Como Satanás conseguiu impedir Paulo?

Você pergunta como em 1 Tessalonicenses 2 Satanás foi capaz de impedir que Paulo fosse visitar os irmãos. Sua pergunta é importante, pois há diferentes situações e níveis de oposição quando o assunto é a vida do crente e a obra do Senhor. Mas primeiro vamos observar outra situação onde não é Satanás, mas o Espírito Santo que, por duas vezes, impede o trabalho de seus servos, antes de dar ao apóstolo Paulo e seus companheiros uma visão clara da vontade do Senhor:

(Atos 16:6-10) “E, passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia. E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito não lho permitiu. E, tendo passado por Mísia, desceram a Trôade. E Paulo teve de noite uma visão, em que se apresentou um homem da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia, e ajuda-nos. E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho”.

Alguns versículos nos ajudam a entender como Deus age:

(Pv 16:9) “Do homem são as preparações do coração, mas do Senhor a resposta da língua. Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o Senhor pesa o espírito. Confia ao Senhor as tuas obras, e teus pensamentos serão estabelecidos. O Senhor fez todas as coisas para atender aos seus próprios desígnios, até o ímpio para o dia do mal ... O coração do homem planeja o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos”.

O crente não precisa ficar sentado esperando aparecer escrito no céu o que ele deve fazer. Ele pode sim fazer planos, mas sabendo que necessita da direção e da resposta do Senhor para colocá-los em prática. Paulo e os outros estavam de viagem e tinham traçado um roteiro, porém o Senhor fechou algumas portas antes que abrisse aquela que era da vontade dele, pois Deus vê o fim do começo.

Alguém que não estivesse submisso à vontade do Senhor e sem uma comunhão estreita com ele ao ponto de discernir sua mão a dirigir tudo poderia dizer: “Ora, que mal há em anunciar a Palavra na Ásia? Acaso o Senhor não nos disse para irmos por todo o mundo pregando? E qual o problema de pregar na Bitínia? Eles precisam do evangelho tanto quanto qualquer outro! Vamos sim para a Ásia e para a Bitínia, custe o que custar!” Mas Paulo e os que estavam com ele tinham comunhão suficiente com o Senhor para discernirem quando Deus tinha fechado uma porta a fim de abrir outra. E o trabalho na Macedônia e seus frutos certamente viriam a confirmar isso.

(Sl 32:8-9) “Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos. Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti”.

A comunhão do crente com o Senhor deve ser ao ponto em que é a comunhão de um filho com o seu pai ou sua mãe. Muitos de nós tivemos a experiência de recebermos um mero olhar de nossos pais em algum lugar ou circunstância para sabermos exatamente o que fazer ou o que não fazer. Não foi preciso dizer nada. Bastou um olhar. Obviamente os que não são da família não entendem esse olhar, e assim é comum ocorrer essa comunicação secreta entre pais e filhos em ambientes onde existem outras pessoas sem que elas percebam.

A Lei foi dada para o homem na carne, pois a carne é que precisa de freio e cabresto como o cavalo e a mula. Mas o crente tem hoje o Espírito Santo habitando em si para dirigi-lo com o olhar de Deus. Obviamente o Espírito nunca irá se contradizer, ordenando que o crente faça algo contrário ao que ele determinou em sua Palavra, mas não é por regras que o crente anda, mas pelo Espírito.

(Sl 127:1) “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela”.

(Pv 21:31) “Prepara-se o cavalo para o dia da batalha, porém do Senhor vem a vitória”.

Estes dois versículos são uma exortação contra a inércia de alguns que acham que as coisas acontecem simplesmente sem qualquer comunhão do crente com o Senhor ou preparação nas coisas práticas. É o Senhor quem edifica a casa, mas os trabalhadores hábeis estão lá para assentar os tijolos. É o Senhor quem guarda a cidade, mas há sentinelas treinados e de prontidão para agirem. É o Senhor quem dá a vitória, mas o cavalo não vai para a batalha sem estar previamente treinado e preparado.

Assim é também em muitas áreas na vida do crente. Recebo muitos e-mails de pessoas que querem escrever um livro, e sempre pergunto: Você gosta de ler livros? A maioria diz que não e nem se lembra de qual foi o último livro que leu. Quem não gosta de ler não está preparado para escrever, por isso antes de querer escrever é preciso ler bastante, aprender redação, treinar, etc. Isso também vale para as coisas de Deus. De nada adianta alguém querer ir pregar o evangelho em um país estrangeiro se não estiver disposto a aprender uma língua estrangeira ou ao menos estar preparado para levar um intérprete.

Portanto, não basta querer, e também não basta o preparo; é preciso comunhão com Deus. Mas o querer pode às vezes não vir de Deus, mas da própria carne, como poderia ter sido o plano inicial de Paulo e dos outros, para o Espírito Santo os ter impedido de pregar em determinados lugares. Felizmente vemos que eles tinham comunhão suficiente para perceber isso e mudar de rota. Por isso não devemos depender do Senhor apenas para a realização de nosso querer, mas até para o próprio querer. Como saber? Às vezes é simples. Outro dia recebi um e-mail de alguém que queria saber o que fazer para se tornar um pregador famoso. Obviamente seu querer não vinha de Deus, mas da carne. Ele não estava interessado na glória de Deus mas na sua própria glória.

