Jeová seria o Pai de Jesus?

Os diferentes nomes que Deus assume na Bíblia podem nos confundir. Em algumas situações Jeová aparece como Pai de Jesus, como no Salmos 2, e em outras, o próprio Jesus aparece como Jeová, já que seu nome significa “Jeová, o Salvador” ou “Jeová Salva”. É preciso entender que o nome está associado ao caráter como Deus se apresenta nas diferentes ocasiões.

Achar que em todas as situações na Bíblia Jeová é um, e Jesus é outro, poderia nos levar ao politeísmo, já que iremos encontrar dezenas de nomes usados para Deus, como Elohim, El, Shaday, Adonai, etc., mas cada um obviamente representando um diferente caráter da manifestação de Deus, mas nunca um diferente Deus.

Devemos sempre ter em mente que na Bíblia Jeová é o nome como Deus se relaciona com os homens, com o mundo e especialmente com Israel. É também o nome como Deus se revela como sendo eterno e imutável, independente do tempo, o “Eu Sou”, expressão usada tanto por Jeová ao apresentar-se a Moisés, como por Jesus ao apresentar-se aos religiosos de seu tempo (Jo 8:24, 28, 58).

No Antigo Testamento vemos uma mudança, quando Deus deixa de se relacionar como o Criador que usa o nome Elohim em Gênesis 1, passando ser “Jeová Elohim” em Gn 2 ao iniciar seu relacionamento com o homem. Em Gênesis 6:13 é Elohim quem ordena a Noé para construir a arca (porque a Criação é que será destruída), mas em Gn 7:16 é Jeová quem mantém a família de Noé do lado de dentro, pois agora seu relacionamento é com os seres humanos remanescentes e também com o caráter de juízo que tem o fechamento da porta da arca.

(Gn 6:12-14) “Viu Elohim a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne tinha corrompido o seu caminho sobre a terra. Disse Elohim a Noé: Hei resolvido dar cabo de toda a carne, porque a terra está cheia da violência dos homens: eis que eu os farei perecer juntamente com a terra. Faze para ti uma arca de madeira de gofer...”.

(Gn 7:16) “Os que entraram, entraram macho e fêmea de toda a carne, como Deus lhe ordenará; e Jeová o fechou dentro”.

Infelizmente em muitas versões, Jeová aparece traduzido simplesmente como “Senhor” ou “Deus”, fazendo com que o leitor perca de vista tais nuances. O que nunca devemos perder de vista é que Deus é eternamente Pai, Filho e Espírito Santo, daí encontrarmos em diferentes ocasiões as Pessoas da Trindade.

O Pai é Deus (Fp 2:11; 1 Tessalonicenses 1:1, etc.). O Senhor Jesus é Deus (Is 9:6; Mateus 1:23; Jo 1:1; Romanos 9:5; Filipenses 2:6; Colossenses 2:9; 1 Timóteo 3:16; Hebreus 1:8, etc.). O Espírito Santo é Deus, pois o vemos mover-se sobre as águas em Gênesis 1:2, vemos Ananias mentindo ao Espírito Santo, portanto a Deus, e Safira mentindo ao Espírito do Senhor (Atos 5:3, 4, 9), e encontramos o “Espírito de Deus” em 1 Coríntios 2:11; 1 Co 3:16, e chamado também de “Espírito de Cristo” em Romanos 8:9 e 1 Pedro1:11. Vemos também que o Pai enviou o Filho ao mundo; que o Pai enviou o Espírito Santo e o Senhor Jesus enviou o Espírito Santo, e o próprio Espírito desceu do céu. Portanto, o Espírito é uma Pessoa divina, assim como o Pai e o Filho. Mesmo assim, há um só Deus.

Voltando à questão do nome de Jeová, no Salmos 2 Jesus é apresentado como Filho de Jeová:

(Sl 2:6-12) “Eu, porém, tenho estabelecido o meu rei Em Sião, meu santo monte. Falarei acerca do decreto: Jeová disse-me: Tu és meu filho; Eu hoje te gerei. Pede-me, que te darei as nações por tua herança, E as extremidades da terra por tua possessão. Tu as quebrarás com uma vara de ferro, Fá-las-ás em pedaços como vaso de oleiro. Agora, pois, ó reis, fazei-vos prudentes; Deixai-vos instruir, juízes da terra. Servi a Jeová com temor, E regozijai-vos com tremor. Beijai ao filho, para que não se ire, E pereçais no caminho, Porque em breve se acenderá a sua ira, Felizes são todos os que nele se refugiam”.

Já no Salmos 102, na versão Almeida da Sociedade Bíblica Britânica, que não substituiu “Jeová” por “Senhor”, encontramos alternadamente as vozes de Jeová, Jesus e o Espírito Santo:

(Sl 102:1-11) “Ouve, Jeová, a minha súplica, E chegue a ti o meu clamor”. (Do versículo 1 ao 12 é Jesus na cruz clamando a Deus).

(Sl 102:12-15) “Mas tu, Jeová, estás entronizado para sempre. E o teu memorial vai de geração em geração”. (Agora é Deus quem responde a Jesus chamando-o de “Jeová”, traduzido como “Senhor” em algumas versões, e assegurando que ele será entronizado para sempre).

(Sl 102:16-22) “Quando Jeová tiver edificado a Sião, Tiver aparecido na sua glória”. (Agora é possivelmente o Espírito Santo quem fala de Jesus vindo em glória, pois já não fala na primeira ou segunda pessoa, mas na terceira pessoa).

(Sl 102:23) “Ele abateu a minha força no caminho, Encurtou os meus dias”. (Mais uma vez é Jesus falando e dizendo “Deus meu, não me leves no meio dos meus dias...”).

J. N. Darby, ao comentar o Salmos 102 em sua “Sinopse”, diz:

“O Cristo, o desprezado e rejeitado Jesus, é Jeová o Criador. O Jeová do qual ouvimos que viria, é Cristo que veio. O Ancião de Dias vem, e Ele é Cristo, embora também Filho do homem. Este contraste da extrema humilhação e isolamento de Cristo, e de sua natureza divina, é incomparavelmente estarrecedor”.

W. J. Hocking, editor que sucedeu William Kelly na publicação de “Bible Treasury”, escreve em “The Son of His Love”:

“No Novo Testamento lemos do Filho do Pai e no Antigo Testamento do Filho de Jeová. O Pai é o Nome divino associado com o amor de Deus demonstrado em sua família, e Jeová é o Nome associado ao governo de Deus do mundo por meio da nação de Israel.” W. J. Hocking.

Darby complementa em “The Hopes of the Church of God”, explicando:

“Uma mesma pessoa pode ser rei de um país e pai de uma família; e esta é a diferença entre o modo de agir de Deus para conosco e para com os judeus. Para com a igreja Deus é apresentado o caráter do Pai; para com os judeus, é no caráter de Jeová, o Rei. Sua fidelidade, imutabilidade, poder excelso, governo de toda a terra, tudo isso é revelado em seu relacionamento para com Israel; é deste modo que a história de seu povo nos apresenta o caráter de Jeová” J. N. Darby.

Deus aparece manifestado em diferentes nomes ao longo da Bíblia e precisamos entender em que caráter cada nome é manifestado. Por isso encontramos Jesus como Jeová e também Jeová como Pai (embora não Jesus como Pai), pois Jeová é o nome divino em seu caráter de tratamento com Israel e o mundo.