Por que devemos comprar a verdade?
Sua dúvida é sobre Provérbios 23:23 que diz para comprarmos a verdade e não a vendermos. Quando pagamos por algo conhecemos o seu valor e não iremos querer perder. Quando os primeiros missionários protestantes chegaram ao Brasil, sua principal atividade era distribuir Bíblias, Novos Testamentos, Evangelhos e outras porções das Escrituras. Eles eram conhecidos como “colportores”.
A palavra “colportor” vem do francês e significa aquele que “transporta no pescoço”, isto é, em uma bolsa a tiracolo. A princípio era usada para qualquer vendedor ambulante que fosse de porta em porta oferecer seus produtos, mas o termo acabou identificando mais os distribuidores de literatura religiosa. Assim, os missionários que vinham ao Brasil eram também colportores, distribuidores de Bíblias.
A Bíblia ainda não era impressa no Brasil, o que só aconteceria durante a Segunda Guerra Mundial e, ainda por cima, com papel de cigarro emprestado de uma indústria do tabaco, pois com a guerra o papel fino não era facilmente encontrado. É preciso lembrar também que a impressão de textos, livros, jornais e revistas era proibida no Brasil até 1808, quando ocorreu a chegada da família real.
A proibição da imprensa no Brasil era por pressão da igreja católica, que tentava impedir que os habitantes das colônias portuguesas tivessem acesso a informações e ideias que pudessem colocar em risco seu domínio sobre o povo. Por isso livros e jornais precisavam ser impressos em outros países e contrabandeados para o Brasil, correndo o risco de serem confiscados e seus distribuidores presos.
Para suprir a falta de Bíblias, a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, fundada em 1804, e a Sociedade Bíblia Americana, fundada em 1816, passaram a enviar seus colportores. “A sociedade inglesa começou a enviar Bíblias para o Brasil de modo regular poucos anos antes da independência. Essas Bíblias, impressas na Inglaterra, geralmente eram na versão do padre Antônio Pereira de Figueiredo, visando facilitar a sua aceitação no ambiente católico. Inicialmente foram trazidas por capitães de navios, comerciantes e diplomatas. Mais tarde as sociedades bíblicas passaram a ter os seus próprios agentes no Brasil”.
Porém havia um problema em distribuir gratuitamente Bíblias no Brasil. Naquela época o catolicismo proibia a leitura da Bíblia pelos leigos, por isso quando o padre sabia que alguém tinha ganhado uma Bíblia ia lá pedir para a pessoa a fim de queimá-la. Isso quando o colportor não era preso, espancado pelos fanáticos a mando do pároco, ou até mesmo morto.
Então os missionários descobriram que se a Bíblia tivesse um preço, as pessoas não as entregariam tão facilmente para os padres. Iriam escondê-las em casa e passariam a ler as Escrituras escondidos do pároco, porque entenderiam que era algo que tinha valor, que tinha custado algo para terem acesso a elas.
O problema era que a maioria das pessoas era pobre e vivia na base do escambo, ou seja, fazendo trocas para obter os gêneros de primeira necessidade. Então os colportores eram instruídos a sempre oferecer a Bíblia pedindo algo em troca, geralmente coisas que custavam bem menos que a Bíblia, mas que assim mesmo mostravam ao leitor que foi preciso pagar algo pelo livro. Geralmente eles pegavam em troca um pedaço de rapadura, algumas bananas ou laranjas, alguma verdura, etc.
(Pv 23:23) “Compra a verdade, e não a vendas; e também a sabedoria, a instrução e o entendimento”.
É claro que dinheiro nenhum pode pagar pela verdade, cujo valor é infinito e ela só pode nos ser dada graciosamente por Deus. Mas devemos ter esse sentimento de que seu preço é alto e não querermos abrir mão dela por nada deste mundo. Vender a verdade significa desprezá-la e passar a achar que outras coisas desta vida têm mais valor.
Não é só a verdade que devemos “comprar” aqui, mas também “a sabedoria, a instrução e o entendimento”. Portanto, se você quiser viver segundo a verdade, com sabedoria, ser instruído por Deus e entender quando Deus fala a você por meio da Palavra, acate esta exortação: “Compra a verdade, e não a vendas”.