Os dias estão sendo abreviados?
Sua dúvida é se o versículo em Mateus 24:22 estaria falando da vida moderna, quando os dias parecem passar mais rápido e terem menos que 24 horas. O versículo é: “Se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias“.
Mateus 24 descreve o que acontecerá depois do arrebatamento da igreja, e os discípulos de Jesus, aos quais ele dirige as palavras, aparecem ali no caráter do remanescente de judeus fiéis que aguardará pela vinda do Messias, do mesmo modo como eram todos os que esperavam por Jesus nos evangelhos. Portanto no capítulo 24 de Mateus (e também no capítulo 25, que fala da vinda de Cristo para reinar) você não encontra especificamente a igreja ou uma profecia relacionada aos tempos atuais.
O versículo 22 refere-se à grande tribulação e ali os que perseverarem até o fim para serem salvos são os que permanecerão vivos para entrarem no reino milenial de Cristo. Para que isto possa acontecer, será preciso Deus abreviar aqueles dias de tribulação e perseguição, caso contrário todos os fiéis seriam mortos antes que se iniciasse o milênio.
Uma rápida explicação do capítulo pode ajudar a entender melhor o versículo que originou sua dúvida.
(Mt 24:2) “Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada“.
Isto já aconteceu quando os romanos invadiram Jerusalém no ano 70 DC e destruíram o templo. Por causa do incêndio o ouro que revestia as paredes se derreteu e infiltrou-se nas juntas das pedras, obrigando os romanos a desmontarem pedra por pedra para recuperarem o ouro.
(Mt 24:3) “E, estando assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?“.
A pergunta é tríplice e inclui (1) quando seria a destruição do Templo, (2) qual seria o sinal da vinda de Cristo e (3) qual seria o sinal do “fim dos tempos” ou “fim do mundo” ou “fim da era”, dependendo da versão (a última é a melhor).
A primeira pergunta ele não responde, ao menos aqui. Para a segunda e terceira, a resposta aparece nos versículos 4 ao 44, que descrevem o tempo de tribulação de 7 anos que virá após o arrebatamento da igreja. Os primeiros três anos e meio vão dos versículos 4 ao 14 e os últimos, a “grande tribulação”, do 15 ao 44.
Apesar de muitos elementos dos primeiros três anos e meio poderem ser encontrados hoje, nada se compara ao que será este mundo quando o Espírito Santo já não estiver habitando aqui, pois saiu do mundo simultaneamente à retirada da Igreja, e não podia ser diferente, pois o Espírito habita agora na igreja, coletivamente, e no crente em Jesus, individualmente.
O que já ocorre hoje e ocorrerá muito mais depois são enganadores falando em nome de Jesus, guerras e rumores de guerras, nação levantando-se contra nação, fomes, pestes, terremotos, ódio e perseguição e ódio contra os seguidores de Jesus (nessa época serão judeus e gentios convertidos após o arrebatamento da igreja), falsos profetas, etc.
(Mt 24:13) “Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo“.
Esta já é uma alusão aos que perseverarem até o fim para serem salvos, mas aqui não fala necessariamente de salvação da alma, mas principalmente do corpo. Para entender é bom ler este versículo e continuar com o 22: “Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo... porque se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria“. Não é preciso muito para entender que está falando de salvação do corpo físico (carne).
(Mt 24:14) “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim”.
Ao contrário do evangelho da graça, que é hoje pregado e anuncia “Crê no Senhor Jesus e serás salvo” , o remanescente de judeus fiéis ao Messias irá pregar o “evangelho do Reino”, o mesmo que João Batista e Jesus pregaram, cujo lema é: “Arrependei-vos porque é chegado o Reino de Deus”. Lembre-se de que estamos falando de Israel e de um reino terreno, como sempre foi prometido no Antigo Testamento.
(Mt 24:15) “Quando, pois, virdes que a abominação da desolação , de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda;”.
(Mt 24:16) “Então, os que estiverem na Judeia , fujam para os montes;”.
Estes versículos denotam o caráter judaico de toda a passagem. O “lugar santo” é o Templo de Jerusalém, que terá sido reconstruído a toque de caixa nessa época e onde o anticristo se sentará querendo parecer Deus. Este episódio é mencionado em 2 Tessalonicenses 2:4: “de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus”.
