O que fiz foi um casamento válido?
Vou tentar resumir a história que você contou e espero não errar na ordem dos acontecimentos. Você diz ser convertido a Cristo e saber que sexo antes do casamento é pecado. Então você começou a namorar uma garota incrédula que se converteu por meio de seu testemunho e com quem passou a ter relações sexuais.
Aí você ficou num dilema, pois não queria ter relações sexuais antes do casamento, e ao mesmo tempo não queria parar de tê-las. Casar-se estava fora de questão por não poder arcar com isso, portanto você orou a Deus para que ele unisse vocês dois em matrimônio. Na sua cabeça, se Deus não a afastasse de você isto seria um sinal de que sua oração teria sido ouvida.
Seguindo esse raciocínio você teria obedecido 1 Coríntios 7:9, que diz: “Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se”. Tendo celebrado esse “casamento espiritual” deixaria de viver “abrasado” e poderia ter relações com sua parceira. Você disse que a situação atual trouxe muitas vantagens, como você ter conseguido ter a mente mais fixa e fazer sexo com menor frequência do que fazia, além de conseguir orar melhor sem ser assolado pela dúvida se estava ou não agindo corretamente.
Então você pergunta: “Meu casamento foi válido?”.
Se você pergunta é porque as “mudanças” que citou acima de nada valeram para aplacar sua consciência, já que ainda continua em dúvida. Se você acha que seu casamento foi válido, por que coloca “fazer sexo com menor frequência” como uma das vantagens adquiridas com seu “casamento espiritual”? Não há nada que determine quantas vezes marido e mulher podem fazer sexo, mas no caso de solteiros o número é “zero”.
Sim, você tem razão quando diz que é Deus, e não um homem como padre ou pastor, que une um casal, mas está errado ao pensar que o matrimônio bíblico é algo feito nos bastidores. Não é. Como todo contrato bíblico, o matrimônio é um compromisso público com a participação de testemunhas. Em nossa sociedade, apesar de continuar sendo Deus quem une, o juiz de paz recebeu de Deus autoridade para realizar essa união perante os homens. Por isso a certidão de casamento é uma certidão pública. As bodas de Caná não foram um acordo de alcova e as bodas do Cordeiro, que será a concretização daquilo que o matrimônio entre um noivo e uma noiva prefigura, será um evento visto por milhões de milhões de anjos e seres humanos.
Então a resposta mais curta é: não, seu casamento não foi válido e vocês estão vivendo em fornicação.
Seu relato todo mostra muito bem que você quis fazer com que Deus se dobrasse à sua própria vontade e este é um erro comum. As pessoas decidem algo e depois oram buscando que Deus dê sua aprovação para aquilo que já decidiram fazer ou efetivamente fizeram, ao invés de perguntarem a Deus qual a vontade dele.
Há orações que fazemos porque não sabemos a vontade de Deus (por exemplo, quero comprar uma casa e posso orar pedindo a direção de Deus se devo comprar ou não). Oro assim porque não existe na Bíblia algo como “Comprarás uma casa” ou “Não comprarás uma casa”, daí minha dúvida e necessidade de buscar a Deus. Mas quando há na Palavra de Deus instruções claras sobre algum assunto, não há razão para orar a respeito.
Vou dar um exemplo: você conhece uma garota incrédula e passa a orar a Deus para saber se é da vontade dele que comece um relacionamento sério com ela. Orar assim é perder tempo, porque Deus já lhe deu a resposta antes mesmo de orar:
(2 Co 6:14) “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis ; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?”.
Outro exemplo: Você decide dormir com sua namorada e ora a Deus para saber se ele aprova isso. Isso é o mesmo que orar se deve ou não pisar no freio ao se aproximar de uma esquina com uma enorme placa que diz “PARE”. A fornicação ou sexo entre solteiros é condenada em várias passagens da Bíblia, e antes que alguém queira discutir se a raiz grega da palavra fala ou não efetivamente de sexo antes do casamento, é só olhar como a Palavra de Deus se refere a duas classes de pessoas, casados e solteiros. À última classe ela dá o nome de “virgens”.
(1 Co 7:28-34) “Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar , não peca... Há diferença entre a mulher casada e a virgem. A solteira cuida das coisas do Senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém, a casada cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido”.
Portanto meu conselho é este: vá com sua namorada ao cartório mais próximo e providencie seu casamento no civil para não estar mais vivendo uma situação de fornicação, já que vocês decidiram que é assim que pretendem viver. Ou então parem de ter relações sexuais e confessem o pecado que têm cometido, não só a Deus, mas também aos irmãos com os quais vocês têm comunhão. “Um pouco de fermento leveda toda a massa” (1 Co 5) , escreveu Paulo referindo-se a um caso de pecado de fornicação para o qual os cristãos de Corinto estavam fazendo vista grossa. A questão não só devia ser trazida à tona, como o envolvido precisava ser julgado pela assembleia e expulso da comunhão (excomungado).
Talvez você alegue que hoje existe na lei a previsão da união estável, que não é o seu caso, pois há alguns requisitos que vocês não preenchem. A união estável não é considerada a mesma coisa que um matrimônio pela simples razão de continuar existindo o matrimônio civil. A união estável procura resguardar os direitos de uma sociedade na qual duas pessoas já vivem, para tirá-las da informalidade e evitar problemas na divisão dos bens em caso de separação. Mas mesmo cristãos que desfrutem de uma união estável devem procurar cumprir a lei dos homens, casando-se.