Podemos confiar no Novo Testamento?
Nas próprias epístolas temos as evidências de que é nelas que encontramos a autoridade apostólica, portanto creio ser esta a evidência de que estamos em terreno seguro. As epístolas circulavam entre as assembleias levando nelas a autoridade dos apóstolos e é nelas que os próprios apóstolos indicam que devemos buscar a doutrina.
(2 Pe 3:15-16) “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas , entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras , para sua própria perdição”.
Pedro iguala os escritos de Paulo às “outras Escrituras” , ou seja, ao Antigo Testamento e às outras epístolas dos apóstolos que andaram com Jesus (e cujas epístolas foram pré-autenticadas por Jesus, como explicarei adiante).
(Cl 4:16) “E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodiceia lede-a vós também”.
Confiar na tradição, como faz o catolicismo, nos deixaria à mercê de interpretações para justificá-las ou não à luz das epístolas. Para resolver tal dilema o catolicismo simplesmente determinou que em caso de discrepância entre as Escrituras e a tradição fica valendo a tradição. E deu no que deu...
Acima de tudo devemos ter em mente que é o próprio Deus quem tem interesse em preservar a doutrina que os apóstolos receberam do Espírito Santo, e isto Deus faz inclusive impedindo que tenhamos acesso a algumas epístolas que os apóstolos escreveram, mas cujo teor o Espírito Santo achou por bem não chegar até nós. Não temos hoje, por exemplo, a epístola a Laodiceia da qual o apóstolo Paulo fala no versículo acima. E também não temos a epístola de Paulo aos Coríntios escrita antes da que chamamos de “Primeira aos Coríntios”, a qual ele menciona em 1 Coríntios 5:9.
Mas não é apenas no testemunho dos apóstolos que podemos nos basear para entender a inspiração divina que têm seus escritos. Jesus pré-autenticou, por assim dizer, os ensinos que seriam dados através dos apóstolos depois de sua partida:
(Jo 14:26) “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará [aos apóstolos] todas as coisas, e vos fará lembrar [aos apóstolos] de tudo quanto vos tenho dito”.
Alguns alegam que esta passagem foi dita aos discípulos de Cristo de uma maneira geral, e portanto estaríamos incluídos nesta mesma promessa. Mas não é assim. Como poderíamos nós, que nascemos 2 mil anos depois, achar que o Espírito nos “lembraria” de tudo o que o Senhor disse se nem mesmo estávamos lá? A passagem abaixo também tem este caráter exclusivo, pois foi o Espírito quem disse aos apóstolos, palavra por palavra, aquilo que deviam escrever. Daí a inspiração verbal das Escrituras.
(Jo 16:13) “Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará [aos apóstolos] em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá [aos apóstolos] tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará [aos apóstolos] o que há de vir”.
(1 Co 2:13) “As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as [ palavras ] que o Espírito Santo ensina,”.
O Espírito Santo iria, não apenas lembrar os apóstolos das palavras de Jesus, mas iria ensinar a eles todas as coisas e guiá-los em toda a verdade, como canais vindos diretamente dos céus, revelando o ensino para o presente e para o porvir. Estas são “as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem” , ou seja, não são tradições, costumes ou fábulas humanas, mas a expressa Palavra de Deus vinda dos céus.
(2 Pe 1:16) “Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade“.
Tudo isso o Senhor prometeu que revelaria pelo Espírito aos apóstolos, portanto não cremos “na memória histórica” dos apóstolos ou na “tradição dos pais”, como chamam os católicos, mas na revelação da Palavra de Deus pelo Espírito Santo.
O argumento muito usado pelos católicos de que foi a igreja católica que decidiu o que faria ou não parte do cânon do Novo Testamento é ridículo.
Primeiro, porque não existia “igreja católica” na época. Naquela época só existia a igreja. Chamá-la de “igreja católica”, como se faz hoje para distinguir aquela que é comandada de Roma das milhares de denominações cristãs, faria tanto sentido quanto chamar a guerra de 1914-1918 de “Primeira Guerra Mundial”. Este título só foi usado após ocorrer outra guerra mundial (nos livros e jornais anteriores aos anos 40 ela é chamada simplesmente de Grande Guerra).
Segundo, porque a formação do cânon pelos cristãos dos primeiros séculos foi simplesmente atestar de uma maneira formal quais eram os textos que nos séculos anteriores circulavam pelas assembleias locais e eram reconhecidos como a Palavra de Deus. E por que os cristãos da época fizeram isso? Justamente para evitar que lendas e tradições fossem tomadas como sendo a Palavra de Deus, o que já estava acontecendo por alguns hereges. Portanto, as epístolas são a Palavra de Deus revelada aos apóstolos. A tradição é a interpretação que homens deram a essas epístolas à luz da época em que viveram. Devemos receber a primeira como a Palavra de Deus e refutar a segunda como tendo igual status.
Paulo explica como se cumpriu a promessa que o Senhor deu de que o Espírito revelaria a Palavra de Deus aos apóstolos em uma passagem que às vezes lemos sem identificar que Paulo está falando ali dos apóstolos, e não dos crentes em geral. Esta passagem deve ser lida como a concretização da promessa que o Senhor fez AOS APÓSTOLOS, os quais, pelo Espírito, seriam lembrados de todas as coisas que o Senhor lhes tinha dito, e vou inserir meus comentários para deixá-la mais clara:
(1 Co 2:9-11) “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou [a nós, os apóstolos] pelo seu Espírito ; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus”.
Em outra passagem Paulo autentica seus próprios escritos explicando que não são ensinos de homens, ou seja, não são tradições humanas. Mais uma vez entendemos o papel que tiveram os apóstolos como canais exclusivos da revelação de Deus vinda dos céus.
(Gl 1:11-12) “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo“.
Os cristãos daquela época recebiam seus escritos como a Palavra de Deus, e não como sabedoria humana ou meras tradições.
(1Ts 2:13) “Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus , a qual também opera em vós, os que crestes”.
(1 Co 14:37) “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor“.
Tudo isso não apenas nos autoriza a encarar o Novo Testamento como a Palavra de Deus revelada aos apóstolos, como deixa claro o erro dos teólogos moderninhos que insistem em refutar os escritos de Paulo como se fossem meras opiniões de um solteirão machista. Para esses fica valendo a descrição que Pedro lhes dá em sua segunda epístola 3:16:
“Indoutos e inconstantes” (ARF), ou como está em outras versões, “espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos” (Ave Maria), “homens sem instrução e vacilantes” (CNBB), “ignorantes e instáveis” (NVI). Quem quer que negue a autenticidade das epístolas de Paulo como a Palavra de Deus pode adotar para si qualquer um desses adjetivos.