Os cristãos devem combater o casamento gay?
O cristão está no mundo, mas não é do mundo, portanto ele não tem nada que interferir na política e no governo deste mundo. Não vemos o Senhor, os apóstolos ou os discípulos interferindo nos governos da época, quando os costumes aceitos pela sociedade eram iguais ou piores aos praticados hoje.
Embora em Israel existisse uma cultura baseada na religião judaica e, portanto com algum controle moral da sociedade, foi no mundo gentio e pagão dominado por Roma que a igreja floresceu. Quem estuda antropologia sabe que nessa época costumes como homossexualismo, prostituição e aborto eram largamente aceitos, praticados e às vezes até legalizados.
O que os cristãos sabidamente faziam não era jogar bombas em clínicas de aborto ou matar médicos, como alguns fazem nos Estados Unidos, mas recolher os bebês e tratar deles. Numa espécie de “aborto a posteriori”, estes eram deixados pelas mães romanas à beira das estradas para morrerem ou serem comidos pelos cães. Primogênitos do sexo feminino ou crianças portadoras de deficiência eram descartados, um costume encontrado até o início do século vinte em alguns países da África e Oriente, e ainda hoje em algumas tribos indígenas da América Latina, que costumam enterrar vivos os bebês rejeitados.
Desde o início os cristãos foram conhecidos não por seu ativismo contra o homossexualismo, aborto ou outras causas, mas por seu trabalho de misericórdia, não apenas para com órfãos e viúvas, mas também acolhendo e cuidando dos velhos e doentes rejeitados pelas famílias nas sociedades pagãs. O trabalho dos cristãos no início da Igreja era voltado para a salvação dos pecadores e a caridade para com os sofredores, e não para o protesto contra o governo e as leis injustas que eventualmente estivessem em vigor.
A grande agitação causada por pastores e políticos no Brasil em torno de temas como a regularização do casamento homossexual tem um forte elemento de promoção pessoal e conquista de votos, ofertas e membros para suas organizações. Se por um lado a Bíblia mostra claramente que o homossexualismo é pecado, o mesmo acontece com o sexo fora do casamento, a prostituição e o adultério, todas estas atividades praticadas em consenso entre os que as praticam.
O que as pessoas fazem na intimidade da alcova não é assunto dos cristãos e estes não têm nada que se intrometerem nisso. Essas pessoas não devem explicações aos cristãos, mas a Deus. O cristão não foi deixado aqui para policiar os usos e costumes daqueles que não estão nem aí com os pensamentos de Deus. O cristão deve é manter-se separado de tudo isso, mesmo porque um incrédulo é incapaz de entender e aceitar a autoridade da Palavra de Deus. Um cristão sábio, cuja esperança é eterna e nos céus, irá entender que o incrédulo estará disposto a lutar com unhas e dentes para defender a única coisa que possui: o prazer efêmero de sua vida aqui.
Não cabe ao cristão tentar moralizar um mundo, o qual caminha a passos largos para o juízo, como ocorreu com Sodoma. O mundo islâmico é radicalmente contra o homossexualismo, mas isso não significa que os muçulmanos estejam salvos.
Deus não mandou Ló reformar Sodoma, mas sair dela. Aquele era um homem de Deus no lugar onde Deus não queria que estivesse. Enquanto ele foi armando sua tenda até Sodoma (Gn 13:12), Abraão continuou vivendo como peregrino em terra estranha, na qual Deus “não lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé” (Atos 5:7).
Quando os anjos enviados para resgatar Ló chegaram a Sodoma, eles o encontraram assentado à porta da cidade, um lugar tradicionalmente ocupado pelos juízes de antigamente. Ló não apenas tinha estabelecido residência dentro dos muros da cidade iníqua, como estava entre os que na época equivaleriam ao poder legislativo de nossos dias, equivalentes aqui à Câmara dos Deputados e Senado Federal. Nos Salmos encontramos a expressão “assentado à porta” profeticamente indicando os líderes que condenaram o Senhor Jesus.
(Gn 19:1) “E vieram os dois anjos a Sodoma à tarde, e estava Ló assentado à porta de Sodoma“.
(Sl 69:12) “Aqueles que se assentam à porta falam contra mim”.
(2 Sm 19:8) “Então o rei se levantou, e se assentou à porta ; e fizeram saber a todo o povo dizendo: Eis que o rei está assentado à porta. Então todo o povo veio apresentar-se diante do rei;”.
Basta ler a continuação da história para ver quão vergonhosa foi a situação de Ló. Por estar onde não deveria estar, ocupando uma posição que não deveria ocupar, ele se viu obrigado a tomar uma decisão radical contra o homossexualismo que os homens da cidade pretendiam praticar à força com os anjos enviados por Deus. Ló negociou com eles oferecendo suas filhas virgens em troca!
