O milagre de Jesus incitava a embriaguez?

Não, Jesus não estava incitando a embriaguez nos convidados na festa de casamento de Caná ao transformar água em vinho. Mesmo assim, era vinho alcoólico mesmo, só que muito melhor do que o bom vinho que tinha sido servido até ali e cujo estoque acabou. O vinho fazia parte da alimentação dos povos do Oriente Médio, como mais tarde passou a fazer parte da alimentação dos povos europeus. Como neto de italianos fui criado em uma família que sempre teve vinho na mesa nas refeições, mas nunca vi meus pais embriagados, e eu e minhas irmãs tínhamos costume de beber “sangria”, ou vinho com água e açúcar na presença de nossos pais.

Só existia vinho alcoólico no tempo de Jesus. Os vinhos não alcoólicos que você encontra hoje são vinhos alcoólicos que passam por um complicado processo de retirada do álcool. Sucos de uva eram inviáveis na época, pois não existiam refrigeradores ou o processo de pasteurização que impede o suco de fermentar. O problema é que muitos cristãos norte-americanos, descendentes dos puritanos e metodistas que saíram da Inglaterra, criaram a noção de que beber vinho é pecado. Os puritanos, apesar de não proibirem a bebida, exerciam um rigoroso controle sobre o hábito de beber.

Os metodistas que vieram depois de John Wesley baniram o álcool completamente de entre os membros de suas congregações, e foi daí que se originou a noção que muitos cristãos protestantes têm hoje de que beber álcool em qualquer quantidade seja pecado. Essa ideia acabou se espalhando por muitas denominações, apesar de cristãos de denominações mais antigas, como as diferentes divisões do catolicismo, continuarem não tendo restrições a não ser contra o abuso da bebida alcoólica. É sabido que os monges católicos de todas as épocas foram grandes produtores de vinho e cerveja de qualidade em seus mosteiros (a cerveja talvez seja uma bebida alcoólica tão antiga quanto o vinho e já era utilizada pelos antigos Sumérios).

Portanto, embriagar-se é pecado, beber vinho não.

(1 Co 11:21) “Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro embriaga-se”. (Isto mostra que o vinho era utilizado na ceia do Senhor em Corinto).

(Ef 5:18) “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito;”.

Do mesmo modo, glutonaria é pecado, comer refeições todos os dias para se manter vivo não.

(Pv 23:2) “E se és homem de grande apetite, põe uma faca à tua garganta”.

(Lc 21:34) “E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia”.

A embriaguez e a glutonaria são ambas condenadas na Palavra de Deus, mas nós não paramos de comer por isso. Você não disse nada sobre Jesus ter multiplicado os pães e os peixes, sob a alegação de que com isso ele poderia estar incentivando a glutonaria. O problema está no excesso, tanto de bebida quanto de comida, e é isto que é condenado pela Palavra de Deus:

(Dt 21:20) “E dirão aos anciãos da cidade: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz; é um comilão e um beberrão”.

(Pv 23:20-21) “Não estejas entre os beberrões de vinho, nem entre os comilões de carne. Porque o beberrão e o comilão acabarão na pobreza; e a sonolência os faz vestir-se de trapos”.

A glutonaria e a embriaguez aparecem lado a lado junto com outros pecados chamados de “obras da carne”, como adultério, prostituição, idolatria, feitiçaria, e homicídios:

(Gl 5:19-21) “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus”.

Algumas situações que me ocorrem agora de quando o cristão não deveria beber álcool de jeito nenhum seriam:

  • Antes de dirigir (o que é também proibido pela legislação), por diminuir seus reflexos;

  • Quando na presença de outros irmãos que têm restrições à bebida ou que já tiveram problemas com o alcoolismo, por isso poder servir de escândalo ou tropeço para eles;

  • Com crianças e jovens, se perceber que isto poderá levá-los a uma prática para a qual eles ainda não têm o devido controle ou discernimento quanto aos excessos;

  • Entre incrédulos que se reúnem para beber. Não estou me referindo a um jantar ou celebração, como em um casamento, mas a reuniões em bares.