As pessoas irão morrer no céu?
Sua dúvida, após ler Isaías 65:20, é saber se haverá morte no céu. Esta é a grande dificuldade da maioria dos cristãos por não entenderem as dispensações e as diferentes promessas feitas a Israel e à Igreja. Israel é o povo terreno de Deus que, embora esteja no momento deixado de lado por sua desobediência, voltará a ser tratado por Deus depois do arrebatamento da Igreja. Vamos ver o versículo dentro do contexto:
(Is 65:19-25) “E exultarei em Jerusalém, e me alegrarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor. Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não cumpra os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; porém o pecador de cem anos será amaldiçoado. E edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu fruto. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque os dias do meu povo serão como os dias da árvore, e os meus eleitos gozarão das obras das suas mãos. Não trabalharão debalde, nem terão filhos para a perturbação; porque são a posteridade bendita do Senhor, e os seus descendentes estarão com eles. E será que antes que clamem eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei. O lobo e o cordeiro se apascentarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; e pó será a comida da serpente. Não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor”.
Observe que esta cena se passa na terra, e não no céu. No céu ninguém precisará plantar ou comer, e não haverá animais. Também não será preciso edificar casas e nem haverá quem morra aos cem anos ou pecador. Esta é uma descrição do reino de Cristo na terra, quando ele voltar para salvar o seu povo Israel e cumprir todas as promessas que fez para aquele povo no Antigo Testamento.
Esta é a vinda que ocorre após ele ter vindo até metade do caminho -- nos ares -- para se encontrar com os que serão ressuscitados ou transformados para habitarem no céu. À vinda em que o Senhor vem para buscar sua Igreja nos ares damos o nome de arrebatamento e é dela que fala 1 Tessalonicenses 4:13-18. A vinda de Jesus para o mundo e para Israel é a descrita em 2 Tessalonicenses 2:8. Entre o arrebatamento da Igreja e a vinda de Cristo para reinar ocorre o que está descrito em 2Ts 2:2-12, Mateus 24:7-51, Mateus 25:31:46 e outras passagens.
No Antigo Testamento não havia sido feita ainda a revelação da Igreja, portanto você não ouvirá falar ali dos santos aos quais foi prometido o céu. Todas as promessas são para a terra, uma terra transformada, mas ainda assim na terra. Os evangelhos também ainda são para os judeus, portanto ali também fala do reino de mil anos na terra, no qual entrarão não pessoas ressuscitadas, mas no próprio corpo natural. Obviamente, por a terra ser transformada, essas pessoas terão saúde perfeita, não serão mais tentadas exteriormente (Satanás está preso durante mil anos) e se obedecerem aos mandamentos, viverão. Esta era a promessa que acompanhava a lei dada a Moisés:
(Lv 18:5) “Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, observando-os o homem, viverá por eles. Eu sou o Senhor”.
Esse “viverá” é no sentido de não morrer, e não de uma promessa de vida eterna no céu. Do mesmo modo, quando você lê em Mateus 24 que “aquele que perseverar até ao fim será salvo” (vers. 13) e “se aqueles dias [da grande tribulação] não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria” (vers. 22), está falando de salvação do corpo, da vida natural, de pessoas vivas que entrarão vivas no reino milenial de Cristo na terra, e não da salvação eterna que hoje é prometida no céu a todo aquele que crê em Jesus.
Os descritos em Mateus 24 e 25 serão judeus (veja que Mateus 24 fala da Judéia), os “pequeninos irmãos” do Senhor, que se converterão durante a tribulação, e entrarão no reino juntamente com as “ovelhas”, os gentios de Mateus 25 que acolherão e protegerão o remanescente de judeus perseguidos durante a grande tribulação. Os “bodes”, que perseguirão o remanescente judeu fiel serão mortos e condenados antes da inauguração do reino de mil anos.
Sendo assim, as promessas de vida que você encontra no Antigo Testamento não são de vida eterna e foram feitas a esses israelitas, e não à Igreja que não havia sido revelada ainda (era um segredo que só seria revelado a Paulo e aos outros apóstolos depois da formação da Igreja em Pentecostes - Atos 2).
