Como devem ser os que ministram?

Você leu a resposta que dei a outra pessoa, com o título “Quem pode falar nas reuniões” e concluiu: “Tem ministros da palavra que exortam e explicam as coisas de Deus na assembleia; assim está de acordo com que apregoa Paulo para se tornar um ministro em 1 Timóteo 3 (os requisitos do ministério)”. É importante frisar que 1 Timóteo 3 não está falando de requisitos ou qualificação de quem ministra a Palavra nas reuniões, ainda que as características ali sejam aconselháveis. Em 1 Timóteo 3 Paulo fala dos que zelam pelo rebanho (bispos, anciãos ou presbíteros).

Nas reuniões da assembleia são os dons que são manifestos, não os ofícios (como bispos, anciãos ou presbíteros). As religiões elegeram seus próprios bispos ou presbíteros e os transformaram em dirigentes ou ministros da Palavra em suas reuniões, criando assim uma espécie de clero com exclusividade no ministério da Palavra. Mas ainda que um bispo ou presbítero tivesse também um dom de ministrar a Palavra, o ministério nas reuniões não está restrito a eles, mas é aberto aos dons. É por isso que em 1 Coríntios 14:29-31 diz “todos”, ressalvando que esses “todos” precisam ser antes conhecidos e reconhecidos pelos irmãos como pessoas que professam a sã doutrina.

(1 Co 14:29-31) “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados”.

Em Atos e nas epístolas vemos que a função dos bispos ou anciãos era de zelar pela assembleia local. Sua esfera de ação era local (e não universal como eram os dons de profeta, apóstolo, evangelista, pastor e mestre ou doutor) e um bispo não precisava ter necessariamente um dom relacionado ao ministério da Palavra. O bispo ou presbítero precisava ser apto para ensinar, mas isso não significava que precisava fazê-lo em público, podendo ser um irmão sábio para admoestar pessoas individualmente ou escrevendo cartas de exortação àqueles que estivessem se desviando, consolar os fracos e encorajar os irmãos de um modo geral.

Sua função era o que podemos chamar de administrativa-espiritual e de vigilância e cuidado do rebanho. Os bispos (presbíteros ou anciãos) eram também eleitos pelos apóstolos ou por indicação direta deles (não temos mais apóstolos hoje) e eram eleitos “de cidade em cidade”, como na ordem que Paulo deu expressamente a Tito (e não a mim nem a você):

(Tt 1:5) “Por esta causa [eu, Paulo] te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te [a ti, Tito] mandei”.

Hoje não temos mais apóstolos para eleger bispos ou presbíteros ou anciãos (os nomes significam a mesma coisa), mas continuamos tendo o Espírito Santo para escolher aqueles que ele quer para que tenham zelo sobre o rebanho de Deus. Podem ser irmãos reconhecidos pela assembleia, mas não são eleitos, ordenados ou denominados como tais.

(Atos 20:28) “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”.

Num estado de divisão em que hoje vivemos seria até pretensão chamar oficialmente “bispos” ou “presbíteros” homens cuja ação está limitada a apenas uma pequena parcela de todos os cristãos que vivem numa cidade. No início os bispos ou presbíteros eram eleitos pelos apóstolos ou por seus comissionados para assumirem a responsabilidade sobre TODOS os santos em uma determinada cidade, e não apenas sobre um grupo deles. E por ser um ofício local, o bispo da assembleia em uma cidade não era bispo em outra assembleia. Sua “jurisdição”, se podemos chamar assim, era exclusivamente dentro de sua assembleia.

Resumindo, não existe hoje uma ordenação de bispos (presbíteros ou anciãos). E nunca, sim, NUNCA, existiu uma ordenação de dons como evangelistas, pastores e mestres, já que estes são designados diretamente pelo Senhor ressuscitado a partir dos céus. Se alguém ordenar você “evangelista” ou “pastor” ou “mestre” tal ordenação feita por homens não tem qualquer efeito se você não tiver um desses dons. E se você tiver recebido de Cristo qualquer um desses dons, nenhum homem poderá dizer o contrário.

(Ef 4:8, 11-12) “Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, E deu dons aos homens E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;”.

Ao contrário dos bispos, cuja atuação era local, os dons dados por Cristo são universais. Assim como um profeta ou apóstolo (os que lançaram os fundamentos da igreja e não estão mais entre nós) tinha uma esfera de atuação universal, assim também são os evangelistas, pastores e mestres, que foram dados para “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”. Ou seja, um bispo de Éfeso só era bispo em Éfeso, mas um evangelista, pastor ou mestre que morasse em Éfeso era evangelista, pastor ou mestre onde quer que estivesse.

Por isso é tão fora de ordem alguém dizer que é pastor da igreja tal na cidade tal, a menos que esteja se referindo ao ofício de bispo ou presbítero. Mas neste caso não haveria apenas um, pois a função aparece sempre no plural, e jamais ele seria visto dirigindo as reuniões ou tendo a exclusividade do ministério da Palavra. Tal função (o pastor singular que é ordenado para dirigir uma congregação) não existe na doutrina dos apóstolos.

Não existem intermediários ou intermediação (seja de homens ou escolas de teologia) na dispensação que Cristo faz dos dons do Espírito. Pode apenas existir um reconhecimento dos irmãos, que percebem como Deus usa aquele irmão (que foi o caso da imposição de mãos sobre Timóteo em 1 Timóteo 4:14), mas nunca uma ordenação ou oficialização do dom. Portanto, o que eu escrevi em “Quem pode falar nas reuniões” tem a ver apenas com o cuidado que a assembleia deve ter com os que ministram (os dons), pois ainda que uma pessoa tenha um dom para o ministério da Palavra, ela pode estar contaminada com erros e más doutrinas, as quais a assembleia tem o dever de julgar e o poder de impedir que sejam trazidas nas reuniões.

Quanto aos diáconos, que foi sua outra pergunta, eles tinham o papel de cuidar dos aspectos administrativos materiais da assembleia, enquanto os bispos cuidavam dos aspectos administrativos espirituais. Numa linguagem prática, enquanto os bispos podiam ser aqueles que detectassem necessidades espirituais, os diáconos deviam estar atentos às necessidades materiais da assembleia. Estes seriam os responsáveis por servir os necessitados e atender tudo o que diz respeito ao conforto material da assembleia. Entendo que, assim como no caso dos bispos, hoje seria pretensioso demais nomear diáconos, mas não deixamos de tê-los por reconhecer irmãos que são mais preocupados e ocupados com essas tarefas do que outros. Certamente é o mesmo Espírito que coloca no coração de uns o zelo pelo conforto espiritual da assembleia, e de outros o zelo pelo conforto material.