O Papa é o líder da igreja católica?
Você se diz preocupado por encontrar muitas pessoas apavoradas por boatos de que o novo Papa será o anticristo ou que João Paulo II irá ressuscitar. Segundo você relatou, existem até pessoas que estariam procurando fugir para um lugar seguro e em dúvida se devem sair do emprego, vender a casa, etc. Nem bem terminou o “fim do mundo” supostamente previsto pelas profecias maias e já estamos diante de outro pânico geral, e o mais triste é quando vemos aqueles que se dizem cristãos jogando lenha nessa fogueira de histeria coletiva.
Para tranquilizá-lo, entenda desde já que o líder da igreja católica não é o Papa, e as notícias envolvendo a renúncia do Papa Bento XVI ou Joseph Ratzinger ajudam a perceber isso. O líder da igreja católica romana é “Jezabel” , o sistema católico que é maior que os próprios papas e cardeais. As sete cartas às sete igrejas de Apocalipse 2 e 3 representam sete períodos e características do testemunho da igreja na terra. Hoje, de uma maneira geral, todos os cristãos fazem parte de Laodiceia, o último e mais lamentável estado da igreja na terra, mas os grandes movimentos (que também estão incluídos neste último estado) são caracterizados individualmente nas outras.
Por exemplo, Tiatira é o estabelecimento do catolicismo romano e Sardis é o protestantismo. Cada carta é dirigida ao “anjo” , ou seja, aos homens que têm responsabilidades no testemunho. Em Tiatira uma mulher se sobrepõe ao anjo, assim como na história de Israel era Jezabel quem realmente mandava em seu marido Acabe. Normalmente no catolicismo você ouve frases do tipo “a Igreja ensina...” , algo estranho às Escrituras, que proíbem a mulher de ensinar. “Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido” (1Tm 2:12). Portanto, não se preocupe: não é o Papa quem manda na igreja católica romana, mas é a igreja católica romana (a “mulher” ou “Jezabel”) que manda no Papa.
O texto abaixo faz parte de um livro de Bruce Anstey que estou traduzindo no blog “Ao Seu Nome” e poderá ajudar você a entender os detalhes do que estou falando, isto é, do significado de cada carta às sete igrejas de Apocalipse:
Estes capítulos trazem um esboço da história profética da igreja desde os primeiros dias, logo após os apóstolos, chegando até os últimos dias. Se seguirmos o curso de eventos apresentados nessas mensagens às sete igrejas veremos um declínio no testemunho cristão, até que finalmente chega-se a um ponto em que não há retorno, o que leva o Senhor a agir sobre o princípio de um testemunho remanescente.
Em Éfeso aprendemos que “o anjo da igreja” (os líderes responsáveis) julgava corretamente tudo o que fosse inconsistente com o Senhor. Ali diz “que não podes sofrer os maus”. Mas infelizmente seus corações não estavam com ele (Ap 2:2-4). Em Esmirna qualquer eventual aumento no declínio foi temporariamente pausado pelas grandes perseguições que se abateram sobre aquela igreja. A severidade da tribulação lhes fez retornar ao Senhor. Mas em Pérgamo, quando os tempos de grande perseguição haviam terminado, “o anjo da igreja” começou a tolerar alguns que tinham “a doutrina de Balaão” , que é o mundanismo e a idolatria. O anjo não foi acusado de ter essas doutrinas, mas o Senhor viu falta neles por não denunciarem o mal, como havia feito o anjo em Éfeso.
