Como pode o Espírito Santo habitar no ser humano?
Sua dúvida é de como o Espírito Santo pode habitar no crente considerando que este ainda está em um corpo de carne e sujeito a pecar. No Antigo Testamento o Espírito Santo estava com os santos de Deus, mas nunca habitou permanentemente em um deles. Por esta razão Davi podia dizer: “Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo” (Sl 51:11). O Espírito que agia em Davi não habitava nele de forma permanente, daí a possibilidade de perdê-lo.
Isso mudou a partir de Atos 2. O Senhor Jesus já havia avisado seus discípulos de que o Espírito Santo, que estava com eles, habitaria neles, e que isso seria para sempre, ou seja, não haveria mais a possibilidade de perder o Espírito Santo, que é o selo ou garantia da salvação de todo aquele que crê em Jesus.
(Jo 14:16-17) “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco [naquele momento em que Jesus falava estas palavras], e estará em vós [a partir do dia de Pentecostes em Atos 2]”.
(Ef 1:12-14) “Com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo; Em quem também vós estais, depois que [1] ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, [2] tendo nele também crido, [3] fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória”.
O Espírito Santo veio habitar na terra no dia de Pentecostes, quando passou a habitar nos crentes individualmente e na igreja coletivamente. Mas para isso Cristo precisava morrer e ressuscitar, para que o problema do pecado fosse resolvido. O Espírito habita naqueles que já foram purificados de seu pecado graças à lavagem da água (Palavra de Deus) e do sangue da expiação. O Espírito vem habitar no homem, mas não sem que este seja antes purificado de seu pecado e salvo pela fé em Jesus.
(Atos 2:1-4) “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”.
Para tratar de sua dúvida, ou seja, de como o Espírito pode habitar em seres imperfeitos como nós, ainda que salvos por Cristo e purificados por seu precioso sangue, é bom entender a diferença da habitação do Espírito em Cristo e no crente. Em sua entrada no mundo como um ser humano, Jesus foi gerado pelo Espírito Santo no ventre da virgem Maria. Ele foi o único ser humano (embora fosse Deus) a ser gerado dessa forma.
(Lc 1:34-35) “E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço homem algum? E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus”.
Ao iniciar seu ministério Jesus se deixa batizar por João Batista, que pregava um batismo de arrependimento, muito embora o próprio Senhor não tivesse de que se arrepender, por ser sem pecado e incapaz de pecar (por ser Deus, além de Homem). Mas assim o Senhor quis fazer para que se cumprisse toda a justiça. Ele quis se colocar no mesmo lugar em que as suas criaturas se colocavam naquele batismo, como mais tarde iria se colocar no lugar do juízo de Deus que era destinado às suas criaturas, para salvá-las desse juízo.
(Mt 3:14-17) “Mas João opunha-se-lhe, dizendo: Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim? Jesus, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele o permitiu. E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”.
Ao sair da água o Espírito Santo desceu sobre Jesus na forma de uma pomba, que é o símbolo da paz. Perceba então que, como Homem, Jesus também recebeu o Espírito Santo como os crentes receberiam a partir do dia de Pentecostes, o qual o capacitava para o seu ministério. É importante notar que, apesar de ser Deus e uma Pessoa da santíssima Trindade, Jesus esteve o tempo todo na terra em sujeição ao Pai e sob a direção do Espírito. Não havia nele qualquer ação que fosse tomada a partir de sua própria vontade, apesar dessa vontade ser perfeita como era a vontade do Pai.
(Jo 6:38) “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”.
É notória a ação do Espírito Santo em cada passo do Senhor Jesus no início do evangelho de Lucas:
(Lc 2:27; 3:22; 4:1, 14, 18) “E pelo Espírito foi ao templo... E o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba... E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto... Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galileia... O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu...”.
Resumindo, Jesus, como Homem, recebeu o Espírito Santo no início do seu ministério na terra, e este desceu sobre si em forma corpórea de uma pomba, em paz. Nenhum crente recebe o Espírito Santo da forma como Jesus recebeu. Ao vir habitar no mundo, na igreja coletivamente e no crente individualmente, o Espírito Santo desceu de forma inaugural sobre aqueles cento e poucos crentes em forma de línguas como de fogo, símbolo de juízo e purificação.
Percebe a diferença? A pomba é um símbolo da paz e o fogo é um símbolo do juízo. Jesus, sem pecado e sem a natureza pecaminosa de Adão, recebeu o Espírito de forma pacífica e viveu aqui assim: sem qualquer conflito entre o seu ser e o Espírito que estava em si. O crente, pecador redimido, recebeu o Espírito Santo em um caráter de juízo, de um fogo purificador, e o Espírito habitará o crente em um constante conflito porque este ainda vive em um corpo de carne sujeito a pecar, algo muito diferente do que ocorria com o Senhor, que foi gerado sem a natureza pecaminosa.
(1 Co 3:16) “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”.
(Gl 4:29) “Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é também agora”.
(Gl 5:17) “Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis”.
Apesar de termos o Espírito hoje em nós, ainda estamos em um corpo de carne sujeito a pecar, e quando isso acontece entristecemos o Espírito que habita em nós (ele não sai de nós, mas é entristecido).
(Ef 4:30) “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção”.