Jesus não sabe quando vai voltar?

Sua dificuldade está em entender a passagem em Marcos 13:26-32: “E então verão vir o Filho do homem nas nuvens, com grande poder e glória... Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai”. Se Jesus era Deus, como ele podia dizer que não sabia o dia e a hora de sua própria vinda?

Faz sentido que nenhum homem, anjo ou profecia asteca tenha ideia de quando é esse dia e hora, mas se Jesus é Deus onisciente, isto é, sabedor de todas as coisas, como tal informação estaria fora de seu alcance.

Vamos deixar claro uma coisa: Jesus sempre foi Deus. Em um determinado ponto da história há cerca de dois mil anos ele se tornou Homem sem deixar de ser Deus. Sob aquela aparência de um perfeito Homem estava escondida a sua divindade, assim como a Arca da Aliança, feita de madeira (humanidade) e ouro (glória real e divina) era transportada coberta da vista humana sob três cobertas diferentes.

Primeiro vinha o véu, o mesmo que no tabernáculo mantinha a arca separada da visão dos homens (o véu foi rasgado quando Jesus morreu). Sobre este era colocada uma pele de texugo impermeável e rústica, que nos faz lembrar Isaías 53 que diz que Jesus era sem formosura e não havia nele beleza que nos agradasse. Por cima de tudo um pano azul, a cor do céu. Ou seja, apesar de não enxergarem o ouro glorioso da arca, todos sabiam que estava ali, sob aquelas cobertas, assim como sabemos que Jesus nunca abriu mão de sua divindade mesmo enquanto circulava por este mundo como Homem. Ainda que os homens só vissem em Jesus um ser humano comum e sem formosura, ele tinha um quê visível de sua origem celestial.

Mas se ele era Deus, ainda que oculto sob um corpo humano, como não tinha ciência do dia e hora de sua volta? A resposta pode estar em João 15:15: “O servo não sabe o que faz o seu senhor”. Jesus andou aqui como um perfeito Servo, portanto nessa condição e posição de “Filho do Homem” ele podia muito bem não ter tal informação. Como homem, ele tinha limitações inerentes à sua humanidade, e essas limitações só eram deixadas de lado com autorização do Pai, pois mesmo sendo sua vontade perfeita, ele nunca moveu uma palha que não fosse da vontade do Pai. Portanto, como Deus ele sabia, mas como Servo não lhe tinha sido dado conhecer tal informação para poder passá-la a outros.

Em Atos 1:7 diz: “Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder”. Agora compare outra vez com Jo 15:15 “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque TUDO quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer”. Na condição de Filho a informação do dia ou hora, ou dos tempos e estações, era uma que o Pai não lhe tinha confiado, pois se tivesse, ela faria parte do “tudo” que ele teria transmitido aos seus discípulos.

Tal expediente não é estranho em nossa vida aqui neste mundo. É comum vermos uma entrevista em que alguma autoridade, presidente, magistrado, etc., emite sua opinião para o repórter avisando antes que aquela é sua opinião como cidadão, e não como a autoridade que ele no exercício de suas funções. Eu me lembro do diretor que também era professor na faculdade onde estudei. Em suas reuniões com os professores ele costumava dar opiniões às vezes até contraditórias, avisando sempre de antemão que ora falava como diretor, ora como professor.

Portanto, como Filho do Homem e no momento em que andava neste mundo, vivendo em “modo Servo”, o conhecimento do dia e hora de sua vinda estava vedado a ele. Mas obviamente, em “modo Deus” ele jamais deixou de ser onisciente. Seria algo semelhante nos espantarmos de Jesus sentir fome e sede, ou até sofrer dor, se sabemos que fome, sede e dor são sensações que não fazem sentido Deus experimentar.