O ato sexual é o que une o casal?
Alguém disse a você que um homem que teve uma relação sexual com uma prostituta não pode mais se casar. A ideia é que a relação sexual tornaria aquele homem uma só carne com a prostituta, e se a Palavra de Deus diz que o marido e a mulher se unem para se tornarem uma só carne, aquele homem já teria feito isso com a prostituta, portanto, estaria casado com ela. Uau! Quando eu pensava que já tinha escutado de tudo surge mais essa interpretação completamente distorcida das Escrituras.
O apóstolo Paulo nos alertou contra os que tentam tirar conclusões equivocadas da Palavra de Deus utilizando a própria Palavra de Deus fora do contexto. Por exemplo, em Romanos 3:7-8:
“Mas, se pela minha mentira abundou mais a verdade de Deus para glória sua, por que sou eu ainda julgado também como pecador? E por que não dizemos (como somos blasfemados, e como alguns dizem que dizemos): Façamos males, para que venham bens? A condenação desses é justa”.
Esse tipo de raciocínio é perigosíssimo: “Se pelo pecado Deus trouxe bênção, então vamos pecar mais para Deus trazer mais bênçãos”. É basicamente a mesma linha de raciocínio que a pessoa tentou usar, pois se existe uma passagem que fala do matrimônio dizendo que o homem deixa seu pai e sua mãe e se une à esposa e os dois se tornam uma só carne, então por existir outra passagem que diz que aquele que se une a uma prostituta torna-se assim uma carne com ela, estaria consumando um matrimônio!
Porém, embora o ato conjugal possa ser considerado a consumação de um matrimônio, não é este que dá a um homem e uma mulher o status de casados; eles já estavam casados no momento em que se uniram em matrimônio, e qualquer pessoa sensata entenderá assim. Seria estranho alguém dizer que foi ao casamento de fulano querendo com isso insinuar que assistiu ao que ocorreu no quarto do casal na lua de mel.
Além disso, o contexto da passagem de 1 Coríntios 6 é diferente do contexto de Efésios 5. Em Efésios o assunto é sim a união conjugal entre um homem e uma mulher, isto é, o matrimônio, também mostrado como uma figura de Cristo e sua Igreja. Em 1 Coríntios o assunto é o corpo do cristão e de como este deve ser conservado puro e livre de contaminações e associações pecaminosas, já que o cristão é individualmente membro do corpo de Cristo. Em Efésios trata-se da relação entre o corpo de Cristo (formado por membros individuais) e a cabeça, que é Cristo, e em 1 Coríntios trata-se da relação entre o corpo do crente individualmente como membro do corpo de Cristo. Compare as passagens:
(Ef 5:24-32) “De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos. Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja; porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja”.
(1 Co 6:13-20) “Os alimentos são para o estômago e o estômago para os alimentos; Deus, porém, aniquilará tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo. Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu poder. Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo, e fa-los-ei membros de uma meretriz? Não, por certo. Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne. Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito. Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”.
Quando duas pessoas decidem se unir em matrimônio na presença de duas testemunhas dentro das prerrogativas estabelecidas por Deus para a formação de um novo núcleo familiar, essa união é sancionada por Deus, isto é, Deus une. Se no país existirem leis exigindo alguma formalização civil dessa união, o casal apresenta-se a um juiz de paz e este, com a autoridade que lhe foi concedida pelo Estado, declara o homem e a mulher casados.
Se não existirem cartórios ou coisa semelhante, um matrimônio realizado na presença de duas testemunhas continua sendo um matrimônio, seja ele ministrado pelo pároco, pastor ou chefe da tribo. É a presença das testemunhas que determina um contrato matrimonial. A presença do oficiante ocorre quando a lei local assim exigir. Obviamente a união sexual de um homem e uma mulher fora do matrimônio, ainda que se constitua uma união física, não é um casamento pois dificilmente isso será feito na presença de duas testemunhas, como é exigido em qualquer contrato ou acordo, na Bíblia ou fora dela.
Se existir dúvida quanto a isso, podemos nos valer da declaração que o Senhor Jesus fez à mulher samaritana, que tinha mantido relações sexuais com seis homens diferentes e nenhum deles era seu marido aos olhos de Deus:
(Jo 4:16-18) “Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu, e disse: não tenho marido. Disse-lhe Jesus: disseste bem: não tenho marido; porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade”.
Embora alguns possam interpretar isso como se ela tivesse sido legalmente casada cinco vezes, e tivesse ficado viúva ou sido abandonada por todos seus maridos, o fato de conviver sexualmente com seu atual companheiro não fazia dele seu marido de fato, demonstrando assim que não é o ato sexual que une um casal em matrimônio.