Em Tiatira ocorreu uma condição pior: “O anjo da igreja” permitiu que se ensinasse a mesma má doutrina e prática que havia sido combatida por alguns em Pérgamo! (Compare Ap 2:14 com 2:20). O que teve início com alguns professando má doutrina terminou em muitos ensinando a mesma má doutrina. Isto mostra que se a existência do mal não for julgada ele acabará sendo aceito. Em Tiatira o ensino daquele mal havia se desenvolvido em todo um sistema de coisas chamado “Jezabel” , que certamente corresponde ao catolicismo. Na Idade Média este sistema ímpio exercia um poder tão tirânico sobre a igreja como um todo, com seu poder e organização, que controlava até mesmo o anjo! Aqueles que ocupavam um lugar de responsabilidade haviam falhado em lidar com isso quando poderiam ter feito, e agora ele havia crescido em um monstro que os controlava! (Veja Atos 27:14-15. O “Euro-aquilão” , um forte vento mediterrâneo, tomou o controle da embarcação e a tripulação nada podia fazer senão se deixar levar: “E não podendo navegar contra o vento, dando de mão a tudo, nos deixamos ir à toa” ). A figura de “Jezabel” é adequadamente utilizada aqui, pois aquela mulher não somente introduziu formalmente a idolatria em Israel, como também controlava e manipulava seu marido, o rei Acabe.
Sendo esta a situação da condição pública da igreja, onde já não existia poder para lidar com o mal, o Senhor separou um remanescente, dizendo: “Mas eu vos digo a vós, e aos restantes [remanescentes]...”. Ele deixa de lado a grande massa de pessoas (Ap 2:24). Daquele momento em diante ele passou a trabalhar com um remanescente que podia ouvir o que o Espírito estava dizendo às igrejas. Aqui temos a palavra “remanescente” usada em conexão com o testemunho cristão. É significativo que o Senhor não tenha colocado “outra carga” ou responsabilidade de consertarem a confusão existente no testemunho cristão, num esforço de levar a igreja de volta ao seu estado original. Ao invés disso, ele dirigiu o foco deles para sua vinda, dizendo: “Mas o que tendes, retende-o até que eu venha” (Ap 2:25).
Daquele ponto em diante é vista uma notória mudança no modo de o Senhor tratar com a igreja. Até ali, nas três primeiras igrejas, a voz do Espírito era dirigida à igreja como um todo. “O que o Espírito diz às igrejas” vinha antes da promessa “ao que vencer”. Isto indica que a recompensa para o vencedor era colocada diante de toda a igreja, pois o Senhor ainda estava tratando com ela de um modo geral. Mas agora, deste ponto em diante, a ordem é revertida. O chamado para ouvir “o que o Espírito diz às igrejas” vem depois da promessa feita “ao que vencer”. Esta é a ordem nas últimas quatro igrejas. O que o Espírito tem a dizer com respeito à ordem na igreja já não é mais dado à multidão, mas apenas ao que vencer. A razão é que se supõe que apenas o vencedor irá escutar o que o Espírito está dizendo. Não se espera que as multidões venham a escutar e a se arrepender. A previsão de Paulo a Timóteo, de que as pessoas, em sua maioria, “não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências” havia se realizado (2Tm 4:2-3), e por isso o Espírito já não falava ao corpo como um todo.
Fazendo uma observação sobre tal mudança, J. N. Darby escreveu que o corpo como um todo é “deixado de lado” deste ponto em diante, pois a grande massa pública da profissão cristã é tratada como sendo incapaz de ouvir e se arrepender. William Kelly escreveu: “Desse momento em diante o Senhor apresenta a promessa [ao que vencer] primeiro, e isto porque é em vão esperar que a igreja como um todo venha a recebê-la... apenas um remanescente [a recebe], o vencedor, e a promessa é para eles; quanto aos outros, está tudo acabado”. Como resultado disso, o Senhor já não esperava que a massa da profissão cristã escutasse e voltasse ao ponto de onde havia se desviado. Qualquer ideia de recuperar a igreja como um todo é abandonada, já que ela atingiu um ponto em que não há volta. É por isso que eu não creio que o Espírito esteja necessariamente falando a todas as pessoas na cristandade hoje no que diz respeito à verdade de reunir. Com a maioria ele está simplesmente deixando que siga seu caminho junto às suas organizações denominacionais.
