Que livro ler para entender a diferença entre Israel, Igreja e gentios?
Você perguntou qual livro deve ler para entender melhor a distinção que Deus faz entre Israel, Igreja e Gentios. Segundo o seu relato, por ter vindo de uma religião protestante fundamentalista, você aprendeu que hoje Israel já não teria mais lugar no plano de Deus e teria sido substituído pela Igreja, com o que você já não concorda. Este é um erro clássico de muitas denominações provenientes da Reforma Protestante, principalmente as que seguem a Teologia do Pacto.
Dentre estas estão as igrejas Católica, Ortodoxa, Luterana, Anglicana, Episcopal, Congregacional, Presbiteriana, Menonita, Cristã Reformada, etc. Alguns ramos de outras denominações também professam a Teologia do Pacto, como Metodista, Batista, Nazareno, Adventista, etc. Outras adotam a Teologia Dispensacionalista (que é como creio), embora mesmo entre essas existam distorções, como o pentecostalismo, e erros como os da série “Deixados para trás” de Tim LaHaye, que acredita na possibilidade de alguém ouvir o evangelho antes e ser salvo depois do arrebatamento, e também C. I. Scofield, que dividiu as dispensações mais por épocas do que por padrões governamentais e não abriu mão do clericalismo (ele próprio era “Reverendo”).
Mas a maioria das pessoas nem sequer sabe com certeza o que a denominação que seguem crê a respeito do assunto, já que muitos pregadores dedicam-se mais a evangelizar do que a falar sobre o que realmente creem com respeito aos acontecimentos futuros, assunto geralmente chamado de “escatologia”. Muitos pregadores do evangelho que hoje são bem conhecidos na Internet seguem a Teologia do Pacto, mas raramente você os vê tocar no assunto. Dentre eles estão John Piper, David Platt, Tim Keller, Paul Washer, Tim Conway, Kevin Williams, etc. Porém mesmo entre esses pregadores há erros que considero graves na forma como enxergam alguns pontos das Escrituras.
Por exemplo, John Piper deixa implícito em um de seus vídeos que seria possível Jesus pecar quando esteve no mundo. David Platt, jovem pastor de uma mega-church, prega um evangelho conhecido como “Salvação por Senhorio”, insistindo na caridade. No fundo é muito parecido com a “Teologia da Libertação” que a Igreja Católica patrocinava nos anos 70 e 80. David Platt lançou um best-seller chamado “Radical”, que é basicamente um resumo do que Tim Keller apresenta em seu livro “Ministries of Mercy”, que inclusive tem um capítulo chamado “Radical Ministries” e é todo voltado ao estabelecimento do Reino de Cristo no mundo mediante o esforço dos cristãos, individualmente, e da Igreja como uma instituição beneficente. Quem já ouviu falar de “Teologia do Domínio” percebe aonde essas ideias levam. Em um de seus sermões David Platt diz que “Deus mede a integridade de nossa fé por nossa preocupação para com os pobres... Se não existe preocupação com os pobres, não existe integridade de fé; as duas coisas andam juntas... Se você não alimenta o faminto e não veste o despido você vai para o inferno. É o que Jesus ensina”.
Paul Washer tem um evangelho misturado com arrependimento e aperfeiçoamento pessoal que não dá segurança nenhuma ao crente, ao contrário, faz com que fique o tempo todo olhando para si mesmo e não para Cristo. Ele prega uma espécie de evolução espiritual (é uma doutrina bem sutil, mas está lá no meio de seus textos e pregações). De Tim Conway eu vi um vídeo onde ele tentava refutar as dispensações e nem sequer entende o estado eterno. Alguém deixou na página o seguinte comentário sobre o vídeo:
“Ele não entende eternidade, ele pensa que ela tem um início e segue para sempre. Mas eternidade não é um lugar com tempo de sobra, eternidade é um lugar que não tem tempo e é o lugar da habitação de Deus. Se eternidade tivesse tempo Deus, que habita na eternidade, não seria eterno. Ele é um amilenialista professo e por isso é obrigado a espiritualizar tanto as escrituras para adequá-la ao seu pensamento que chega a ser insano. Se você perguntar a ele sobre Israel, a coisa fica ainda pior. O fato de ter sido necessária uma reforma do catolicismo romano não significa que todos os resultados da reforma foram corretos. Não foram. Na verdade, a doutrina reformada precisa ser reformada outra vez”.
Bob Jennings segue a mesma linha da teologia do pacto ou da aliança, que não vê mais um futuro para Israel e “espiritualiza” as promessas feitas por Deus a Israel no Antigo Testamento tentando encaixá-las na igreja. Kevin Williams não foge à regra. O anúncio de um de seus áudios resume em poucos tópicos o que creem os pregadores e as denominações que adotam a “Teologia do Pacto”, obviamente com algumas variantes:
“Neste sermão mostramos como as Escrituras ensinam claramente que:
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Deus não tem duas esposas, Israel e Igreja, mas um povo em Jesus Cristo.
