Jesus era sem pecado?
A ideia de que Cristo teria em si o pecado original, a mesma natureza que todo homem tem, porém que passou a vida toda sem pecar, faria de Jesus um pecador igualmente necessitado de um Salvador. O sacrifício de Cristo não foi apenas para levar os nossos pecados , mas para tirar o pecado do mundo. Alguém que tivesse em si mesmo o pecado não poderia ter feito nem uma coisa nem outra, pois não teria sido aceito por Deus como o Cordeiro perfeito.
O cordeiro do sacrifício, que era uma figura de Cristo no Antigo Testamento, devia ser sem mancha ou defeito. O pecado é um defeito com o qual nascemos e mesmo antes de pecarmos já somos pecadores por natureza. Se Jesus tivesse nascido pecador não poderia ser o sacrifício por nós. Seria preciso outro morrer pelo pecado dele.
A passagem em Hebreus mostra isso:
(Hb 4:15) “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado“.
(Hb 4:15) “For we have not a high priest not able to sympathise with our infirmities, but tempted in all things in like manner, sin apart“.(Versão Darby).
Não diz sem pecar, mas sem pecado, ou “pecado à parte” numa tradução mais literal. Sem a natureza caída. É por isso que ele vem da mulher; Maria foi o receptáculo (a parte receptiva), mas o princípio ativo da concepção, ao invés de ter sido um homem trazendo o pecado em si, foi o Espírito Santo de Deus.
Se Cristo pudesse herdar o pecado pelo fato de ter nascido de mulher, como você argumenta, então para quê Deus iria deixar claro que não nasceu de uma relação normal entre homem e mulher? Daria no mesmo ele ter sido gerado por um homem, se de qualquer maneira tivesse nascido pecador. E assim Deus poderia ter escolhido João Batista ou qualquer outro para ser um sacrifício, se a natureza da pessoa não fosse importante. E pense mais longe: seria possível que Deus escolhesse para si um tabernáculo (corpo) arruinado, entrando no mundo na forma de um Deus-Pecador? A mera suposição de tal coisa deveria incomodar qualquer genuíno filho de Deus.
A fé cristã permanece ou cai em função do que pensamos de Cristo. A primeira coisa que o diabo procura atacar é sua divindade; depois irá tentar macular sua natureza santa e sem pecado, pois fazendo assim torna Cristo um sacrifício que precisaria de um sacrifício para si mesmo; faz dele um homem comum, talvez apenas mais perseverante em suas convicções, mas mesmo assim um homem pecador e necessitado de um Salvador.
O capítulo 9 de Hebreus mostra a diferença entre Cristo e um sacerdote humano, o qual oferecia sacrifícios que eram para memória dos pecados e não tinham o poder de tirar pecados. O contraste é apontado ao indicar que Cristo, se fosse um homem qualquer, precisaria ter se sacrificado muitas vezes, mas por ser quem ele é, bastou um sacrifício.
(Hb 9:6-28) “Ora, estando estas coisas assim preparadas, a todo o tempo entravam os sacerdotes no primeiro tabernáculo, cumprindo os serviços; Mas, no segundo, só o sumo sacerdote, uma vez no ano, não sem sangue, que oferecia por si mesmo e pelas culpas do povo; Dando nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo, Que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço [ou seja, o sacerdote humano, o que já descartaria a ideia de Cristo ter morrido por sua própria natureza pecadora se ele tivesse tal coisa] ... Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo , não feito por mãos, isto é, não desta criação, Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção. Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação da carne, Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a deus , purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? E por isso é Mediador de um novo testamento.... E sem derramamento de sangue não há remissão. De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem; mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes. Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus; Nem também para a si mesmo se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no santuário com sangue alheio; de outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes d esde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado [singular, a raiz do problema] pelo sacrifício de si mesmo. E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados [plural, os frutos do pecado-raiz] de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação.”.
Se Cristo tivesse em si o pecado (a natureza arruinada de Adão) não poderia ter se oferecido a Deus “imaculado” , como diz o versículo 14. Além disso é preciso lembrar que Jesus é Deus e nunca deixou de ser Deus em sua natureza, e seria impossível sequer supor que Deus pudesse pecar, o que seria uma possibilidade se a sua teoria (de Jesus ter em si a natureza de Adão) estivesse certa. E considerando que ele tem hoje no céu a mesma natureza que teve enquanto andou na terra, então haveria um homem pecador no céu, já que não houve um cordeiro sem mancha que tivesse morrido por ele.
Às vezes o mal entendido vem da ideia de que só nos tornamos pecadores quando cometemos nosso primeiro pecado. Tal ideia é falsa. O sacrifício de Cristo atendeu até mesmo aqueles que nunca cometeram um pecado, como os abortos, natimortos ou pessoas que nascem e vivem em estado vegetativo. Todos eles trazem em si a natureza herdada de Adão, e por isso precisam igualmente do sangue de Cristo para torná-los aptos para a presença de Deus.
Quando você lê atentamente a Carta aos Romanos percebe que até certo ponto o assunto ali é o “pecado” (no singular) falando da natureza. Depois é que o assunto “pecados” (no plural) é tratado, falando dos frutos da natureza pecaminosa. Jesus não tinha o “pecado” , a natureza caída, e por isso não podia pecar (cometer “pecados” ).
(1 Pe 1:18-19) “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado“.
Jesus não seria o Cordeiro imaculado e incontaminado se nele existisse qualquer mácula (mancha) ou contaminação da natureza caída herdada de Adão. Como poderia o sacrifício de alguém portador da natureza pecadora e arruinada de Adão ser eficaz para pessoas igualmente pecadoras? Não poderia. Mas o sacrifício de Cristo fez isso, pois o seu sangue tinha essa diferença infinita e podia resgatar o pecador, caso contrário ele precisaria também de alguém para resgatá-lo.
(Cl 1:20-22) “E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis ,”.