Como um católico pode ser salvo se Deus condena a idolatria?
Você pergunta como um católico pode ser salvo se Deus condena a idolatria e afirma em sua Palavra que “ficarão de fora... os idólatras” (Ap 22:15), e “nem os idólatras... herdarão o reino de Deus” (1 Co 6:10)? Você disse que sempre achou que um católico poderia ser salvo, mas que antes de morrer, Deus o tiraria do catolicismo. Vamos ver se consigo responder suas dúvidas.
As pessoas pensam que a idolatria é tão antiga quanto os homens, mas não é assim. O homem inventou a idolatria depois de perder Deus de vista. Durante séculos o conhecimento de Deus foi passado de geração para geração, e antes do dilúvio isso era bem mais fácil pela longevidade dos habitantes da terra. Mas o homem, por ser uma criatura distinta dos animais, tem também um destino diferente: o homem é perpétuo, nunca mais deixará de existir, ao contrário do animal que desaparece por ser apenas corpo e alma (emoções), sem espírito.
(Ec 3:21) “Quem sabe que o fôlego do homem vai para cima, e que o fôlego dos animais vai para baixo da terra?”.
(Ec 12:7) “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”.
Mesmo depois de ter entrado o pecado na criação, o homem continuou ciente da existência de Deus e a princípio não criou deuses para si. Você se lembra de que a promessa da serpente não era de eles terem outros deuses, mas de serem eles próprios “como Deus”. Portanto, se pudermos chamar de idolatria também a veneração própria, então se pode dizer que ela tenha começado no Éden. Mas se estamos falando de deuses de pedra, barro e metal, então é bem posterior.
Não demorou para que o conhecimento de Deus fosse deixado de lado e a superstição tomasse o lugar. O homem sem Deus tem medo, e para aplacar esse medo se agarra a algo que acaba se transformando em seu ídolo. Esse algo podem ser meras criaturas (como os hindus e suas vacas sagradas), pode ser fruto de sua imaginação (duendes, fadas, elementais, elfos, etc.), demônios com os quais os homens querem se dar bem para evitar problemas (como no budismo tibetano e religiões africanas) e podem também ser outros homens mais destacados ou anjos (não os caídos), que os homens adotam por considerá-los superiores, uma categoria na qual também se encaixam seres humanos comumente chamados de “santos” no sentido religioso da palavra.
Falando no contexto bíblico, no primeiro caso cabem os egípcios, e sua adoração por gatos, escaravelhos, etc. No segundo teríamos os gregos, com seus deuses mitológicos que podem ou não ser reminiscências dos tempos em que anjos desceram à terra e tomaram mulheres para si, as quais geraram gigantes (no sentido de homens fortes e poderosos). No terceiro caso encontramos um exemplo em Atos 16:16, que infelizmente é traduzido de forma a não revelar o que movia aquela jovem possessa:
(Atos 16:16) “E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação [espírito de píton], a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores”.
No grego o sentido é que aquela jovem tinha espírito de Píton, pois era uma pitonisa. Píton é serpente, portanto não fica difícil entender quem está por trás das adivinhações de pitonisas, pessoas que adivinham sob transe. Cobras píton (ou pitão) são da espécie Pythonidae ou “constritoras” e sua característica é enrolar-se na vítima, imobilizá-la, tirar seu fôlego e então apossar-se dela.
Não poderia existir definição melhor para alguém em transe mediúnico: a pessoa perde os movimentos próprios, o fôlego que produz a fala não é mais seu e fica totalmente entregue ao demônio que a subjugou. Hoje você encontra muitas pitonisas como aquela jovem de Atos mesmo em igrejas evangélicas, sem falar nas religiões espiritualistas. Todavia aprendemos de 1 Coríntios 14 que “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas” , isto é, uma pessoa movida pelo Espírito de Deus continua com seu próprio espírito humano no controle.
Em 1 Coríntios 10:20 Paulo também fala dos demônios que atuam nas pessoas, ao escrever: “Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios”. Ele está escrevendo aos gregos, cuja idolatria podia envolver tanto a classe de animais, como de seres mitológicos, como de demônios (igual ao caso da pitonisa).
A última classe, de idolatria a homens e a anjos, você pode encontrar primeiro em Atos 10:26, quando Pedro corrige Cornélio, dizendo, “Ergue-te, que eu também sou homem”, e em Colossenses 2:18, que fala de “culto dos anjos, baseando-se em visões” , e também em Apocalipse 19:10 e 22:9, onde nas duas ocasiões o anjo rejeita a adoração do apóstolo João dizendo: “Não faças isso, eu sou conservo teu”.
Portanto é principalmente a estas classes de idolatria que a Bíblia se refere e o elemento comum em todas elas não é a fé, mas a superstição. Fé é crer no testemunho de Deus, superstição é crer no que a pessoa desejar crer. A fé neutraliza a superstição, mas é inegável que a superstição pode ser encontrada até entre os santos de Deus. Há vários exemplos disso no Antigo Testamento e há também este do apóstolo João, depois de tantos anos, ainda cometeu o deslize de prostrar-se diante do anjo para adorá-lo.
