O batismo perdoa pecados?

Se estivermos falando do perdão de pecados para se obter a salvação eterna, então a resposta é não , o batismo não pode nos dar perdão. Se pudesse, quase toda a população ocidental estaria salva, já que a maioria das pessoas foi batizada e leva o nome de Cristo; são cristãos, não pagãos. Então como explicar as passagens que você apresentou?

(Mc 1:4) “Apareceu João batizando no deserto, e pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados “.

(Lc 3:3) “E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados ;”.

(Atos 2:38) “E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados ; e recebereis o dom do Espírito Santo;”.

Considerando que as Escrituras não podem se contradizer, deve existir uma explicação que coloque essas expressões “remissão de pecados” e “perdão de pecados” em seu devido contexto. Temos inúmeras passagens na Palavra de Deus que ensinam que a salvação é pela fé, não por obras ou pelo cumprimento a ordenanças como o batismo ou a ceia do Senhor. É o caso de João1:12; 3:16; 3:36; 6:47; Atos 16:31; Romanos 10:9, só para citar algumas.

Se você considerar que o ladrão na cruz foi salvo sem passar pelo batismo, que o próprio Senhor não batizou ninguém e que o apóstolo Paulo afirma ter batizado alguns poucos, é de se estranhar que Jesus e Paulo não tenham se dedicado com maior afinco a essa prática se ela fosse realmente o meio de perdão e salvação. Por que Jesus não batizou a mulher adúltera antes de dizer a ela: “Nem eu também te condeno” (Jo 8:11). Por que não levou às águas o homem curado antes de dizer a ele: “Homem, os teus pecados te são perdoados” (Lc 5:20). E onde entrou o batismo, quando na casa do fariseu, Jesus disse à prostituta arrependida: “Os teus pecados te são perdoados” (Lc 7:48).

Talvez Atos 22:16 nos dê alguma luz sobre o assunto. Repare que a exigência de que fossem batizados foi feita somente a judeus. No caso de João Batista, o batismo não era um batismo cristão, tanto é que os discípulos de João seriam batizados outra vez em Atos com o batismo cristão. Então que batismo era esse para remissão ou perdão de pecados que receberam de João Batista e depois precisaram receber novamente dos apóstolos? Era a prova visível e a declaração pública de arrependimento por tudo o que aquele povo havia feito, primeiro com os profetas de Deus (no caso do batismo de João Batista) e depois com seu Messias (no caso do batismo em Atos 22:16).

Esse mesmo povo trazia sobre si a culpa de rebelião contra Deus e sua Palavra, entregue aos israelitas séculos antes, e demonstrava esse espírito ao rejeitarem o Messias: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27:25). Aqueles judeus no batismo de João se arrependiam e declaravam publicamente que se colocavam em uma nova posição em relação a Deus, o que faziam mediante o batismo. Os judeus em Atos se arrependiam de terem crucificado o Messias e mostravam isso publicamente sujeitando-se ao batismo em nome de Jesus, que na prática era feito em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Tendo isto em mente fica mais fácil entender as passagens de Marcos 1:4, Lucas 3:3 e Atos 2:38: eles eram batizados “para o perdão [ou remissão] dos pecados” , entrando o batismo como o reconhecimento por terem sido já perdoados. Li um comentário de Ryrie que explica assim:

“Isto não significa que [eles fossem batizados] a fim de serem remidos, pois em todo o Novo Testamento vemos pecados sendo perdoados como resultado da fé em Cristo, não como resultado do batismo. Aqui significa que deviam ser batizados por causa da remissão dos pecados. A preposição grega ‘eis’ , traduzida como ‘para’ , tem também o significado ‘por causa da’ , não apenas aqui mas também em passagens como Mateus 12:41, onde o único significado possível é ‘porque se arrependeram [ou ‘por causa de terem se arrependido’] com a pregação de Jonas’. O arrependimento foi o que trouxe a remissão dos pecados para esta multidão no dia de Pentecostes, e por causa da remissão dos pecados lhes foi pedido que fossem batizados “.

É preciso entender que as diferentes classes de pessoas que se converteram em Atos receberam tratamentos distintos por causa das responsabilidades distintas em que estavam inseridas.

— Para os judeus convertidos a Cristo, a ordem foi (1) Arrependimento, (2) Batismo nas águas, (3) Recebimento do Espírito Santo.

— Para os samaritanos, em Atos 8:14-17, a ordem foi (1) Crer, (2) Batismo nas águas, (3) Intercessão dos apóstolos, (4) Imposição de mãos dos apóstolos e (5) Recebimento do Espírito Santo.

— na conversão dos gentios em Atos 10:44-48 a ordem foi (1) Crer, (2) Recebimento do Espírito Santo, (3) Batismo nas águas.

— Finalmente, para os discípulos de João Batista que se converteram a Jesus, a ordem foi (1) Crer, (2) Novo batismo nas águas, (3) Imposição de mãos do apóstolo, (4) Recebimento do Espírito Santo.

Portanto, entenda o batismo como uma expressão exterior e pública de algo já ocorrido (ele tem também outros significados, mas não vou comentá-los aqui). A prostituta que lavou os pés de Jesus com lágrimas, enxugou-os com seus cabelos e os ungiu com perfume fez aquilo como consequência do perdão que ela sabia poder contar. Repare que ela não foi batizada para receber tal perdão, e nem foi esse ato de bondade dela para com o Senhor que a fez merecedora do perdão. Ela recebeu o perdão antes disso, quando creu em Jesus.

(Lc 7:47-50) “Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados , [antes de entrar ali] porque [como consequência do perdão] muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado [por consequência] pouco ama. E disse-lhe a ela: Os teus pecados te são perdoados [confirmando aquilo que a levara a estar ali para adorar]. E os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este, que até perdoa pecados? E disse à mulher: A tua fé [e não o arrependimento ou o fato de ter regado os pés de Jesus com lágrimas] te salvou; vai-te em paz”.

Existe ainda outro aspecto do perdão, que é o perdão fraternal ou administrativo, que é praticado individualmente entre os crentes (Mt 11:25) e também pela assembleia (2 Co 2:10), mas este é um assunto para outra ocasião.