Posso participar de uma cerimônia de batismo?
Você foi convidada por alguém da família para ser madrinha em um batismo e está em dúvida se deve ou não ir, porque esse batismo vai acontecer numa igreja católica. Este é um dos muitos casos que temos de enfrentar no nosso dia a dia e quando sou confrontado com uma situação assim devo orar e apresentar o caso diante do Senhor.
Foi o que Naamã fez. Ele havia acabado de conhecer o Deus verdadeiro e seu poder, e tinha sido curado da lepra, que na Bíblia é também uma figura do pecado. Tudo isso é uma figura maravilhosa da conversão de uma alma a Cristo, quando depois de tentar todas as alternativas encontra alguém que lhe diz algo simples demais para acreditar. Tanto é que, diante da relutância de Naamã de cumprir a ordem do profeta Eliseu, de mergulhar sete vezes no Jordão (o que Naamã achou absurdo num primeiro momento), é persuadido pelos seus próprios servos. Veja a passagem:
(2 Rs 5:11-14) “Porém, Naamã muito se indignou, e se foi, dizendo: eis que eu dizia comigo: certamente ele sairá, pôr-se-á em pé, invocará o nome do Senhor seu Deus, e passará a sua mão sobre o lugar, e restaurará o leproso. Não são porventura Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles, e ficar purificado? E voltou-se, e se foi com indignação. Então chegaram-se a ele os seus servos, e lhe falaram, e disseram: meu pai, se o profeta te dissesse alguma grande coisa, porventura não a farias? Quanto mais, dizendo-te ele: lava-te, e ficarás purificado. Então desceu, e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua carne tornou-se como a carne de um menino, e ficou purificado”.
Agora temos um Naamã convertido e temente a Deus, que como qualquer pessoa que foi salva por Cristo, não quer mais fazer coisas que possam desagradar aquele que o salvou. Por isso ele apresenta uma dificuldade que sabe que encontrará em sua nova vida:
(2 Rs 5:18-19) “Nisto perdoe o Senhor a teu servo; quando meu senhor entrar na casa de Rimom para ali adorar, e ele se encostar na minha mão, e eu também tenha de me encurvar na casa de Rimom; quando assim me encurvar na casa de Rimom, nisto perdoe o Senhor a teu servo. E ele [o profeta Eliseu] lhe disse: vai em paz”.
Naamã sabia que, apesar de agora ser um adorador do Deus verdadeiro, teria de enfrentar um dilema quando retornasse ao seu trabalho junto ao rei pagão que servia. Eventualmente seria obrigado a acompanhar seu rei no templo do ídolo Rimom e, segurando a mão do rei, encurvar-se ali diante daquela imagem de pedra. O que fazer? Eliseu não lhe diz nada a respeito, simplesmente diz: “Vai em paz”.
A Bíblia não diz se Naamã continuou ou não entrando com o rei no templo do ídolo. Não entrar significaria provavelmente pena de morte, como era costume para qualquer um que contestasse uma ordem real. Mas a Bíblia também deixa claro que Eliseu não deu a Naamã uma aula contra a idolatria, ameaçando-o com fogo e enxofre caso ele voltasse a entrar no templo pagão. “Vai em paz”, foi só o que Naamã ouviu, e era em paz que devia tratar isso depois com seu próprio Deus.
Por outro lado encontramos Daniel e seus amigos recusando-se veementemente a cumprir os costumes da corte pagã onde viviam. Aquilo acabou colocando as vidas deles em risco, mas aquele era o exercício que eles próprios tinham com Deus. Aqui vale lembrar que certas coisas também dependem do grau que temos de conhecimento de Deus, o que obviamente era diferente no caso de Naamã, um pagão recém-convertido ao Deus verdadeiro, e Daniel e seus amigos, judeus nascidos e criados no judaísmo e exímios conhecedores das Escrituras. Com o conhecimento vem também a responsabilidade.
(Lc 12:48) “Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão”.