O importante é entender que mesmo em meio à superstição o homem nunca se esquece de Deus, e os gregos tinham até um altar ao “Deus desconhecido” , que foi o ponto de partida de Paulo para lhes pregar o evangelho. Os egípcios também tinham algo parecido, um Deus único e o mesmo é encontrado na religião Inca (um bom livro para entender isso é “Fator Melquisedeque” , de Don Richardson). O que muda é o grau de superstição (veja o apóstolo João, por exemplo, um veterano salvo por Cristo levando bronca de um anjo por causa de sua superstição!).
Mas o que tudo isso tem a ver com sua pergunta? Perceba que o verdadeiro Deus, que é um Deus de amor e de misericórdia, está sempre em “estado de espera”, como costumamos falar do computador com o monitor aparentemente apagado. Basta o mais leve toque para o sistema voltar à vida, e não é diferente com Deus e seu modo de agir para com o homem.
Considere isto: o homem, por mais supersticioso que seja, nunca perde a noção da existência do Deus verdadeiro, porque isto está em seu “DNA”, por assim dizer. E Deus nunca desiste do homem enquanto ele estiver vivo. O único Homem de quem Deus foi obrigado a desistir foi o seu próprio Filho, Jesus, quando foi abandonado na cruz por estar ali carregando nossos pecados e ter sido feito pecado por nós. Essa foi uma obra estranha à natureza de Deus, mas necessária para nos salvar.
(Sl 37:25) “Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo“.
(Sl 22:1) “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?“.
(Jó 34:14-15) “Se ele [Deus] pusesse o seu coração contra o homem, e recolhesse para si o seu espírito e o seu fôlego, Toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó“.
Portanto volto a afirmar: Deus não desiste do homem até o último suspiro, pois ele é misericordioso. Porém esta não é a disposição do homem, que é cruel e sempre pronto a condenar ao lago de fogo quem não frequentar uma determinada religião ou que não estiver praticando algo que ele pratica porque está em sua lista de boas obras (já reparou que o fariseu no Templo fala de jejuar de uma forma que nunca é encontrada na Bíblia? Ele havia inventado sua própria lista do que considerava boas obras).
(1 Cr 21:13) “Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; caia eu, pois, nas mãos do Senhor, porque são muitíssimas as suas misericórdias; mas que eu não caia nas mãos dos homens“.
Entenda que não estou dizendo aqui que podemos ser supersticiosos, idólatras ou mundanos que não há qualquer problema nisso. Estou mostrando que Deus quer salvar, e o homem não é misericordioso como seu próprio Criador. Um exemplo? Nem bem aconteceu a notícia da tragédia numa boate em Santa Maria, Rio Grande do Sul, e você já encontrava na seção de comentários dos sites de notícias pessoas “religiosas” fazendo suas acusações costumeiras, um dizendo que isso aconteceu porque os “gaúchos são muito orgulhosos”, outros porque “os jovens não deveriam estar ali dançando”, etc.
Tenho certeza de que você já ouviu esse tipo de julgamento por “religiosos” quando souberam da morte de alguém que não rezava pela mesma cartilha. É assim porque nós, ao contrário do Senhor, não somos misericordiosos, porém cruéis por natureza. E, obviamente, julgamos tudo não segundo a reta justiça, mas segundo o molde de religiosidade que criamos para nós mesmos, o que também não é diferente de superstição: acabamos querendo ser o padrão, e voltamos ao sussurro da serpente: “Sereis como Deus...”.
E Jesus, diante da morte de Lázaro, o que fez? Chorou. Aquele que voltará um dia para julgar vivos e mortos, não julgou Lázaro. Ele chorou. Ele não disse algo do tipo, “Eu disse para Lázaro diminuir o vinho...” , ou “É nisso que dá não cuidar da saúde...” , ou “Se ele tivesse fé em mim teria sido curado, mesmo eu estando longe...”.
Ele não fez igual aos “amigos” ( mui amigos... ) de Jó, que até estavam indo muito bem enquanto mantiveram suas bocas fechadas, mas depois só acrescentaram dores e sofrimentos àquele que tinha um testemunho da boca de Deus de que “ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal” (Jó 1:8). Mesmo assim eles massacraram Jó com todo tipo de acusação, só para no final Deus dizer para Jó interceder por seus equivocados amigos, o que Jó obviamente fez.
Portanto, a pessoa mais pecadora da face da terra, a mais supersticiosa, a mais idólatra, se tão somente crer no testemunho que Deus dá de seu filho, ela é IMEDIATAMENTE salva. Mesmo que não tenha tido tempo de tirar as medalhinhas que carrega no pescoço ou desmontar o altar cheio de ídolos que tem em casa. Veja que foi depois de se converterem que os que seguiam artes mágicas se livraram dos objetos de sua superstição:
(Atos 19:18-19) “E muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos. Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata”.
Uma pessoa pode já ter sido salva pela fé em Cristo, mas ainda carregar em si sentimentos supersticiosos, e é por isso que tenho a certeza de que muitos católicos que verdadeiramente creem no Salvador estão salvos e irei encontrá-los no céu. Não por serem católicos, evidentemente, mas porque em algum momento o Espírito Santo de Deus tocou neles e creram no Salvador.