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Quando Cristo voltar iniciará a era eterna e não um reino temporário de 1000 anos.
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Quaisquer judeus que estejam fora de Jesus Cristo não são povo de Deus”.
Não me entenda mal: não estou julgando as PESSOAS, pois esses pregadores são servos de Deus e têm sido usados como instrumentos na salvação de muitas pessoas. Eu mesmo gosto de ouvir alguns deles quando se limitam a pregar o evangelho da graça. O que estou julgando é a DOUTRINA deles, o que a Bíblia diz claramente para fazermos, e você fará bem se julgar também as coisas que eu digo.
(1 Co 14:29) “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”.
Mas acabei me distanciando de sua pergunta, que foi que livro ler para entender a distinção entre Israel, Igreja e Gentios. Bem, não conheço um livro melhor para isso do que a própria Bíblia. Ela é tão clara sobre essas distinções que chega a ser vergonhoso alguém contestar tais diferenças.
A razão dos desvios criados pela Teologia do Pacto (às vezes chamada de Teologia da Substituição por substituir Israel por Igreja) se deve muito à maneira como interpretam as Escrituras. No que diz respeito às profecias já cumpridas, todos concordam mais ou menos que elas se cumpriram literalmente. Ou seja, o que Deus disse que faria, ele fez. Mas quando o assunto são as profecias ainda a serem cumpridas, a maioria deles acredita que sejam alegóricas ou simbólicas, e não literais.
Assim adotam um método de interpretação bíblica que dá margem a tirar qualquer conclusão. Um teólogo do Pacto lhe dirá, obviamente com linguagem mais rebuscada, que quando você encontrar na Bíblia a palavra “Israel”, deverá entender como sendo “Igreja”, pois na opinião dele esta seria a sucessora legal de Israel na terra. A dificuldade de tal interpretação está em como espiritualizar a reconstrução do templo de Jerusalém que é profetizada em detalhes pelos profetas do Antigo Testamento, inclusive com instruções sobre o sacrifício de animais, e qual seria o objetivo de a Igreja ter um templo em Jerusalém. Até algumas edições da Bíblia Almeida Corrigida em português trazem um subtítulo em Isaías 54 que diz: “O progresso e a glória da Igreja”, ignorando completamente que a Igreja era um mistério oculto até dos profetas do Antigo Testamento e só revelado muito mais tarde a Paulo.
Já um dispensacionalista lhe dirá que quando ler “Israel” deve entender “Israel” e quando ler “Igreja” deve entender “Igreja”. Simples assim. Vou dar um exemplo das implicações da Teologia do Pacto. Imagine o Antigo Testamento como um Testamento mesmo, de alguém que deixou bens e promessas para seus familiares. Então vem um advogado e insiste que os bens que foram prometidos ao João deverão ficar com a Maria, porque agora o nome “João” deve ser lido como “Maria”. É o que a Teologia do Pacto tenta fazer com Israel, alegando que Israel só terá direito às promessas que foram dadas àquela nação no Antigo Testamento se contrair matrimônio com Maria, isto é, se aceitar fazer parte da Igreja do Novo Testamento.
Eu entendo que a menos que o contexto esteja mostrando claramente tratar-se de uma parábola, alegoria ou símbolo, devemos ler a Bíblia de forma literal. Obviamente quando Jesus diz “eu sou a porta”, não é literal, pois está usando linguagem alegórica ou poética, mas quando fala em Apocalipse7 de uma multidão de 144 mil de todas as tribos de Israel, só pode ser literal, pois mais específico e literal do que citar tribo por tribo é impossível. O reino de mil anos de Apocalipse 20 também deve ser interpretado literalmente como um período de tempo, e não de forma alegórica como querem os teólogos do Pacto.
E o céu? Bem eu vou morar lá, mas muitos da Teologia do Pacto acreditam que não, pois estão tentando melhorar o mundo, expandir o evangelho, converter todas as nações ao ponto de um dia Cristo poder voltar. Em todas as épocas, quaisquer responsabilidades dadas por Deus aos homens acabaram em ruína. É uma ingenuidade acreditar que os cristãos irão conseguir transformar este mundo em um paraíso cristão e convencer os muçulmanos a se batizarem. Eu estou é mais aguardando a vinda do Senhor para tirar sua Igreja da terra antes da tribulação, para depois voltar com ele para cá quando vier julgar as nações e estabelecer seu Reino de justiça que durará mil anos, antes que venha o Grande Trono Branco e o Estado Eterno.