Assim deve ser com você, ore e peça a Deus a direção de como agir. Eu sei como é difícil em situações assim pendermos para um lado ou para o outro, e nem sempre agirmos da forma correta aos olhos de Deus. Existe também outro aspecto que precisa ser ponderado, que é o de outros irmãos em Cristo que possam ficar escandalizados por sua atitude.
Enxergo o batismo como o casamento, ou seja, não se trata de um culto ou ritual, mas do cumprimento de uma ordenança cristã. Apesar de o casamento ser uma instituição divina, o batismo é uma ordenança, ou seja, algo que deve ser cumprido. Não é ordenado que uma pessoa se case (a menos que queira viver com outra), mas é ordenado nesta dispensação da graça de Deus que seja batizada. O Senhor mandou que fôssemos batizados, e os pais da criança estão cumprindo essa ordem, ainda que no lugar e da forma imperfeita. Mas essa criança sairá dali batizada, ela poderá ser chamada de “cristã” a partir desse dia, ainda que não tenha crido em Cristo (e nem ter condições para isso). Ela não é mais uma pagã.
Aceitar ou não participar como madrinha irá depender mais de sua consciência para com Deus do que de uma regra, como se vivêssemos nos tempos da Lei mosaica. Em sua situação eu talvez já teria tentado explicar a meus amigos a respeito de minha fé, mas se eu estivesse no seu lugar e tivesse recebido o mesmo convite que recebeu, talvez eu até aceitasse dependendo do grau de parentesco e amizade que tivesse com as pessoas que convidaram, e principalmente para evitar colocar um tropeço recusando o convite e fazendo-os pensar que o meu “cristianismo” seja algo bizarro demais para eles aceitarem. Mas veja que eu poderia também errar pensando assim, pois há casos em que as pessoas ao invés de se ofenderem ficam tão impressionadas com a força e influência que a fé tem em sua vida que acabam querendo saber mais a respeito dessa fé.
(1 Pe 3:15) “Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós,”.
Mas digo da possibilidade de eventualmente participar só por se tratar de um batismo, que é um cumprimento à ordenança dada pelo Senhor. Seria diferente se me convidassem para uma missa. Aí não iria, pois é um culto de adoração a Deus no lugar errado, da maneira errada e incluindo um ritual errado, que é a suposta transubstanciação do corpo e do sangue do Senhor em objetos materiais (pão e vinho). O mesmo quando sou convidado para um culto protestante. Apesar de não existir ali o ritual da suposta transubstanciação, continua sendo o modo errado de se adorar a Deus, por isso também não participaria de um culto, mas não teria problema em participar de um casamento ou batismo.
Mas entenda que estamos falando aqui de instituições (católicas ou protestantes) que são cristãs em sua essência, isto é, que professam as doutrinas básicas e fundamentais da fé cristã, que incluem a divindade de Jesus e seu sacrifício expiatório. Se estivéssemos falando de um batismo ou casamento em uma instituição espírita, mórmon das testemunhas de Jeová, budista, islâmica ou qualquer uma dessas religiões que trazem em seu corpo doutrinário a negação da divindade de Jesus, eu não iria de modo nenhum.
Já estive numa situação quando fui obrigado a assistir a uma missa durante um velório. Sem eu saber que isso iria acontecer, um padre entrou na capela onde estava sendo velado o corpo de um tio muito querido e celebrou uma missa. Como eu estava já dentro achei que não ficaria bem sair, mesmo porque a maioria ali me conhece e sabe de minha fé. Mas naquele caso eu já estava ali, não tive como evitar. E meu tio era um que eu tinha certeza ser um homem de fé, que creu no Senhor e que um dia encontrarei no céu. Mesmo católico?! Mesmo católico, e explicarei a razão disto mais adiante.
Voltando ao assunto “batismo”, a ideia de “padrinho” é uma ideia católica que surgiu da necessidade de se poder contar com alguém no caso do falecimento dos pais. Numa época quando a morte era corriqueira nas famílias, não raro eram os padrinhos que acabariam criando a criança pela qual ficavam responsáveis pela relação de batismo. Padrinho significa algo como um pai de reserva.