O reino de Cristo na terra será um reino como se ele o tivesse estabelecido se ele tivesse sido recebido pelos judeus quando esteve aqui. Haverá cidades, plantações, governos, estradas, meios de transporte e tudo o que você encontra na civilização atual, exceto que Satanás não poderá interferir em nada. Mesmo assim, as pessoas estarão vivendo em seus corpos naturais e perecíveis, apesar de gozarem de uma saúde perfeita e terem acesso a curas que não temos hoje. Porém, aqueles que mesmo assim pecarem serão mortos.
No livro “Acontecimentos Proféticos”, de Bruce Anstey, o juízo e pena de morte decorrente do pecado nesse tempo é descrito assim:
“Se o mal se manifestar durante o reino de Cristo (o Milênio), ele será julgado abertamente assim que surgir. Aqueles que pecarem, pecarão sem um tentador, pois Satanás estará em cadeias nessa ocasião. Um pergaminho voador de juízo (linguagem simbólica) sairá do Senhor para percorrer toda a terra e cair sobre qualquer um que praticar o mal. Essa erradicação dos pecadores da terra ocorrerá todas as manhãs ao longo dos mil anos de reinado de Cristo”. Os versículos citados para demonstrar isso são estes:
(Zc 5:1-4) “E outra vez levantei os meus olhos, e vi, e eis um rolo volante. E disse-me o anjo: Que vês? E eu disse: Vejo um rolo volante, que tem vinte côvados de comprido e dez côvados de largo. Então disse-me: Esta é a maldição que sairá pela face de toda a terra; porque qualquer que furtar, será desarraigado, conforme está estabelecido de um lado do rolo; como também qualquer que jurar falsamente, será desarraigado, conforme está estabelecido do outro lado do rolo. Eu a farei sair, disse o Senhor dos Exércitos, e ela entrará na casa do ladrão, e na casa do que jurar falsamente pelo meu nome; e permanecerá no meio da sua casa, e a consumirá juntamente com a sua madeira e com as suas pedras”.
(Sl 101:3-8) “Não porei coisa má diante dos meus olhos. Odeio a obra daqueles que se desviam; não se me pegará a mim. Um coração perverso se apartará de mim; não conhecerei o homem mau. Aquele que murmura do seu próximo às escondidas, eu o destruirei; aquele que tem olhar altivo e coração soberbo, não suportarei. Os meus olhos estarão sobre os fiéis da terra, para que se assentem comigo; o que anda num caminho reto, esse me servirá. O que usa de engano não ficará dentro da minha casa; o que fala mentiras não estará firme perante os meus olhos. Pela manhã destruirei todos os ímpios da terra, para desarraigar da cidade do Senhor todos os que praticam a iniquidade”.
(Sf 3:5) “O Senhor é justo no meio dela; ele não comete iniquidade; cada manhã traz o seu juízo à luz; nunca falta; mas o perverso não conhece a vergonha” [aqui apresentado como um princípio, mas que será colocado totalmente em prática no milênio].
(Sl 34:12) “Quem é o homem que deseja a vida, que quer largos dias para ver o bem? Guarda a tua língua do mal, e os teus lábios de falarem o engano. Aparta-te do mal, e faze o bem; procura a paz, e segue-a. Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos ao seu clamor. A face do Senhor está contra os que fazem o mal, para desarraigar da terra a memória deles”.
Obviamente nada disso acontecerá no céu, onde não existirá morte e a Igreja estará com Cristo reinando juntamente com ele sobre a terra (e não “na terra”).
(Ap 5:10) “E para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra”.
Hoje as pessoas pedem por um mundo de mais justiça, mas poucos entendem que um mundo com justiça perfeita será assim, com juízo implacável a cada manhã contra quem pecar. Tudo isso foi previsto para Israel e assim será. A maioria dos cristãos, porém, não entende essa diferença e tenta se apossar das promessas que Deus fez a Israel no Antigo Testamento como se fossem promessas para a Igreja.
Alguns querem as promessas de prosperidade e enchem igrejas pentecostais em busca disso, quando nenhuma prosperidade foi prometida à Igreja nas epístolas dos apóstolos. Outros querem as promessas de poder e enviam suas tropas para invadir países com o argumento de que o mundo precisa ser cristianizado. Foi assim nos séculos de trevas do catolicismo e ainda é assim, de forma velada, pela política expansionista norte-americana. Enquanto isso Israel na sua incredulidade tenta se firmar na terra prometida por seus próprios esforços e com a ajuda dos Estados Unidos, porém não foi essa volta à terra que Deus lhes prometeu, em incredulidade e fundamentada no poder das armas.