Devo levantar as mãos para orar?
Você viu muitos cristãos que oram levantando as mãos para o alto e quer saber se isto é uma necessidade na oração. Certamente não existe uma posição específica para orar, já que encontramos na Bíblia pessoas orando em pé, deitadas, de joelhos, etc. Também não me lembro de existir alguma passagem que diga que a oração deva ser com os olhos fechados. Vemos o Senhor abençoando os pães de olhos abertos fitos nas alturas.
(Lc 9:16) “E, tomando os cinco pães e os dois peixes, e olhando para o céu , abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos seus discípulos para os porem diante da multidão”.
Daniel tinha o costume de orar três vezes ao dia com as janelas abertas para o lado de Jerusalém, e acredito que ele orasse olhando pelas janelas. Em Atos 16 vemos Paulo e Silas orando e cantando na prisão com os pés presos ao tronco, uma posição das mais desconfortáveis. No Antigo Testamento encontramos Jonas orando no ventre do grande peixe, e dificilmente imaginaríamos alguém de joelhos ou com as mãos literalmente levantadas em um lugar assim. Por isso creio que mais importante do que a posição do corpo na oração seja a condição de alma de quem ora. Vamos à passagem de sua dúvida:
(1Tm 2:8) “Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda”.
O verbo “levantar” no grego pode ser traduzido como literalmente erguendo as mãos ou simplesmente no sentido figurado de mostrá-las, que é o que entendo ser o significado aqui. Mesmo porque a questão não é de forma, mas de conteúdo. Não é o modo como posiciono minhas mãos aqui, mas a condição em que elas devem estar, ou seja, “santas”. A força da passagem não está na posição física das mãos mas na condição moral. Elas devem ser santas porque aqui o assunto é a oração e Deus não irá escutar a oração daquele que pratica a iniquidade.
(Sl 66:18) “Se eu atender à iniquidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá;”.
Porém o homem religioso é sempre pronto a imitar ou se posicionar fisicamente de modo a demonstrar piedade ou para que outros vejam. O Senhor advertiu que aqueles que oravam nas praças para serem vistos pelos homens já tinham recebido seu galardão, ou seja, aquilo que buscavam: serem vistos pelos homens.
Se olharmos com atenção a passagem vemos que a importância está, primeiro, na necessidade de orar: “Quero... que os homens orem”. Aqui está falando de varões, ou seja, não está incluindo mulheres, pois elas são tratadas mais adiante. Portanto fica bem claro que as mulheres não devem orar em todo lugar, ou seja, ao menos publicamente. A mulher pode evidentemente ter sua oração privativa ou orar com outras mulheres, mas há lugares e situações em que caberá ao varão orar.
Outro aspecto importante da passagem está na frequência e lugar, ou seja, “em todo o lugar” , o que significa também dizer que devemos viver em estado de oração, orando sempre, porque sempre estamos em algum lugar incluído nesse “todo lugar”. Então vem as condições das mãos, “santas” , obviamente não mãos que derramam sangue, que fazem o mal, que aceitam ou pagam suborno.
Finalmente, a condição de alma de quem ora deve ser sem ira nem contenda (algumas traduções trazem “sem ira e sem duvidar” ). Mas será que alguém iria orar com ira e contenda? Sim, e são muitas as ocasiões em que vemos pessoas orando, ou para descarregarem em Deus suas mágoas contra alguém, ou para passarem um recado a algum desafeto presente como se estivesse orando a Deus.
Neste sentido também não é correto transformar a oração, que deveria ser dirigida a Deus, em uma pregação ou exposição bíblica. Deus não precisa que expliquemos a ele as doutrinas de sua Palavra. Ele conhece todas elas. Se falarmos de seus feitos como forma de agradecimento, reconhecimento ou louvor, então tudo bem. Mas se transformarmos nossa oração em um tratado teológico ou, o que é pior, em uma forma de mandar recados para alguém presente na sala, dizendo com indiretas algo que não teríamos coragem de dizer pessoalmente, então certamente esta não é a oração com mãos santas e sem ira nem contenda.