Os católicos de hoje nem sabem direito por que convidam alguém para padrinho. Duvido que estejam pensando em alguém para ser o pai ou a mãe reserva, para o caso de eles morrerem. Mas o convite deve ser visto como uma honra, pois geralmente os pais querem uma pessoa idônea para de alguma forma abençoar aquela criança e trazer “boa sorte” (como quando escolhemos nomes para nossos filhos: evitamos dar o mesmo nome daquele parente ou amigo que é uma péssima pessoa!).
Então, entenda que o convite é, primeiro, uma honra, porque essas pessoas que a convidaram têm uma ótima impressão a seu respeito. Aceitar ou não aceitar? Ore a respeito e espere no Senhor. Se ele lhe der paz e mostrar que isso poderá abrir portas para ganhar esse casal para Cristo, então vá. Se não, o melhor é ter uma conversa franca e explicar suas razões com muito cuidado, para não ofendê-los. Lembre-se sempre de que eles estarão fazendo isso por acharem que é a vontade de Deus, ou seja, a intenção deles é a melhor, para com Deus e para com o filho que nasceu. Antes todos os pais tivessem tal disposição. Se decidir não ir (e explicar a eles a razão), você pode tanto perder os amigos como ganhá-los, se eles perceberem que sua fé é levada tão a sério por você que pode valer a pena querer saber mais a respeito.
Um sentimento de amor, graça e compreensão ajuda nessa hora, e não aquela arrogância típica de alguns que olham de cima para baixo os que não creem igual. Eu me converti a Cristo e a pessoa que pregou para mim não falou de igreja, só de Jesus, por isso depois de convertido me tornei um assíduo frequentador das missas durante um ano, chegando até a ajudar o padre e a formar um grupo de jovens para estudarmos o evangelho (o que o padre não gostou muito, porque eu ensinava para aqueles jovens a salvação pela fé somente).
Quando Deus mostrou os muitos erros do catolicismo acabei abandonando aquela religião (como mais tarde também abandonaria a religião batista pelo mesmo motivo, apenas por erros diferentes). Mas durante um ano fui católico e realmente convertido a Cristo, tendo certeza de minha salvação e do perdão de meus pecados. Há muitos convertidos reais dentro do catolicismo. Eu fui um deles.
Como pode ver, a vida cristã não é uma lista de regras do que você pode ou não pode fazer, mas uma vida em dependência da Palavra de Deus e da direção do Espírito. Há coisas que você encontra claramente expressadas na Palavra, outras não, e este é um caso. Não existe algo nas páginas da Bíblia como “Não irás a um batismo católico”. Aí é na dependência do Espírito que você deverá ficar para saber o que decidir.
Estes versículos poderão ajudar. Aqui o assunto era outro (a guarda de certos costumes e rituais do judaísmo, de onde muitos cristãos haviam acabado de sair), mas serve como pista de como devemos agir naquelas coisas que não estão em total conflito com a Palavra. Paulo não teria dito o mesmo de circuncidar-se para ser salvo, algo que ele claramente combate em outra ocasião, ou de guardar a lei com a mesma finalidade. O que ele está tratando aqui são costumes e tradições que, se não ajudam, também não atrapalham:
(Rm 14:2-7) “Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu. Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si”.
(Rm 14:19-23) “Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros. Não destruas por causa da comida a obra de Deus. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo. Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça. Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado”.
Deixo aqui apenas um alerta: receba isto como minha opinião e posição pessoal, e não como um dogma, pois você poderia ler e depois concluir: “Ah! É assim que os irmãos com os quais você congrega pensam e é assim que agem”. Se chegar a esta conclusão terá concluído errado, pois acabei de falar que não existe uma regra escrita para situações assim, mas que depende do exercício particular de cada um para com o seu Senhor. Eu não diria que depende de um exercício particular se o assunto fosse roubar, aceitar suborno, fornicar, embriagar-se, etc., porque aí temos instruções claras da Palavra de Deus nos exortando a ficarmos longe dessas práticas.