Como pode Jesus ter sido Jeová?

Sua dúvida é como poderia o Jesus do Novo Testamento, que você descreve como amoroso, bondoso, longânimo, humilde, poderoso em obras, ter sido o Jeová do Antigo Testamento, o Deus severo que mata, guerreia e destrói cidades. Esta dúvida aflige muitos leitores sinceros da Bíblia, mas a resposta é que pode e é. O Jesus amoroso dos evangelhos é o mesmo Jeová poderoso do Antigo Testamento. E Jesus é também o guerreiro glorioso que você encontra no Apocalipse montado em um cavalo branco e de cuja boca sai “uma espada afiada para com ela ferir as nações; ele as regerá com uma vara de ferro, e ele é o que pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-poderoso”.

Um soldado do BOPE, quando sobe o morro do Rio para invadir uma favela e matar bandidos, é uma pessoa (no sentido de “persona” ou identidade que assume). Quando chega em casa é outra. Porém é o mesmo ser humano, apenas adotando um caráter diferente no tratamento com as diferentes pessoas com quem deve lidar. Com os bandidos ele precisa usar de força e matar quando preciso. Quando em casa, ele revela o seu amor para com sua esposa e filhos. Assim é o contraste que você encontra entre o Jeová do Antigo Testamento, o Jesus dos evangelhos, e o mesmo Jesus do Apocalipse.

Se ler Gênesis 18 verá Jeová aparecendo em forma humana a Abraão e comendo e bebendo com ele como se estivesse em família. Mas o mesmo Jeová em breve lançaria fogo e enxofre sobre Sodoma e Gomorra, enquanto teria o cuidado de livrar Ló e sua família, e ainda de avisar Abraão de seus planos.

(Gn 18:17-18) “Disse Jeová: Ocultarei eu a Abraão o que faço; visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e por meio dele serão benditas todas as nações da terra?”.

O mesmo Jeová que se apresenta severo em algumas circunstâncias no Antigo Testamento é também aquele que se senta para conversar e comer com Abraão, se preocupa em revelar-lhe seus planos e ainda se dá ao trabalho de ouvir pacientemente Abraão negociando a salvação das cidades. Ele provavelmente não as teria destruído se Abraão falasse em 5 justos (o número de Ló, esposa e filhas).

A ideia de que Jeová do Antigo Testamento não poderia ser Jesus do Novo Testamento começou com Arius, um bispo que foi excomungado, e acabou se ramificando em diversas teorias, uma das quais é a das Testemunhas de Jeová. Isso é o que é chamado de “Arianismo”, uma heresia antiga que surgiu entre os cristãos do terceiro século.

Não há como fugir do fato de que Jeová é Jesus e Jesus é Jeová. Se você não crê nisso então não crê na divindade de Cristo ou não crê na divindade de Jeová ou então crê em uma forma de politeísmo. O problema não fica resolvido, mas ao contrário, se transforma num problema maior e sem solução.

Não precisamos de muitas passagens para confirmar que Jeová e Jesus são um e o mesmo Deus:

(Is 40:3) “Eis a voz do que clama: Preparai no deserto o caminho de Jeová, endireitai no ermo uma estrada para o nosso Deus”.

(Mt 3:3) “Pois é a João que se refere o que foi dito pelo profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor (Kurios), Endireitai as suas veredas”.

Quem é o Senhor de Mateus 3:3? O mesmo Jeová de Isaías 40:3. Não há como ser diferente.

(Is 44:6) “Assim diz Jeová, rei de Israel, e o seu Redentor, Jeová dos exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último, fora de mim não há Deus”.

Considerando que sabemos que Jesus é rei de Israel e Redentor, ou ele é também Jeová ou sua divindade é colocada em dúvida, já que Jeová diz que “fora de mim não há Deus”.

O profeta Joel falou de Jeová:

(Jl 2:32) “Acontecerá que todo aquele que invocar o nome de Jeová será libertado;”.

E Pedro deixou claro que o profeta Joel estava falando de Jesus:

(Atos 2:16-21) “Mas cumpre-se o que dissera o profeta Joel: ...E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”.

Paulo também usa da mesma profecia, sem, porém citar o profeta:

(Rm 10:13) “Porque: todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo”.

A impressão de que Jesus sempre aparece na Bíblia como alguém benigno e compassivo, incapaz de causar mal a uma mosca, cai por terra quando vemos o modo como ele é revelado no livro de Apocalipse:

(Ap 1:16) “Ele tinha na destra sete estrelas; da boca saía uma espada de dois gumes,”.

(Ap 2:12) “Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a afiada espada de dois gumes:”.

(Ap 2:16) “Arrepende-te, pois; ou se não, venho a ti sem demora, e pelejarei contra eles com a espada da minha boca”.

(Ap 2:18) “Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Isto diz o Filho de Deus, que tem olhos como uma chama de fogo, e os seus pés são semelhantes ao latão polido:”.

