Como surgiu o diabo?

A Bíblia não dá muitas explicações sobre a origem de Satanás, mas obviamente ele foi originalmente um anjo criado por Deus. A porção mais detalhada de sua história pode ser encontrada em Ezequiel 28, onde o profeta fala do Rei de Tiro.

Do versículo 1 ao 10 tudo o que é dito pode ser aplicado a um ser humano, representado ali pelo Rei de Tiro, cujo caráter ímpio e o orgulho de querer ser um deus podem ser atribuídos também ao diabo. A partir do versículo 11 fica claro que o assunto é um ser sobre-humano, o próprio Satanás, que pode estar ali apresentado como aquele que estaria por detrás e energizando o Rei de Tiro humano em suas pretensões.

No versículo 12 vemos que o diabo foi criado em perfeição, cheio de sabedoria e formosura. No vers. 13 ele desfrutou do privilégio de estar no Jardim do Éden. Diz também que ele foi adornado com pedras preciosas. No vers. 14 é chamado de “querubim ungido” um título de proeminência, com livre acesso à presença de Deus. Porém, apesar de ter sido criado sem pecado, ele pecou por orgulhar-se do que era (vers. 15). Como consequência do seu pecado, Satanás perdeu sua posição elevada e foi lançado fora da habitação de Deus e julgado, sendo finalmente lançado em terra (como costuma acontecer na profecia, aqui o futuro pode estar mesclado com o passado em relação ao ponto que nós hoje ocupamos na história).

Portanto Satanás foi criado por Deus (inclua-se aí o Pai, o Filho e o Espírito Santo) e recebeu também de Deus sua posição, autoridade e poder (Cl 1:15-16). Juntamente com os demais anjos, ele foi criado antes de Deus criar a terra (“Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam?”, veja que emJó 38 os anjos, chamados ali de “filhos de Deus”, assistiram a criação da terra).

A queda de Satanás se deu em algum momento depois da criação do versículo 1 de Gênesis 1, e antes da criação (ou restauração) descrita a partir do versículo 3 de Gênesis, já que no versículo 2 encontramos a terra “sem forma e vazia” ou, numa tradução literal, um verdadeiro caos em um universo privado de luz que incluía ainda um abismo (sem forma, vazia, trevas e abismo são elementos estranhos à perfeição de Deus e sempre estão associados ao pecado e à ruína). Sabemos que Deus não criou a terra assim, pois isto nos é dito em Isaías:

(Gn 1:1-2) “No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”.

(Is 45:18) “Porque assim diz o Senhor que tem criado os céus, o Deus que formou a terra, e a fez; ele a confirmou, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada: Eu sou o Senhor e não há outro”.

Linguagem semelhante de uma terra devastada em razão de uma queda ou pecado pode ser encontrada quando Deus fala da ruína de Judá:

(Jr 4:22) (ou 23 em algumas versões) “Observei a terra, e eis que era sem forma e vazia; também os céus, e não tinham a sua luz”.

Portanto, numa cronologia de conjecturas pessoais, eu diria que 1) Deus criou os anjos, o Universo, a terra, e seres que a habitassem (não sabemos como eram); 2) Satanás se rebelou levando consigo outros anjos e seres, talvez os habitantes da terra de então, que hoje são chamados de demônios ou espíritos imundos (as florestas e animais que deram origem aos fósseis podem ser dessa época); 3) caiu juízo de Deus sobre os anjos, espíritos imundos e a terra, e o Universo mergulhou em um estado de caos e escuridão por incontáveis eras; 4) Deus chamou a luz de volta à cena e passou a restaurar a terra nos seis dias descritos em Gênesis para ser a habitação do homem.

Os anjos foram todos criados apenas uma vez, portanto os de hoje são os mesmos que sempre existiram, já que não têm condições de procriarem entre eles. Porém alguns podem ter assumido a forma humana, o que lhes permitiu procriar com mulheres humanas, conforme nos é mostrado em Gênesis 6, numa união descrita como “filhos de Deus” com “filhas dos homens”, dando origem a seres humanos dotados de poderes especiais. Podem vir daí as lendas de “deuses” dos antigos gregos, romanos, egípcios, indianos, etc. (Gn 6:4). Deus condenou os anjos que agiram assim e estão presos no abismo (2 Pe 2:4, Judas 1:6), enquanto seus descendentes acabaram destruídos pelo dilúvio (Gn 6:7).

O termo “filho de Deus” é usado na Bíblia para as criaturas produzidas a partir de uma ação direta de Deus, como os anjos (Jó 1:6, 38:7) e Adão (Lc 3:38 — originário de Deus). Jesus é Deus, o Filho Eterno de Deus, portanto sempre existiu nessa condição sem nunca ter sido criado (ele é criador), mas em sua humanidade e num corpo de carne ele é chamado de Filho de Deus, por ter sido gerado do Espírito Santo de Deus no ventre de Maria (Lc 1:35). Os que nascem de novo pela fé em Jesus também são chamados de filhos de Deus (Jo 1:12), aos quais Jesus, depois de ressuscitado e referindo-se à nova vida em ressurreição que eles têm, os chama de “irmãos” (Jo 20:17, Hebreus 2:11). Fora isso, ninguém mais pode ser chamado de “filho de Deus” (a popular frase “eu também sou filho de Deus” só poderia ser dita por anjos, por Adão, por Jesus e pelos que verdadeiramente creem em Cristo, mais ninguém).

Não sabemos o número de anjos que estão por aí, mas podemos dividi-los entre os que nunca se rebelaram, os que se rebelaram, porém ainda estão livres dividindo seu tempo entre as regiões celestiais e a terra (Satanás é visto com acesso a Deus em Jó 1:6), e os que estão presos no abismo. Há também os demônios ou espíritos malignos, que parecem ser uma diferente espécie de seres espirituais, que temem serem lançados no abismo onde estão os anjos que deixaram sua forma original (Lc 8:31).