O batismo por aspersão é válido?

Não vejo qualquer problema. A ênfase do batismo está no que significa, e não propriamente no modo como é feito. Paulo batizou o carcereiro e sua família sem indicar como foi feito tal batismo. Muitos cristãos do primeiro século devem ter sido batizados nas prisões usando dos meios e condições disponíveis. Se perguntasse a um muçulmano se ele não veria problema em eu batizar seu filho em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo tenho certeza de que ele iria se opor, independente se o batismo fosse por imersão ou aspersão. No entendimento de um muçulmano, uma pessoa batizada se torna cristã, um entendimento que infelizmente muitos cristãos não têm.

Batizar é uma ordem que foi dada a quem batiza, portanto fica a critério deste como proceder, desde que seja com água, muita ou pouca. Quando meu avô estava morrendo de câncer os membros de uma determinada igreja evangélica, levados à sua casa por uma empregada que pertencia àquela denominação, queriam transportar meu avô até uma piscina e imergi-lo nas águas. Obviamente a família não permitiu, pois seu ventre estava aberto e cheio de tubos. Para aqueles “crentes”, ele não seria salvo a menos que passasse pelo batismo da “igreja” deles.

Outro exemplo: a ceia do Senhor biblicamente falando é realizada com pão e vinho, porém em uma conferência nos EUA que participei os irmãos precisaram usar pão e suco de uva, por terem alugado o salão de uma escola e lá ser proibido entrar com bebida alcoólica. Então, excepcionalmente, a ceia foi realizada daquele modo, mas não deixou de ter o mesmo significado. Vou traduzir abaixo alguns textos escritos por irmãos do século 19 e início do século 20 que poderão ajudar na compreensão do assunto:

“Quanto à imersão, por causa de 1 Coríntios 10 eu fico um pouco em dúvida se o batismo seria exclusivamente por imersão, mas não creio que originalmente ele tenha sido praticado por aspersão. No sistema (religioso) inglês, no início, a aspersão era permitida em caso de comprovada fragilidade da criança. No sistema grego a aspersão não é permitida de modo nenhum. Sepultado e morto é a ideia que traz a imersão, ao menos no sentido de se entrar na água e então ser coberto ou tê-la derramada sobre a cabeça, como aconteceu no mar e pela nuvem. Mas eu não repetiria um batismo feito com a intenção correta, só em função da quantidade de água utilizada ter sido muita ou pouca” J. N. Darby - Letters Vol. 1, number 253.

“A força do termo ‘batismo’ no Novo Testamento não depende nem um pouco da maneira como é realizado. Quando, no caso de Israel, ‘todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar’ (1 Co 1:10) eles não foram imersos nem numa ocasião, nem na outra, e tentar fazer a passagem significar que tivessem sido (imersos) seria absoluta tolice. Daquela maneira maravilhosa eles foram retirados de seu passado no Egito e introduzidos na escola de Moisés, tendo sido tal admissão acompanhada de uma maravilhosa lição do poder e majestade de um Deus Salvador...”.

“Quanto à maneira do batismo, alega-se que deve ser por imersão por causa do significado original da palavra que traz a ideia de sepultamento que sempre demos à mesma. Todavia, o fato de as cerimônias [judaicas] de aspersão mencionadas em Hebreus 6:2 serem chamadas de batismos, destrói o argumento geralmente feito de que apenas a imersão pode ser chamada de batismo. Também fica evidente que a palavra é usada em outras ocasiões onde não ocorreu imersão, como no caso do Mar Vermelho, e que a ênfase é colocada não sobre a maneira, mas sobre seus efeitos. Eu creio que seria impossível provar de vez que o modo bíblico seria a imersão, e muito menos que é disso que tudo depende”.

“Não existe um mandamento para todos serem batizados, como se fosse imperativo que cada crente por si mesmo tivesse a iniciativa de se batizar. O mandamento universal é dado apenas ao que batiza, deixando margem para ser aplicado de maneira diferente em diferentes casos. ‘Quem crer e for batizado’ é acrescentado à ordem de pregar o evangelho, que é o assunto; mas alguém que tenha sido batizado na infância e depois venha a crer já possui estes dois requisitos (crer e ser batizado). Que a ênfase está em crer no evangelho fica claro pela conclusão da passagem, ‘quem não crer será condenado’. Ninguém aplicaria isto às crianças”.

“O fato de o batismo não ser para se entrar na igreja demonstra que não tem a ver com a casa de Deus, que é a igreja. Também demonstra a razão pela qual uma diferença de interpretação acerca disso não poder excluir alguém da mesa do Senhor, a qual é o sinal de membresia no ‘um só corpo’ de Cristo (1 Co 10:17). O batismo é algo individual; a ceia do Senhor é uma comunhão coletiva”. - F. W. Grant, “Reasons for My Faith as to Baptism”.

“Fica evidente que a imersão era o procedimento bíblico, porém a aspersão se tornou comum e a profissão cristã é assim reconhecida. A água (muita ou pouca) significa associação com a morte de Cristo. O batismo não se refere ao estado subjetivo de espírito da pessoa no momento. O batismo não confere qualquer virtude ao batizado, é algo totalmente objetivo” T. Oliver - “Scripture Quarterly”.