Foi a tradição católica que nos legou o Novo Testamento?
O argumento católico é que foi graças à tradição dos papas que o cânon do Novo Testamento chegou até nós, e que por isso teríamos que seguir a igreja católica romana por ser ela supostamente a depositária, tanto da Palavra de Deus, como da tradição dos “santos padres” que nos legaram as escrituras do Novo Testamento. Tal argumento desmorona por si mesmo por substituir Deus pelo homem.
Assim como Deus usou homens imperfeitos para escrever sua Palavra perfeita, ele usou homens imperfeitos para juntarem o cânon dos livros sagrados que temos hoje. E Deus decidiu o que incluir e o que não incluir, fazendo desaparecer alguns documentos e permitindo que outros resistissem ao tempo. Por exemplo, a primeira carta de Paulo aos Coríntios que temos em nossa Bíblia não é realmente a primeira, mas no mínimo a segunda:
(1 Co 5:9) “Já lhes disse por carta que vocês não devem associar-se com pessoas imorais”. (Esta carta foi antes de 1 Coríntios).
Por algum motivo Deus não quis que esta carta que Paulo menciona chegasse até nós, como não quis que muitas outras fizessem parte do Novo Testamento que temos. É o caso também da carta aos Laodicenses:
(Cl 4:16) “E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodiceia lede-a vós também”. (A carta que ele escreveu aos laodicenses nunca chegou até nós).
Portanto, se tivermos que dar crédito aos homens do princípio do cristianismo por terem, em seu próprio poder e sabedoria, decidido o que incluir no cânon sagrado, criaremos um problema ainda maior e mais difícil de resolver. Isto porque teremos que dar crédito aos apóstolos por terem escrito os evangelhos e as epístolas, e também aos profetas do Antigo Testamento por terem escrito as Escrituras, como se fossem eles “os caras”, os que realmente deram origem à Palavra de Deus. Ou seja, tudo não passará de obra de homens imperfeitos e aí não poderemos confiar de jeito nenhum nas Escrituras do Antigo e Novo Testamento.
Mas se confiamos que os homens imperfeitos foram meros instrumentos nas mãos de Deus para que chegasse até nós a Palavra perfeita, então de que se gloriam os servos? De terem algo de si mesmos que lhes dá qualquer tipo de vantagem ou poder? A vanglória humana é sempre detestável aos olhos de Deus.
(1 Co 3:5-7) “Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento”.
(1 Co 4:1-2) “Que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. Além disso, requer-se dos despenseiros que cada um se ache fiel”.
(1 Co 4:6-7) “E eu, irmãos, apliquei estas coisas, por semelhança, a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro. Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?”.
Quanto aos versículos que citou, no qual o apóstolo exorta os irmãos a seguirem a tradição que ele deixou, é preciso ler o contexto todo para ver que ele não está falando de algum tipo de “tradição de infalibilidade papal” ou coisa semelhante. Ele está simplesmente dizendo para seguirem seu modo de agir como o de alguém que trabalhava para ganhar o próprio pão e não comia de graça à custa dos irmãos.
(2Ts 3:6-8) “Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu. Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós, nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós”.
Em outro momento ele disse que não cobiçava nem prata, nem ouro e nem vestidos. Basta isso para perceber que Paulo não tinha nada a ver com um homem que hoje se diz Sumo Pontífice, que não trabalha com as próprias mãos para se sustentar, e ainda usa vestidos caríssimos, joias de ouro e de prata e tem até um trono todo revestido de ouro para se sentar. Como alguém que se diz cristão poderia ser tão cego ao ponto de seguir as tradições de um homem que se apresenta em tamanho contraste com o verdadeiro Sumo Pastor, Jesus, que neste mundo não tinha sequer onde repousar a cabeça e cujas vestes não passavam de uma túnica e roupas simples?!
(Atos 20:33-35) “De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem o vestuário. Sim, vós mesmos sabeis que para o que me era necessário a mim, e aos que estão comigo, estas mãos me serviram. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”.