Posso orar por um animal de estimação?
Esta é uma pergunta difícil de responder, pois não encontro nenhum caso nas Escrituras de alguém orando por um animal. Mas não seria de todo estranho se pensássemos na relação e importância que o animal tem para o homem, no que o animal pode representar para alguém. Por exemplo, se eu tivesse um filho pequeno cujo cãozinho adoeceu, e isto estivesse fazendo meu filho sofrer, eu oraria ao Pai por meu filho e pela cura do cãozinho, que é a razão do sofrimento.
Mas certamente eu oraria não apenas no sentido de curar o cãozinho para deixar meu filho feliz, mas também no sentido de usar aquele sofrimento para ensinar a meu filho sobre as tristes consequências do pecado do homem que arruinou toda a Criação de Deus, inclusive os animais. Mas que fosse feita a vontade do Pai, e não a minha ou de meu filho, sempre tendo em mente que os animais foram criados para o bem-estar do homem que é a coroa da criação, e não o contrário.
(Rm 8:19-22) “Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou , na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora“.
É importante fazer uma ressalva aqui: ao contrário dos seres humanos, que têm corpo, alma e espírito, os animais têm apenas corpo e alma (a alma é a parte dos sentimentos), mas não espírito (que é nossa parcela imortal e nos faz semelhantes a Deus). Então seria um absurdo orar pela salvação espiritual de um cão ou de um porco, pois eles deixam de existir quando seus corpos morrem, mas não tão absurdo orar por sua saúde naquilo que ela tem alguma relação com o bem estar humano.
Alguns podem achar uma ideia absurda preocupar-se com um animal, mas isto é talvez por pensarem naquele poodle que não tem uma função maior do que alegrar a família. Porém em muitos casos os animais são indispensáveis à própria sobrevivência humana. Um pastor de ovelhas nos tempos bíblicos poderia ter dificuldades caso viesse a perder seu cão que protegia as ovelhas contra os lobos. O cão era seu instrumento de trabalho. Nós hoje oramos para que o carro ou a moto que usamos para trabalhar e foi roubada seja encontrada. Por que um pastor de ovelhas daquela época não poderia fazer o mesmo com respeito ao seu cão?
Um fazendeiro hoje que dependa de seu gado para a subsistência de sua família certamente irá orar pelo rebanho caso este seja atingido por uma doença. Se ele perder suas vacas poderá perder as terras, ficar sem emprego e sua família passará fome. Por outro lado, ao orar pela cura das vacas ele estará orando a Deus para dizimar as bactérias ou vírus causadores da doença, o que não deixa de ser uma maldição sobre seres microscópicos que têm o mesmo direito de viver dos grandes mamíferos.
Portanto, antes de adotar uma atitude piegas de falsa humanidade e preocupação por seu cãozinho de estimação, entenda que a sobrevivência dele pode significar a morte de outros seres vivos que dependem dele, ou mesmo a fome dos vermes que porventura teriam alimento garantido caso seu cãozinho viesse a morrer.
Posso parecer um pouco malévolo nesta comparação, mas é a realidade e um cristão não pode fugir dela achando que vivemos num mundo perfeito. Não vivemos. Tudo aqui cheira a morte e todos os dias matamos milhões de seres vivos ao jogarmos desinfetante na privada. Mesmo que você seja vegetariano por questões de consciência religiosa, é melhor rever suas crenças antes de tomar um antibiótico. Você talvez tenha de decidir quem deve morrer: você ou as bactérias.
Mesmo assim é bom verificar o que Deus pensa dos animais para não cairmos no outro extremo, que é o de os tratarmos com sadismo e violência. Numa cultura como a dos tempos bíblicos, em que quase não se usava dinheiro, o cartão de crédito tinha quatro patas. Por isso era normal que Deus se preocupasse com os animais: eles eram o meio de subsistência dos humanos. Veja, por exemplo, a preocupação que Deus tinha, não só com os habitantes de Nínive, mas também com seus animais:
(Jo 4:11) “E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais ?”.
Se Deus não se preocupasse com os animais teria mandado Noé fazer uma arca só para sua família. Seria um barco bem menor e teria dado muito menos trabalho. Por que Deus se preocupava com os animais? Porque eles faziam parte da sobrevivência humana. Na Bíblia vemos que os animais foram criados em função do homem, e não o contrário, e o homem foi colocado sobre cabeça de toda a Criação (e falhou nisto também).
(Gn 2:19-20) “Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome. E Adão pós os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo ;”.
(Gn 9:2-3) “E o temor de vós e o pavor de vós virão sobre todo o animal da terra, e sobre toda a ave dos céus; tudo o que se move sobre a terra, e todos os peixes do mar, nas vossas mãos são entregues. Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado como a erva verde”.
Mas ainda que usemos os animais para alimento, carga, experimentos médicos, obtenção de órgãos, matéria prima industrial ou outra função, devemos sempre nos lembrar de agradecer a Deus sabendo que os animais pertencem a ele, não a nós, e é pelo cuidado que Deus tem por nós que nos é permitido utilizar daquilo que pertence a ele.
(Sl 50:10-11) “Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de montanhas. Conheço todas as aves dos montes; e minhas são todas as feras do campo“.
Portanto devemos sempre enxergar a questão dos animais em sua relação com o homem, ou perderemos de vista o padrão bíblico. Muitos movimentos de proteção aos animais tropeçam nisto e querem colocar os animais com os mesmos direitos que têm os seres humanos, ou às vezes acabam protegendo os animais em detrimento da vida humana. Mas não é assim que somos ensinados na Bíblia, portanto, ao orarmos pela saúde de um animal, de estimação ou rebanho, devemos entender que estamos na verdade orando por seu dono, pela solução para aquilo que o aflige, por sua fonte de subsistência. A razão é simples: o que vale mais para Deus, um pardal ou um ser humano? Um ser humano, evidentemente. O próprio Jesus afirmou isto:
(Mt 10:29-31) “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos“.
(Mt 6:26) “Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?“.
Mas isto não nos dá o direito de sermos cruéis com as criaturas das quais Deus cuida e alimenta.
(Pv 12:10) “O justo tem consideração pela vida dos seus animais , mas as afeições dos ímpios são cruéis”.