Devo subir ao monte para orar?

Existem muitos enganos ensinados nas denominações cristãs e “orar no monte” é um deles. Os argumentos costumam ser que foi no monte que Moisés teve um encontro com Deus e que Jesus costumava subir ao monte para orar. Outros argumentos são que se subirmos ao monte de madrugada para orar, além de estarmos imitando Jesus, ficaremos livres das distrações e ruídos da civilização. É claro que sempre que alguém cria uma ordenança qualquer irá encontrar na Bíblia versículos para comprovar sua doutrina, como é o caso do “orar no monte”:

(Sl 24:3-5) “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação”.

(Ex 24:13) “E levantou-se Moisés com Josué seu servidor; e subiu Moisés ao monte de Deus”.

(Ex 34:29) “E aconteceu que, descendo Moisés do monte Sinai trazia as duas tábuas do testemunho em suas mãos, sim, quando desceu do monte, Moisés não sabia que a pele do seu rosto resplandecia, depois que falara com ele”.

(Mc 1:35) “E, levantando-se de manhã, muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava”.

(Mt 14:23) “E, despedida a multidão, subiu ao monte para orar, à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só”.

Para quem lê a Bíblia como se fosse um manual de instruções certamente achará que alguns versículos são suficientes para confirmar que devemos agir da mesma maneira. Mas na Bíblia também existem versículos que mandam apedrejar pessoas, expulsar os leprosos da cidade, sacrificar animais e não comer peixe sem escamas. Certamente não basta existir um versículo na Bíblia, pois é preciso saber quando aquilo foi dito, para quem, em que circunstâncias, com qual objetivo, etc.

O primeiro erro está em não se compreender o que é Israel e o que é Igreja, dois povos distintos com promessas distintas e um futuro peculiar a cada um. Sem este entendimento iremos buscar no Antigo Testamento aquilo que nos agrada e transformar em doutrina, quando a única doutrina dada à igreja foi a “doutrina dos apóstolos” (Atos 2:42).

O Antigo Testamento, que inclui os evangelhos no que diz respeito às ordenanças e sacrifícios, eram figuras ou sombras de coisas ainda futuras, com as quais hoje podemos nos ocupar. Quem espera a chegada de uma visita se alegra quando vê a sombra da pessoa que está chegando, mas não vai servir café para a sombra; vai se ocupar com a pessoa real. (Rm 15:4; Colossenses 2:17; 1 Co 10:11; Hebreus 9:23).

Então vamos à doutrina dos apóstolos: Onde na doutrina dos apóstolos (ou em Atos que é um livro de transição) é dito que os cristãos devem subir a um monte para orar? Ou que a oração de madrugada tem maior eficácia? Em lugar nenhum. Encontramos os cristãos orando nos mais diferentes lugares (a maioria deles nas cidades), desde um calabouço até um cenáculo (andar superior), passando por casas térreas, beiras de rios e terraços.

À beira rio:

(Atos 16:13) “E no dia de sábado saímos fora das portas, para a beira do rio, onde se costumava fazer oração ; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali se ajuntaram”.

Calabouço:

(Atos 16:25) “E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam”.

Casa:

(Atos 12:12) “E, considerando ele nisto, foi à casa de Maria , mãe de João, que tinha por sobrenome Marcos, onde muitos estavam reunidos e oravam“.

No cenáculo (andar de cima):

(Atos 1:13-14) “E, entrando, subiram ao cenáculo , onde habitavam Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, irmão de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas“.

Terraço:

(Atos 10:9) “E no dia seguinte, indo eles seu caminho, e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao terraço para orar, quase à hora sexta”.

Todo lugar:

(1Tm 2:8) “Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar , levantando mãos santas, sem ira nem contenda”.

De dia e de noite:

(1Ts 3:10) “Orando abundantemente dia e noite , para que possamos ver o vosso rosto, e supramos o que falta à vossa fé?”.

Mas por que inventaram tal coisa como esse costume de “orar no monte” e de preferência “de madrugada”? Porque o homem religioso gosta de coisas difíceis, de fazer sacrifícios e penitências, porque isso lhe dá a impressão de ter se esforçado para cumprir uma ordenança e ter algum mérito. Você se lembra do que disse o servo de Naamã, o qual achou absurda a ideia de que um simples banho no rio Jordão iria curá-lo da lepra?

(2 Rs 5:13) “Meu pai, se o profeta te dissesse alguma grande coisa , porventura não a farias?”.

Os homens religiosos estão sempre em busca de grandes coisas, coisas difíceis, fardos pesados, porque isso dá a sensação de algum tipo de participação no que Deus faz. Então esses líderes religiosos de hoje insistem em colocar esses desafios aos que se submetem a eles, fazendo com que subam a uma montanha de madrugada com a promessa de que Deus lhes dará o que pedirem.

(Mt 23:4-5) “Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens”.

A ideia de que seja preciso sair da cidade para orar é justamente o contrário do que faziam os primeiros cristãos: eles oravam onde quer que estivessem, principalmente nas cidades.

Você já deve ter ouvido pessoas se gabando de terem “ido ao monte orar”, não é mesmo? A carne religiosa é assim mesmo. Porém o que seria dos portadores de deficiência, dos cadeirantes, dos idosos, daqueles com crianças pequenas e dos presidiários se Deus esperasse que subissem a algum monte no sereno da noite para orar?

Qualquer membro dessas religiões que “sobem ao monte” certamente terá um caso para contar de problemas que aconteceram nessas noites de oração no monte. Eu já ouvi de um rapaz morto por um raio, pessoas assaltadas, mulheres violentadas e até atacadas por animais. Isso sem falar dos casais de namorados que se afastaram do grupo e foram pegos fazendo algo que não tinha nada a ver com oração.