Como Deus pode perdoar alguém como eu?

Você diz que “mais difícil ainda é aceitar que o Senhor pode perdoar alguém como eu”. Ótimo, você quase me convenceu de que está humilhado, mas não está. Quem é você para dizer quem Deus pode ou não perdoar? Você está fazendo de conta que é Caim.

Caim podia até parecer humilde, mas era o contrário. Essa atitude é soberba. Você se considera importante demais para Deus perdoá-lo nas condições que ele estabeleceu. Tem medo de quê? De perder sua racionalidade? De ficar sem seu cobertorzinho de auto piedade com o qual costuma dormir? Crianças costumam ter um cobertorzinho assim, sem o qual não conseguem dormir.

Deus deu todas as chances para Caim se arrepender e ser salvo, mas ele não queria ser salvo! Caim considerou seu pecado grande demais para “merecer” perdão. É, ele achava que precisava merecer o perdão de Deus.

(Gn 4:13) “Então disse Caim ao Senhor: É maior a minha maldade que a que possa ser perdoada”.

Ele acrescenta algo mais à sentença que Deus lhe deu, de que seria errante na terra. Deus diz: “Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra”, mas Caim acrescenta algo: “Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e vagabundo [peregrino, errante] na terra, e será que todo aquele que me achar, me matará” (Gn 4:12-14).

Deus não o expulsou da terra e nem fechou para ele a possibilidade de se encontrar com Deus, como Caim diz, e nem ordenou que alguém o matasse. Ao contrário, já antes Deus tinha deixado claro que o perdão estava à disposição de Caim quando quisesse fazer a coisa certa, e a coisa certa depois de matar seu irmão seria se arrepender e voltar-se para Deus, como o filho pródigo que voltou para o pai sem ter nada a oferecer além de seus pecados:

(Gn 4:7) “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito?”.

E para provar seu amor por Caim, Deus afirma que o castigo para alguém que matar Caim será sete vezes maior até do que o de um homicida comum, e Caim era um homicida comum, e providencia para que ninguém encoste um dedo nele:

(Gn 4:15) “O Senhor, porém, disse-lhe: Portanto qualquer que matar a Caim, sete vezes será castigado. E pós o Senhor um sinal em Caim, para que o não ferisse qualquer que o achasse”.

Mas no fundo Caim não acreditava em nada disso e nem mesmo na condição de alguém sem morada certa que Deus havia dito que ele seria. Tanto é que logo constitui família, e não só isso: Caim constrói a primeira cidade e coloca nela o nome de seu filho. Construir uma cidade não é exatamente o que se espera de alguém que afirma: “serei fugitivo e vagabundo na terra”.

Você escreveu: “Sei que o Senhor Jesus morreu por mim, para me salvar, para que eu pudesse ser liberto. Mas meu coração não sabe disso... Meu coração burro insiste em me condenar... Eu entrego minha vida e meu caminho nas mãos do Senhor. Mas minhas mãos não tem coragem para largar as rédeas da minha vida”.

Então você ainda não percebeu que está morto, pois se existem tantas possibilidades de se “defender” da graça e do amor de Deus, e de suas mãos permanecerem agarradas às rédeas, isto significa que está tentando algo de vontade própria. Pode ser que você esteja na situação do homem de Romanos 7:

(Rm 7:20-23) “Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros”.

Este homem conhece a salvação, mas não a libertação. Ele só vai ser liberto ao reconhecer, no versículo 24, que é um cadáver ambulante, uma espécie de zumbi dos filmes da moda:

(Rm 7:24) “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”.

É somente com este reconhecimento e convicção que se pode chegar ao brado do versículo 25 e ao entendimento da salvação que é detalhado no capítulo 8 de Romanos:

(Rm 7:25) “Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado”.

Você ainda está confiando na carne, embora confie nela de uma maneira estranha: acha que ela é ruim demais para Deus perdoá-lo. A questão é que a carne não é só ruim demais, ela está morta, acabada aos olhos de Deus, que colocou um fim na velha criação. Que zumbi é esse que está tentando manter-se no controle em total oposição à graça de Deus?

Você termina dizendo: “Me sinto tão culpado e insignificante...”. Discordo. Você pode sentir-se culpado, mas não insignificante. E como poderia se ainda resiste a Deus?! Isso nada mais é do que soberba disfarçada de autopiedade e comiseração.

(Tg 4:6) “Antes, ele dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”.

Quem você acha que está colocando em você essa sensação de miséria? O Espírito Santo de Deus, tentando convencê-lo a render-se de vez nos braços do Salvador. Deixar-se salvar.

(Atos 7:51) “Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais”.