Por que não existe um homem liderando as reuniões?
Por que não deve existir um homem liderando as reuniões da igreja? Porque não encontramos na Palavra de Deus um homem liderando as reuniões. Em 1 Coríntios 14, onde é descrita a forma que devemos nos reunir, você encontra muitas pessoas participando, e nenhum homem dirigindo ou dizendo quem deve fazer isto ou aquilo. Aquele capítulo é a “receita do bolo”, por assim dizer. Veja aqui:
(1 Co 14:26) “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis , um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação. No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois, e quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete... Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem. Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar , um após outro, para todos aprenderem e serem consolados... Porventura, a palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio ela exclusivamente para vós outros? Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo”.
Não vejo como o Espírito Santo poderia ter sido mais claro em seu ensino de que o ministério nas reuniões da igreja é um ministério múltiplo, e não uma “banda de um homem só”. Mas você escreveu que em algumas partes a Bíblia diz que devemos ter um líder, como quando o Senhor diz a Pedro, “Pedro tu me amas? Apascenta minhas ovelhas” e também em Tito 1:5-16.
Sim, a passagem de Pedro realmente mostra que Deus está dizendo isto a ele antes da formação da igreja. E depois da partida de Pedro ele mesmo providenciou para que seus ensinos não fossem esquecidos, e nós hoje desfrutamos de suas cartas e este é o seu ministério continuado.
(2 Pe 1:12-15) “Por esta razão, sempre estarei pronto para trazer-vos lembrados acerca destas coisas, embora estejais certos da verdade já presente convosco e nela confirmados. Também considero justo, enquanto estou neste tabernáculo, despertar-vos com essas lembranças, certo de que estou prestes a deixar o meu tabernáculo, como efetivamente nosso Senhor Jesus Cristo me revelou. Mas, de minha parte, esforçar-me-ei, diligentemente, por fazer que, a todo tempo, mesmo depois da minha partida, conserveis lembrança de tudo“.
Mas aqui temos o ministério específico de um apóstolo (não temos mais apóstolos) e o mesmo se pode dizer dos demais que nos legaram o Novo Testamento. Mas nada disso invalida o fato de que nas reuniões da assembleia os dons são usados conforme o Espírito determina, e não com a direção de um homem à frente. Mesmo assim existe uma liderança, e é aí que entra a menção que você fez de Tito.
(Tt 1:5) “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei”.
Mas repare que aí temos uma ordem específica de um apóstolo, com os poderes que lhe foram dados, delegando diretamente alguém (tt) para a tarefa de estabelecer presbíteros (ou bispos ou anciãos) de cidade em cidade. Hoje não temos apóstolos, não temos a mesma autoridade que tinham (por exemplo, de “entregar a Satanás” alguém para a destruição da carne - 1 Coríntios5:5) e não fomos delegados como Tito foi.
Mas teria Deus deixado a igreja sem bispos (ou presbíteros ou anciãos)? Não, existem esses irmãos responsáveis, mas é preciso atentar para alguns detalhes:
1. Não são nomeados como eram nos tempos dos apóstolos (quem ousaria nomeá-los sem ter recebido uma ordem direta para tal?), mas são reconhecidos por seu cuidado para com a assembleia.
“Por esta causa [eu, Paulo] te deixei em Creta, para que [tu, Tito]... de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já [eu, Paulo] te mandei [a ti, Tito]” (Tt 1:5).
2. Estes ofícios sempre aparecem no plural, nunca no singular, o que equivale dizer que seria errado designarmos “o” bispo.
(Fp 1:1) “Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Cristo Jesus, que estão em Filipos, com os bispos e diáconos [de Filipos]”.
3. Os bispos (ou anciãos) eram estabelecidos “de cidade em cidade” , e não “de denominação em denominação” ou “de paróquia em paróquia”. Existem, em minha cidade (e também na sua) homens nos quais o Espírito Santo de Deus colocou no coração o sentimento de serem responsáveis pelo rebanho. Não estou falando dos que são nomeados pelas religiões, apesar de poder acontecer de coincidir uma coisa com outra. Estou falando simplesmente de irmãos que revelam claramente ter este cuidado.
Quem os levantou? Numa época pós-apostólica essa ação não passa mais pelos apóstolos como era no passado, mas ainda temos o Espírito por detrás dessas escolhas. Mas seria correto chamar alguém pelo título? Não mais. Seria correto reconhecer seu trabalho? Sim. São eles “dirigentes de culto”? Nem pensar, pois já vimos que na ordem da reunião de 1 Coríntios 14, tal coisa não existe.
Mesmo assim pode ocorrer de alguns desses irmãos terem também um dom de ministério da Palavra e participarem mais ativamente das reuniões, mas pode também acontecer de um irmão mudo ter sido designado pelo Espírito de Deus para tal responsabilidade de cuidar dos assuntos da assembleia sem dizer uma palavra nas reuniões.
(Atos 20:28) “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo (e não uma faculdade de teologia ou uma junta de homens) vos constituiu bispos , para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”.