E a superstição? Não precisariam largá-la para serem salvos? Não coloque o carro na frente dos bois. A limpeza vem depois, mas nunca o tempo da faxina é igual para todos. Você sabe quantos anos de idade o apóstolo João tinha quando se prostrou para adorar o anjo? Mais de 92. Se ele tivesse uns 20 anos quando começou a seguir a Jesus, veja quanto tempo ele viveu com esse sentimento supersticioso até levar a bronca do anjo. Você diria que nesse período todo João ainda não tinha tido seus pecados perdoados e a salvação garantida? Nem ousaria. E ele próprio sabia que em si mesmo tinha muitas arestas a serem lapidadas, pois escreveu:
(1 João 1:8-10) “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós”.
Mas certamente Deus, que começa a obra na vida de uma pessoa com o novo nascimento, passando pela conversão e indo por todo o trajeto da santificação prática, terá a sua “encomenda” pronta para o céu no momento em que vier buscá-la. É isto o que a Bíblia nos garante:
(1 Co 1:7-8) “...nosso Senhor Jesus Cristo, O qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo“.
(Fp 1:6) “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo ;”.
(Jo 14:19) “...porque eu vivo, e vós vivereis”.
(Jo 10:28) “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão“.
Portanto, quando você ouvir alguém dizer, “Imagine que fulana está salva! Ela diz crer em Jesus, mas ainda é católica e tem todos aqueles ídolos em casa!” , ou “Nem pensar que a fé de fulano seja real! Outro dia eu o vi na porta do bar!”. O que responder? Simples: diga para a pessoa esperar até o filme terminar. Alguns filmes você não entende se sair antes e não assistir até o último minuto, que é quando tudo fica resolvido. Assim é também nas coisas de Deus. Primeiro somos completamente salvos, lavados, purificados e santificados pelo sangue de Cristo, ficando assim aptos para o céu. Depois começa em nós um processo de santificação prática, a expressão visível daquela santificação absoluta, que vai durar até o último segundo de nossa existência na terra.
Portanto, quando o assunto é superstição e idolatria, essas coisas não existem somente no catolicismo. Elas permeiam, e muito, as igrejas evangélicas, com milhões de pessoas correndo atrás de curas e milagres ao invés de se ocuparem com Cristo. Isto quando não estão ali para adorar Mamom, que hoje se apresenta na forma de um carro importado, uma mansão ou um negócio próprio. Existem salvos ali? Evidentemente, como também existem na igreja católica.
Mas e seus pregadores corrompidos pela ganância, estariam eles salvos? Deus saberia dizer. Mas é bem provável que muitos dos salvos no catolicismo e no protestantismo, que ouviram a Palavra de Deus pregada por bocas não convertidas, cheguem ao céu, deem uma olhada em redor, e perguntem: “Ué! Onde está o ‘bispo’ fulano, o ‘pastor’ sicrano, o ‘padre’ beltrano, o ‘missionário’ tal e o ‘evangelista’ tal? Eu jurava que os encontraria aqui!”.
Por outro lado também não será de surpreender que na condenação eterna existam aqueles que nunca quiseram crer em Cristo com a desculpa que esses líderes religiosos enganavam o povo, só para acabarem descobrindo que compartilharão com eles de um mesmo destino. Felizmente para todos, não é quem prega, mas a Palavra de Deus, que leva uma alma à salvação. E não é o estado visível daquele que creu em Jesus que determina seu destino eterno. É o fim de sua carreira, e isso inclui também aqueles em posição de guias do povo de Deus.
(Hb 13:7) “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente O FIM DA SUA VIDA , imitai a fé que tiveram“.
Agora, para tirar qualquer dúvida quanto à possibilidade de alguém que faça parte da igreja católica poder ter a salvação pela fé em Jesus considere isto. No ano 312 o Imperador Constantino decidiu unir o Império Romano sob uma igreja universal, fazendo de Roma não só a sede do Império, mas também do cristianismo. No ano 380 o Imperador Teodósio emitiu um edito chamado “De Fide Católica” na cidade de Tessalônica, o qual foi publicado em Constantinopla, declarando o cristianismo católico como a religião oficial do Império Romano.
Portanto, durante muitos séculos quem fosse cristão seria automaticamente membro da igreja católica. Foi só muito depois que surgiram alguns movimentos contrários à igreja de Roma, os quais foram duramente perseguidos e muitos massacrados. Por volta do ano mil e alguma coisa houve uma divisão que deu origem à igreja ortodoxa, que se espalhou mais pelo Oriente. A reforma protestante só viria a acontecer por volta de 1500.
Agora faça as contas (arredondando): De cerca de 400 a 1500 são 1100 anos. Ao afirmar que nenhum católico pode ser salvo (mesmo se crer em Cristo) se for católico você está afirmando que durante 1100 anos ninguém teve a salvação e nesse período a entrada para o céu esteve fechada porque o catolicismo era algo compulsório.
Felizmente a salvação não depende de estar ou não estar em alguma organização religiosa; a salvação depende apenas de crer em Cristo, o Salvador.