Trabalhando com um testemunho remanescente desde então, o Senhor tem tido o prazer de recuperar a verdade que foi perdida pelo descuido da igreja nos séculos anteriores. Todavia ele não parece achar apropriado recuperar a verdade toda de uma só vez. O remanescente mencionado em Apocalipse 2:24-29 é formado pelos Valdenses, Albigenses e outros grupos semelhantes que se separaram do mal de “Jezabel” nos tempos medievais. A eles foi dito “o que tendes, retende-o até que eu venha” , referindo-se àquela pequena medida de verdade que eles possuíam. Algum tempo depois, por ocasião da Reforma, o Senhor permitiu que um pouco mais de verdade fosse recuperada, a saber, a supremacia da Bíblia e a fé unicamente em Cristo para a salvação. Mas aquele movimento do Espírito foi frustrado pelos próprios reformadores, que se uniram a determinados governos em busca de ajuda contra as perseguições da Igreja de Roma. Aquilo foi o mesmo que recorrer à carne em busca de socorro, ao invés de depender do Senhor (Jr 17:5; Salmos 118:8-9; Isaías 31:1). O resultado foi a formação das grandes igrejas nacionais na cristandade e teve início aí o declínio do protestantismo, conforme é mostrado na igreja de Sardis (Ap 3:1-6).
Não foi senão até o início dos anos 1800 que o Senhor trouxe uma completa recuperação da verdade da “fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3). Isto aconteceu quando alguns saíram de todas as organizações formais criadas pelos homens na igreja e é mostrado na mensagem do Senhor à igreja de Filadélfia (Ap 3:7-13). Naquela ocasião Deus estabeleceu um testemunho corporativo da verdade do um só corpo. Antes dessa época o remanescente era formado por indivíduos que buscavam seguir adiante fielmente em separação da corrupção da igreja romana. Vivemos hoje nos dias em que cada homem faz aquilo que acha certo aos seus próprios olhos (Jz 21:25), e a maioria é complacente com esta lamentável condição. Isto é mostrado na igreja em Laodiceia (Ap 3:14-22).
O que nos interessa aqui é que o testemunho cristão atingiu um ponto de irremediável ruína, o que exigiu uma mudança no modo do Senhor tratá-lo. Ele abandonou qualquer tentativa de restaurar a condição pública da igreja e agora está trabalhando com um testemunho remanescente. Não se trata de dizer que os santos reunidos sejam exatamente o remanescente, mas sim que eles ocupam, eclesiasticamente falando e como testemunho , uma posição remanescente em meio à confusão que permeia a igreja. De um modo geral, o remanescente é formado por todos os verdadeiros crentes espalhados pela grande massa da mera profissão cristã na cristandade.
Assim como ocorreu com Israel, para manter hoje um testemunho remanescente da verdade de que há um só corpo, o Senhor não precisa ter todos os cristãos do mundo congregados ao seu Nome, mesmo que seja este o seu desejo para com eles. Como já foi mencionado, o próprio significado da palavra remanescente implica que nem todos estão ali. Em divina prerrogativa e graça Deus está tomando um aqui e outro ali e os está reunindo ao nome do Senhor, de modo que tal testemunho remanescente possa seguir adiante. A manutenção disso é uma obra soberana. Isto é visto na observação que o Senhor faz a Filadélfia: “O que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre” (Ap 3:7). Nem homens nem o diabo podem impedir sua continuação, embora tal testemunho possa parecer seguir em grande fraqueza. Por mais humilde que seja o testemunho, Deus não precisa de nenhum daqueles que ele reuniu, independente de quão espiritualmente dotados eles possam ser. Se não quisermos permanecer e abandonarmos, o Senhor irá reunir outros de modo que seu testemunho remanescente seja levado adiante até sua vinda. O fato de existir alguém reunido já é totalmente uma obra de Deus; a graça que salva uma alma é a mesma graça que reúne para o nome do Senhor. Se algum de nós escutou “o que o Espírito diz às igrejas” e enxergou a verdade de como reunir, isso foi só por ele ter aberto nossos ouvidos (Pv 20:12).
Traduzido de “Questions Young People Ask Regarding the Ground of Gathering for Christians - Good Questions That Deserve Good Answers” Vol. I e II, por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.