(Ap 2:22-23) “Eis aí a lanço num leito, e numa grande tribulação os que adulteram com ela, se não se arrependerem dos Atos ensinados por ela. Farei morrer a seus filhos; e todas as igrejas conhecerão que eu sou o esquadrinhador dos rins e corações, e darei a cada um de vós segundo as suas obras”.

Certamente não vemos Jesus nos evangelhos pelejando com uma espada afiada de dois gumes e com olhos flamejantes. E nem em sonhos o imaginamos aquele que curava as pessoas nos evangelhos, lançando-as num leito e em tribulação, e matando filhos. Mas é o mesmo Jesus, só que vindo em outro caráter quando vier para julgar e reinar sobre a terra.

(Ap 19:11-16) “Vi o céu aberto, e um cavalo branco; o que estava montado sobre ele chamava-se Fiel e Verdadeiro, e com justiça julga e peleja. Os seus olhos eram chama de fogo, e na sua cabeça estavam muitos diademas; tinha um nome escrito que ninguém sabe senão ele mesmo. Vestia uma capa imersa no sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus. Os exércitos que estão no céu, seguiam-no montados em cavalos brancos, e vestidos de linho finíssimo, branco e puro. Da sua boca saía uma espada afiada para com ela ferir as nações; ele as regerá com uma vara de ferro, e ele é o que pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-poderoso. Ele traz sobre a sua capa e sobre a sua coxa este nome escrito: Rei dos Reis, E Senhor dos Senhores”.

A ideia de um Jesus manso e humilde em todas as épocas é uma ideia muito acalentada pelo espiritismo, que não consegue imaginar o Senhor vindo como Juiz para julgar com justiça e condenar pecadores ao lago de fogo. Mas como poderia ser diferente se o próprio Cordeiro é visto como cheio de ira pelos infiéis habitantes do mundo?

(Ap 6:15-17) “E os reis da terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e todo o servo, e todo o livre, se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas; e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro; porque é vindo o grande dia da sua ira; e quem poderá subsistir?”.

Como pode ver, o comportamento de Jesus no livro de Apocalipse não tem nada a ver com o modo de agir daquele ser manso e humilde que pisou aqui neste mundo e foi massacrado pelos homens. A questão é que o Senhor voltará a este mundo no caráter de um Juiz justo e severo, e não mais de Servo bondoso e humilde. Ele vem para julgar, e ai do mundo que o condenou. Então todo olho o verá, mas o verá em glória, de forma espantosa como se espantou João ao vê-lo com uma aparência tão diferente da que ele conhecia:

(Ap 1:17) “Quando o vi, caí aos seus pés como morto; e ele pôs a sua destra sobre mim, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último”.

As pessoas que estranham o Deus severo do Antigo Testamento e do Apocalipse em contraste com o Deus amoroso dos evangelhos se esquecem de que “Deus é amor” (1 João 4:8) em sua essência e só agiu (no A.T.) e agirá (nos juízos de Apocalipse) como “fogo consumidor” (Hb 12:29) por causa do pecado. Em outras palavras, fomos nós que causamos em Deus esse comportamento. Percebe a que ponto Deus precisou chegar? Entregar seu próprio Filho à morte, abandoná-lo em meio a trevas e derramar sobre ele o “fogo consumidor” de toda a sua ira e juízo devido ao pecado. Sim, o próprio Deus diz que agir em juízo é uma obra estranha à sua natureza.

(Is 28:2123) “Porque Jeová se levantará como no monte de Perazim, mostrar-se-á irado como no vale de Gibeom; para fazer a sua obra, a sua obra estranha, e para executar a sua tarefa, a sua tarefa estranha. Agora, pois, não sejais escarnecedores, para que não se façam mais fortes os vossos grilhões; porque do Senhor Jeová dos exércitos tenho ouvido falar em uma consumação, e essa já determinada, sobre toda a terra. Dai atenção, e ouvi a minha voz; escutai, e ouvi o meu discurso”.

A única questão que resta é: por que o nome “Jeová” não é encontrado no Novo Testamento? Simplesmente porque não existe tal palavra ou equivalente no grego. Quando os judeus traduziram o Antigo Testamento para o grego (a versão Septuaginta) entre os séculos 300 e 100 antes de Cristo em Alexandria, os tradutores adotaram a palavra grega “Kurios” ou “Kyrios”, equivalente a “Deus” ou “Senhor”, em lugar do tetragrama “YHWH” ou “YHVH”, comumente usado nas escrituras do Antigo Testamento (Jeová ou Javé é uma forma moderna). Então os escritores do Novo Testamento, que eram judeus vivendo sob uma cultura grega, adotaram o mesmo vocabulário quando escreveram o Novo Testamento.

(Is 55:6-9) “Buscai a Jeová enquanto se pode achar; invocai-o enquanto está perto. Deixe o iníquo o seu caminho, e o injusto os seus pensamentos: volte-se para Jeová, porque se compadecerá dele; e para o nosso Deus, porque muito perdoará. Pois os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos são os meus caminhos, diz Jeová. Assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus caminhos são mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos do que os vossos pensamentos”.