Judas foi salvo?

É difícil para qualquer um dizer quem foi salvo e quem não foi salvo. Eu particularmente acredito que Judas não foi salvo, pois ele era claramente o filho da perdição. O arrependimento dele foi igual ao de Caim e é como o arrependimento do bandido que é preso ou do beberrão numa ressaca. Não é um arrependimento causado pela consciência do ato, mas das consequências.

Se o bandido não fosse preso e se tudo desse certo para ele, não teria se arrependido. O bandido não se arrepende do crime, mas do crime ter dado errado. Ele se arrepende das consequências de seu crime, não do crime em si. O beberrão não se arrepende de ter bebido demais, mas porque o exagero na bebida causou ressaca. Quando esta passar ele estará pronto para voltar a beber.

Por alguma razão as coisas não deram como Judas planejou e seu desapontamento o levou ao desespero. Em Mateus diz que ele se “arrepende” depois de ver que Jesus foi condenado, portanto podemos imaginar que Judas achou que a história teria outro desfecho e que ele sairia com o dinheiro e continuaria amigo de Jesus.

(Mt 27:3) “Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos,”.

Em Atos diz que ele foi para o “seu próprio lugar”, e como ele é chamado de “filho da perdição” posso supor que Judas tenha sido condenado ao hades e será lançado no lago de fogo no dia do juízo.

(Jo 17:12) “Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse”.

O versículo em 2 Coríntios7 mostra que existe um arrependimento que é segundo Deus e que existe uma tristeza que é segundo o mundo e que leva à morte. Acredito que esta seja a grande diferença do arrependimento, por exemplo, de Pedro, que foi segundo Deus (afinal, ele negou o Senhor), e o remorso de Judas, que teve sua honra manchada, seu orgulho ferido pela recusa dos sacerdotes de aceitarem de volta o dinheiro e sua reputação destruída aos olhos de todos. Judas suicidou-se de vergonha por causa do mal que seu ato causou, não a Jesus, mas a si mesmo.

(2 Co 7:10) “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte”.

Mesmo assim, não é Judas quem deveria ser considerado o maior vilão da história, e sim os sacerdotes. Judas foi um peão no tabuleiro onde havia peças mais importantes agindo, as quais não sentiram sequer o remorso que Judas sentiu. Foram pessoas tão iníquas que certamente ocuparão um lugar pior que o de Judas na condenação. Quando Judas tentou devolver as moedas a esses mesmos homens, vemos que eles não tinham um pingo de consciência de sua responsabilidade no caso:

(Mt 27:3-4) “Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, Dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo”.

Os príncipes e anciãos dos judeus, bem como todo o povo que os seguiam, estavam tão seguros de que Deus jamais os alcançaria, que lavraram sua própria sentença:

(Mt 27:25) “E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”.

É por isso que, em seu julgamento, Jesus mostra que nem mesmo Pilatos tinha uma responsabilidade tão grande quanto à do clero e dos judeus:

(Jo 19:11) “Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem”.

Esta passagem mostra que existem graus de culpabilidade, pois os judeus, representados pelo sumo-sacerdote, eram mais culpados que Pilatos por conhecerem que o Messias viria e teria as mesmas credenciais apresentadas por Jesus ao longo de seu ministério. Numa escala crescente de culpa eu colocaria em último Pilatos, depois o povo, depois Judas e no topo da pirâmide os sacerdotes e anciãos encabeçados pelo sumo-sacerdote.

O Salmos abaixo mostra o que se passa no coração dos ímpios, o mesmo que deve ter passado no coração daqueles sacerdotes e também de Judas:

(Sl 10:6-11) “Diz em seu coração: Não serei abalado, porque nunca me verei na adversidade. [O ímpio só considera que será abalado se as coisas saírem erradas]. A sua boca está cheia de imprecações, de enganos e de astúcia [ele é tão confiante em sua capacidade de enganar que acaba enganando a si próprio]; debaixo da sua língua há malícia e maldade. Põe-se de emboscada nas aldeias; nos lugares ocultos mata o inocente; os seus olhos estão ocultamente fixos sobre o pobre [perceba que eles ocultam seu intento de prejudicar os mais fracos]. Arma ciladas no esconderijo, como o leão no seu covil; arma ciladas para roubar o pobre; rouba-o, prendendo-o na sua rede. Encolhe-se, abaixa-se, para que os pobres caiam em suas fortes garras. Diz em seu coração: Deus esqueceu-se, cobriu o seu rosto, e nunca isto verá”.