A expressão “os que estiverem na Judeia”, mostra o cenário judaico de tudo isso e mais ainda o versículo 20: “Orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado“. Isto não faria sentido se a passagem estivesse falando de cristãos e da Igreja, mas o remanescente judeu que estiver na Judeia naquela ocasião continuará a guardar os costumes do judaísmo, como fazem os judeus religiosos hoje e faziam também os discípulos de Jesus antes da formação da igreja. Para um judeu religioso é proibido caminhar mais que certa distância no dia de sábado, que são uns 1.200 metros. Obviamente ninguém conseguiria fugir se a fuga estivesse limitada a um quilômetro e pouco. “Então voltaram para Jerusalém, do monte chamado das Oliveiras, o qual está perto de Jerusalém, à distância do caminho de um sábado“ (Atos 1:12).
(Mt 24:21-22) “Porque haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver. E, se aqueles dias não fossem abreviados , nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias“.
Chegamos então ao versículo de sua dúvida e agora acredito que tenha uma visão melhor dele dentro de todo o contexto. Repare também que não está falando dos tempos atuais, mas de uma“grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver”. Isto é significativo se nos lembrarmos de quantas catástrofes e guerras já se abateram sobre a humanidade. Tudo o que a história registra até aqui será refresco comparado ao que acontecerá durante a grande tribulação, principalmente levando-se em conta que Satanás terá sido expulso do céu naquela ocasião e agirá livre e solto neste planeta, direta e indiretamente por meio de seu servo, o anticristo. Mais uma vez a passagem nos transporta para 2 Tessalonicenses:
(2Ts 2:6-9) “Agora vós sabeis o que o detém [o que detém o anticristo], para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste [o Espírito Santo que hoje habita na igreja] até que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo [anticristo], a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás , com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira,”.
Outra passagem que também gera dúvidas é quanto aos “escolhidos” , pois muitos acreditam que são cristãos atuais e membros do corpo de Cristo, que é a igreja. Porém a igreja é recolhida da terra pelo próprio Senhor no arrebatamento descrito em 1 Tessalonicenses 4, enquanto aqui se trata de um trabalho de anjos recolhendo pessoas vivas (e não ressuscitadas e transformadas como no arrebatamento) para serem transportadas à terra de Israel.
(Mt 24:31) “E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus”.
Para o cristão da atual dispensação a esperança não está em um transporte providenciado por anjos, mas pelo próprio Senhor.
(Jo 14:3) “E quando eu for, e vos preparar lugar, [ eu ] virei outra vez, e [ eu ] vos levarei para mim mesmo, para que onde EU estiver estejais vós também”.
(1Ts 4:16-17) “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares , e assim estaremos sempre com o Senhor”.
O versículo seguinte é outra referência a Israel, que em toda a Bíblia costuma ser identificado pela figueira (no sentido nacional) ou oliveira (no sentido espiritual).
(Mt 24:32) “Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão”.
(Mt 24:34) “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam”.
O termo “geração” aqui pode se referir àquela das pessoas que vivenciarem todas as coisas descritas neste capítulo, que fala diretamente do tempo da grande tribulação. Existe também a possibilidade de estar se referindo ao povo judeu, que não deveria desaparecer, já que no grego a palavra “geração” é “genea” que pode ter também o sentido de família, raça ou nação. A ideia seria que essa mesma raça ou geração de judeus incrédulos existiria quando viesse a grande tribulação que precede a vinda de Cristo para reinar.
Talvez esta seja a interpretação mais correta, pois é provável que não exista no planeta um povo mais persistente em rejeitar a Cristo do que os judeus, que tiveram todas as chances de recebê-lo como Messias e mesmo assim o crucificaram. Também é difícil encontrar um povo com uma identidade tão marcante e que esteja todos os dias nas páginas dos jornais, como é o judeu. É como se Deus estivesse o tempo todo nos lembrando: “Eu não disse que eles seriam assim até o fim?”.
Os versículos abaixo confirmam isso:
(Dt 32:5) “Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida é.... deixou a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação. Com deuses estranhos o provocaram a zelos; com abominações o irritaram. Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus; aos deuses que não conheceram, novos deuses que vieram há pouco, aos quais não temeram vossos pais. Esqueceste-te da Rocha que te gerou; e em esquecimento puseste o Deus que te formou; O que vendo o Senhor, os desprezou, por ter sido provocado à ira contra seus filhos e suas filhas; E disse: Esconderei o meu rosto deles, verei qual será o seu fim; porque são geração perversa , filhos em quem não há lealdade”.