos filhos de Israel, e que via a sua aflição, inclinaram-se, e adoraram”.
A questão é que aquelas “boas novas” tinham duas partes: a libertação do Egito e a entrada na terra prometida, e muitos não creram na segunda parte.
(Hb 4:2-6) “Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram... e que aqueles a quem primeiro foram pregadas as boas novas não entraram por causa da desobediência,”.
No Antigo Testamento você já encontrava o evangelho do reino e esse evangelho foi também pregado por João Batista, pelo Senhor e pelos discípulos, conforme Mateus 4:23, Lc 4:43, etc., e voltará a ser pregado no futuro, conforme Mateus 24:14.
(Mt 3:2) “[João Batista] dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus”.
(Mt 4:23) “E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino”.
(Lc 4:43) “Ele, porém, lhes disse: Também é necessário que eu anuncie a outras cidades o evangelho do reino de Deus; porque para isso fui enviado”.
Embora esse evangelho do reino tenha sido rejeitado pela maioria em Israel, um pequeno grupo creu nele e mais tarde usufruiu o “evangelho da graça de Deus”, que é Cristo pregado para o perdão dos pecados por sua morte.
(Atos 20:24) “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus”.
Paulo vai ainda além ao falar do “evangelho da glória de Cristo”, que inclui não apenas Cristo morto e ressuscitado, mas glorificado, uma revelação que inicialmente foi confiada a Paulo.
(2 Co 4:4) “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”.
(1Tm 1:11) “Conforme o evangelho da glória de Deus bem-aventurado, que me foi confiado”.
Esse evangelho inclui muito mais do que a salvação, por maior que seja, pois entra no “mistério do evangelho”, que separa os crentes do primeiro homem que é da terra e os associa a Cristo glorificado nos céus.
(Rm 16:25) “Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto,”.
(Ef 6:19) “E por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho,”.
No futuro, além do evangelho do reino que voltará a ser pregado por um remanescente fiel de judeus que se converterão durante a tribulação, anunciando a vinda do Rei e o estabelecimento do reino, haverá também o “evangelho eterno” pregado aos gentios, o qual é fundamentado na primeira boa notícia dada por Deus a Adão e Eva, de que da semente da mulher viria um que esmagaria a cabeça da serpente.
(Ap 14:6-7) “E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo. Dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”.
É preciso lembrar que também existe o “outro evangelho” do qual Paulo fala em Gálatas, que é basicamente o evangelho do homem soprado pelos anjos de Satanás.
(Gl 1:6-12) “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; ... Ainda que... um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema [maldito]. Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo. Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo”.
A característica desse “outro evangelho” é que ele é legalista e condicional, é baseado em obras numa tentativa de se barganhar a salvação e recebê-la por mérito, não por graça. É também um evangelho que agrada ao homem, pois satisfaz o seu ego e faz com que seja visto e louvado por outros homens.
A forma de se detectar se um evangelho é de Deus ou do homem é simplesmente perguntando: isso traz glória a Deus ou ao homem? Se toda a glória for para Deus, é o evangelho segundo Deus e só pode ser recebido pela fé; se sobrar alguma glória para o homem e seus feitos, é o evangelho segundo o homem, pois é baseado em suas obras, portanto maldito.
Esta é a diferença também entre o modo como Abel e Caim responderam ao evangelho de Deus pregado no Éden. Eles sabiam do relato de seus pais que Deus cobriu sua nudez e pecado com a pele de um animal sacrificado. Assim Abel, ao fazer uma oferta a Deus, traz um animal morto, enquanto Caim tenta oferecer a Deus o fruto de seu trabalho.
A resposta daquele que é alcançado pelo verdadeiro evangelho nunca é “devo fazer”, mas “devo crer”. O que precisava ser feito Cristo já fez. (Algumas partes foram adaptadas do “Concise Bible Dictionary”).