As promessas feitas a Israel agora são para a Igreja?

Depois de publicar “Que livro ler para entender a diferença entre Israel, Igreja e gentios?” lembrei-me de um episódio que ocorreu em 2011, quando participava de uma conferência de irmãos congregados somente ao nome do Senhor nos EUA. Encontrei-me com um irmão que conheço há muitos anos e ele me contou de sua visita a um museu do Holocausto em Israel, onde existe uma lista das pessoas que ajudaram a salvar judeus durante a 2a. Guerra Mundial. Ele ficou surpreso ao encontrar lá o nome de John Nelson Darby, que obviamente viveu bem antes da 2a. Guerra.

O guia do museu explicou que sua influência entre os cristãos do sul da França foi tão grande que milhares de judeus (cerca de 4 mil em uma comunidade de apenas 24 mil habitantes) foram escondidos nas casas e fazendas de irmãos que acreditavam ser Israel o povo escolhido por Deus e rejeitavam a “Teologia da Substituição” professada pela maioria das denominações católicas e protestantes. Essa teologia diz que as promessas de Deus para Israel ficaram sendo para a Igreja e, portanto, no futuro não existe um lugar na terra prometido para Israel. Tal lugar seria da Igreja.

Pesquisei por [“Darby” + “Le Chambon”] e descobri que existe muito material sobre o assunto. Um dos textos em http://www.cwi.org.uk/library/articles/HAING.html diz:

“Quando as igrejas de toda a Europa cederam ao Nazismo e passaram a cooperar com a ‘Solução Final’, na vila de Le Chambon-sur-Lignon ao sudeste de Vichy, França, havia uma comunidade de religiosos protestantes que rejeitavam a Teologia da Substituição, acreditando que os judeus eram o povo escolhido de Deus. Em meio ao genocídio, a teologia dos ‘Irmãos de Plymouth’ fez com que famílias cristãs recebessem o povo judeu” (do livro “Standing with Israel”, David Brog, pg. 134).

“De acordo com Mordecai Paldiel de Yad Vashem, os ‘atos de justiça’ dos aldeões ‘darbytas’ de Le Cambon-sur-Lignon foram provavelmente o caso mais conhecido de caridade cristã na história do holocausto. Conforme W. Graham Scroogie definiu de forma memorável, ‘A Bíblia não tem nada a ver com verdade abstrata’. Creio sinceramente na importância da verdade e da pureza de doutrina. Não sou um membro dos ‘Irmãos’ e nem sou um ‘Dispensacionalista’ e nem, usando a definição de Paul Wilkinson*, um ‘Cristão Sionista’. Todavia, se formos julgar a pureza das doutrinas por seus resultados práticos, a teologia de Darby faz infinitamente mais sentido do que muitos de seus teologicamente sofisticados e esnobes detratores”.

(*Livro citado: “For Zion’s Sake: Christian Zionism and the Role of John Nelson Darby”, Paul Richard Wilkinson).

Outro texto encontrado na Web mencionava uma porção do livro “Lest Innocent Blood Be Shed: The Story of the Village of Le Chambon and How Goodness Happened There” de Philip Hallie (Observação: O autor do livro usa a expressão “darbysta”, com a qual os irmãos congregados ao nome do Senhor não concordam):

“O modo como um ‘darbysta’ recebeu uma mulher judia em sua casa revela o modo como a Bíblia funcionava no meio deles: certa vez, no início da ocupação, uma refugiada alemã judia chegou a uma fazenda de ‘darbystas’ querendo comprar ovos no ‘mercado negro’ que existia nas fazendas mais remotas por causa do racionamento. Ela foi convidada a entrar na cozinha e, em voz baixa, a mulher que a convidou a entrar perguntou, com os olhos brilhando de interesse: ‘Você... você é judia?’”.

A mulher, que já havia sido torturada por ser judia, deu um passo atrás, trêmula, e ficou ainda mais apavorada quando a outra subiu correndo as escadas chamando: ‘Marido, filhos, venham, desçam!’. Mas o pavor da mulher judia desapareceu quando a outra acrescentou, à medida que a família descia: ‘Vejam, vejam, família! Temos em nossa casa uma representante do Povo Escolhido!’. A mulher ‘darbysta’ enxergava a estranha perseguida em sua casa com uma perspectiva totalmente diferente daquela do governo de Vichy. A ajuda que ela prestou não foi no sentido de se opor ao governo, mas de obedecer a uma autoridade superior”.