A pena de morte em Israel era por apedrejamento ou crucificação?

A pena de morte em Israel costumava ser por apedrejamento, não crucificação, que era um costume romano e de outros povos. Então por que vemos no Antigo Testamento uma previsão para o que fazer com o que fosse pendurado no madeiro? Esta dúvida levou você a indagar se a pena de morte em Israel não seria também por crucificação.

(Dt 21:22-23) “Quando também em alguém houver pecado, digno do juízo de morte, e for morto, e o pendurares num madeiro, o seu cadáver não permanecerá no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto o pendurado é maldito de Deus; assim não contaminarás a tua terra, que o Senhor teu Deus te dá em herança”.

A mesma palavra (“ates”) no original usada em Deuteronômio 21:22 também é usada em Josué 8:29 ao descrever um enforcamento, as pessoas eram penduradas no “madeiro”. Nas passagens do Antigo Testamento a palavra “ates” é utilizada indiferentemente para estaca, lenha ou árvore. Em Gênesis 22:6 ela aparece traduzida por “lenha” na versão Almeida, quando fala de Abraão colocando sobre seu filho Isaque o “madeiro” que seria utilizado no holocausto. Aqui temos uma figura de Cristo subindo para ser crucificado ou pregado no madeiro. A palavra “lenha” de Gênesis 22:9, quando Abraão amarra seu filho para sacrificá-lo, é o mesmo “madeiro” em hebraico “ates”.

Perdemos muito com a tradução, pois dá para ver, por exemplo, em Gênesis 18:8, que Abraão e o Senhor estão comendo à sombra do “madeiro” (traduzido como “árvore” em nossas versões), o que nos leva a pensar em como Deus já fazia questão de apontar o lugar onde o seu Filho iria terminar nos Evangelhos.

Em Israel, depois de uma pessoa ser morta por apedrejamento, espada, lança etc., o corpo morto podia eventualmente ser pendurado em uma árvore ou madeiro como símbolo de vergonha e desonra. Isto é dado a entender no versículo 22 acima, “e for morto, e o pendurares num madeiro”, que está falando de um corpo pendurado no madeiro, não necessariamente tendo sido morto ali.

Em Josué 10:26-27 vemos que pessoas eram enforcadas em madeiros (ou árvores), mas não eram tiradas dali pelo restante do dia, ficando como um espetáculo público da própria desonra. Nada disso é estranho a nós brasileiros, quando sabemos que Tiradentes, depois de enforcado (em uma forca ou “madeiro” na concepção do Antigo Testamento), teve seu corpo desmembrado e os membros pendurados em postes (madeiros) para exposição pública.

O formato do madeiro nas passagens bíblicas, estaca, cruz, “T”, “X”, não é especificado e não é tão importante quanto seu significado. Na conversa com Nicodemos, o Senhor Jesus fez referência à sua morte mencionando que seria como a serpente de bronze que tinha sido levantada no deserto, o que indica que ele estava comparando a cruz ou “madeiro” (“ates”) à “haste” (“nace”) sobre a qual a serpente de bronze foi levantada. Ainda que no Antigo Testamento sejam usadas palavras diferentes para “madeiro” (“ates”) e “haste” (“nace”) aprendemos com isto que o princípio e simbolismo são o que importa, e não a coisa em si, seu formato ou o material de que é feito.

O madeiro, portanto, não tem qualquer poder como objeto, mas é o que aconteceu ali que importa. Infelizmente, assim como os israelitas fizeram mais tarde com a serpente de bronze, transformando-a em objeto de idolatria (2 Rs 18:4), hoje milhões de cristãos veneram a cruz de madeira, como se existisse nela qualquer poder sobrenatural, ou a utilizam como um talismã para sorte e proteção. Isto é tão ruim quanto a idolatria e o culto à serpente de bronze de 2 Reis, a que ganhou até nome de um deus: “Neustã”.

Juntando tudo, podemos dizer que, além de morrer por nós, o Senhor sofreu a humilhação da reprovação pública, ao ficar pendurado no madeiro. A Lei considerava uma pessoa naquela situação maldita, e assim Jesus também foi feito maldição em nosso lugar. Na Lei, quem ficava pendurado no madeiro deixava claro estar pagando ali por uma afronta contra Deus, e Jesus fez isso mesmo, ao assumir nossos pecados e morrer na cruz como se ele próprio tivesse desobedecido a Deus, apesar de sabermos que ele era, em si mesmo, sem pecado, por ser o Filho de Deus.

(Gl 3:13) “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;”.

(Hb 12:2) “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus”.