(Gn 19:4-11) “E antes que se deitassem, cercaram a casa, os homens daquela cidade, os homens de Sodoma, desde o moço até ao velho; todo o povo de todos os bairros. E chamaram a Ló, e disseram-lhe: Onde estão os homens que a ti vieram nesta noite? Traze-os fora a nós, para que os conheçamos. Então saiu Ló a eles à porta, e fechou a porta atrás de si, E disse: Meus irmãos, rogo-vos que não façais mal; Eis aqui, duas filhas tenho, que ainda não conheceram homens; fora vo-las trarei, e fareis delas como bom for aos vossos olhos ; somente nada façais a estes homens, porque por isso vieram à sombra do meu telhado. Eles, porém, disseram: Sai daí. Disseram mais: Como estrangeiro este indivíduo veio aqui habitar, e quereria ser juiz em tudo? Agora te faremos mais mal a ti do que a eles. E arremessaram-se sobre o homem, sobre Ló, e aproximaram-se para arrombar a porta. Aqueles homens porém estenderam as suas mãos e fizeram entrar a Ló consigo na casa, e fecharam a porta; E feriram de cegueira os homens que estavam à porta da casa, desde o menor até ao maior, de maneira que se cansaram para achar a porta”.
Quando um servo de Deus se coloca em jugo desigual com incrédulos e se intromete com os negócios deste mundo, acaba sendo obrigado a negociar como fez Ló, pois a política deste mundo não dá sem receber algo em troca. Fora de seu lugar o cristão é obrigado a se humilhar e acaba fazendo papel de doido, como fez Davi quando decidiu ir morar no palácio de seus inimigos na terra dos filisteus.
(1 Sm 21:10-15) “Levantou-se Davi, naquele dia, e fugiu de diante de Saul, e foi a Aquis, rei de Gate. Porém os servos de Aquis lhe disseram: Este não é Davi, o rei da sua terra? Não é a este que se cantava nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares? Davi guardou estas palavras, considerando-as consigo mesmo, e teve muito medo de Aquis, rei de Gate. Pelo que se contrafez diante deles, em cujas mãos se fingia doido, esgravatava nos postigos das portas e deixava correr saliva pela barba. Então, disse Aquis aos seus servos: Bem vedes que este homem está louco; por que mo trouxestes a mim? Faltam-me a mim doidos, para que trouxésseis este para fazer doidices diante de mim? Há de entrar este na minha casa?”.
Acaso não é assim, doidos, que os incrédulos enxergam os crentes que interferem na política querendo lhes dar lição de moral? Portanto o papel do cristão hoje não é ficar “assentado á porta de Sodoma” como legislador, na tentativa de mudar o curso de impiedade deste mundo. Sua função aqui é pregar o evangelho para salvar aqueles que se reconhecem pecadores, e não pregar moralidade ou querer conquistar espaço na política. Aqueles que foram salvos pela fé em Jesus irão honrar a Palavra de Deus e procurar viver de acordo com o ensino dela, e esta certamente não inclui a união de pessoas do mesmo sexo, o homossexualismo, adultério, fornicação, prostituição, etc.
Para o cristão não faz qualquer diferença se o governo aprova ou não o casamento homossexual. Alguns poderão argumentar que se assim for o governo obrigará as igrejas a celebrarem uniões homossexuais, mas pensar assim é não entender o que é o matrimônio segundo a Bíblia. Não existe na Palavra de Deus algo como uma igreja celebrando um casamento. Pessoas se casam perante Deus e cumprem as disposições legais oficializando sua união civil em obediência aos poderes estabelecidos por Deus. Não existe algo como alguém declarar um casal marido e mulher perante Deus. O único que pode fazer tal declaração, mas apenas perante os homens, é o juiz de paz com a autoridade que lhe foi delegada pelo estado. Deus não delegou autoridade para homens unirem pessoas naquilo que se costuma chamar de “casamento religioso”.
Trocando em miúdos, com quem uma pessoa se casa ou deixa de se casar é problema dela, e se o governo oficializa isso ou não é problema dos governantes. Eles deverão dar contas de seus Atos a Deus. O cristão vive à margem disso como sempre foi no início do cristianismo. Aqueles que vão na conversa de pastores e políticos ditos “evangélicos” e saem em campo para enfrentar e atacar os movimentos GLS não percebem que estão servindo de “buchas de canhão” desses pastores e políticos.
O casamento que o cristão deveria ser radicalmente contra é o casamento entre a igreja e o estado, algo que alguns políticos denominados “evangélicos” insistem em manter. Constantino celebrou essa união no terceiro século e foi um verdadeiro desastre. A referência profética feita no livro de Apocalipse à igreja nessa época é: “Conheço as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás“ (Ap 2:13). O príncipe deste mundo é Satanás e, ao unir-se aos poderes deste mundo no terceiro século, a igreja passou a habitar onde Satanás tem seu trono. O cristão não tem nada a fazer nesse lugar.
“Disse Jesus: O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui”. (Jo 18:36).
“Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os [separa-os] na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo”. (Jo 17:14-18).
“Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. (Tg 4:4).