(Fp 2:13) “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”.

Portanto vimos que o Espírito Santo pode sim impedir a pregação do evangelho, independente de termos boas intenções, porque ele está enxergando o que nós não enxergamos. No contexto da passagem que você citou, antes de falar do impedimento causado por Satanás, há o impedimento dos incrédulos, que procuram barrar a obra do evangelho:

(1Ts 2:14-20) “Porque vós, irmãos, haveis sido feitos imitadores das igrejas de Deus que na Judéia estão em Jesus Cristo; porquanto também padecestes de vossos próprios concidadãos o mesmo que os judeus lhes fizeram a eles, Os quais também mataram o Senhor Jesus e os seus próprios profetas, e nos têm perseguido; e não agradam a Deus, e são contrários a todos os homens, e nos impedem de pregar aos gentios as palavras da salvação, a fim de encherem sempre a medida de seus pecados; mas a ira de Deus caiu sobre eles até ao fim. Nós, porém, irmãos, sendo privados de vós por um momento de tempo, de vista, mas não do coração, tanto mais procuramos com grande desejo ver o vosso rosto; Por isso bem quisemos uma e outra vez ir ter convosco, pelo menos eu, Paulo, mas Satanás no-lo impediu”.

Aparentemente os irmãos gregos estavam sofrendo de seus conterrâneos a mesma perseguição que os irmãos judeus sofriam daqueles de sua pátria, os quais também colocavam empecilhos a fim de impedir Paulo e outros de pregarem o evangelho aos gentios. Enquanto isso, Paulo era impedido por Satanás de visitar os santos em Tessalônica. Por quê?

A passagem não nos diz como Satanás causou esse impedimento, mas há diversas maneiras disso acontecer: pode ser por intermédio de circunstâncias que não dependiam de Paulo (por exemplo, ocorreu uma inundação, um vulcão entrou em erupção, etc.) ou de pessoas, sejam elas inimigas de Deus ou mesmo irmãos em Cristo. Quando Pedro advertiu o Senhor de que nada aconteceria a ele, após ouvir que ele seria morto, o Senhor precisou deixar claro que por detrás daquele pensamento de aparentes boas intenções estava o diabo soprando no ouvido de Pedro (Mc 8:33).

Há também em Neemias 6 um episódio em que os inimigos de Deus se fazem passar por amigos para atrapalhar a obra, mas Neemias não cai na conversa deles. É preciso discernimento para o cristão nunca aceitar ajuda externa para a obra de Deus, seja ela benefícios ou dinheiro. Abraão não quis nem uma correia da sandália do rei de Sodoma e João menciona aqueles que saíram na obra de Deus sem levar nada dos gentios. Aquilo que a princípio pode parecer um empurrão na obra do evangelho, irá mais tarde se revelar como “jugo desigual” (2 Co 6:14) e deixar o crente amarrado ao incrédulo e devendo favores a ele. Esta é mais uma das muitas formas da obra do evangelho ser impedida, além do impedimento direto do Espírito Santo, de homens vis ou do próprio Satanás.

É triste vermos hoje que a cristandade sucumbiu a esse espírito de ganância. É comum as chamadas “igrejas evangélicas” aceitarem contribuições de incrédulos, terrenos de prefeituras, favores de políticos, etc. A contrapartida é dar espaço a incrédulos em suas reuniões, o que é tão grave quanto entregar o microfone para um demônio pregar. Esse costume de fornicar com reis e príncipes é antigo e vem do romanismo. Recentemente mais um escândalo atingiu a igreja católica romana quando foi descoberto que a família de um criminoso mafioso pagou mais de um milhão de dólares para sepultá-lo dentro de uma basílica, ao lado de papas e cardeais. Cabe lembrar o que Deus diz da Babilônia, a mesma cristandade (a profissão exterior do cristianismo) que devia dar o testemunho de uma noiva pura, mas se transformou em prostituta:

(Ap 18:2-3) “E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável. Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição, e os reis da terra se prostituíram com ela; e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias”. (Leia todo o capítulo 18 para ver como ela se assemelha à atual cristandade com seus vínculos com o mundo em volúpia por riqueza e poder).

Quando estamos em comunhão com Deus, podemos ter certeza de que não faltarão meios e recursos, e de que nada poderá obstruir a obra de Deus. No final todas as coisas cooperarão para a glória de Deus. Acredito que assim foi especificamente neste caso de 1 Tessalonicenses 2, quando Paulo foi impedido por Satanás de visitar os Tessalonicenses. Qual o resultado desse impedimento? Impedido de viajar e ir pessoalmente, Paulo foi obrigado a escrever esta carta aos Tessalonicenses, a qual se transformou em um benefício infinitamente maior do que sua visita pessoal. Milhões de crentes em todo o mundo têm sido beneficiados por esta epístola nos últimos dois mil anos, a mesma epístola que foi escrita para compensar a impossibilidade de Paulo ir até lá dizer estas coisas a eles pessoalmente. Portanto, como diz o ditado, ainda que Satanás tenha rido primeiro, quem riu por último riu melhor.