Você faz aconselhamento matrimonial?
Você escreveu perguntando se faço aconselhamento matrimonial. Não, primeiro porque eu não seria a pessoa mais indicada para isso, visto que sou divorciado. Meu matrimônio fracassou, portanto não me sinto à vontade para aconselhar outros numa área em que falhei. Antes que pergunte, não houve adultério envolvido em minha separação, portanto considero que o vínculo matrimonial não foi rompido.
A outra razão de não fazer aconselhamento matrimonial ou de relacionamentos afetivos é que as coisas que envolvem um casal são multifacetadas. Alguém de fora dificilmente perceberia todas as facetas que levam ao conflito entre um casal e acabaria tomando as dores do que busca conselhos. Sempre que alguém busca por aconselhamento traz sua própria versão dos fatos e seria temeroso basear-me apenas nisso para aconselhar. Dou alguns exemplos de como as coisas parecem ser o que não são quando vistas por alguém de fora:
Um rapaz foi preso acusado de homicídio por dirigir alcoolizado quando seu carro capotou e sua irmã morreu. As pessoas que o tiraram do carro acidentado foram arroladas como testemunhas no processo. Um advogado decidiu reabrir o caso e descobriu que tudo se baseou na afirmação das testemunhas que socorreram o rapaz de que o rapaz tinha sido tirado do lado do motorista, portanto devia ser ele o condutor. O rapaz realmente estava alcoolizado, mas não estava dirigindo. Os que o socorreram, na pressa e calor do momento, tiraram o rapaz do que pensaram ser o lado do motorista, o lado esquerdo do carro. Mas como o carro estava de rodas para cima, aquele era na verdade, o banco do passageiro. Era a irmã do rapaz quem dirigia o carro, provavelmente por ele estar muito bêbado na volta da festa. Só então o rapaz foi solto.
Outro exemplo: Um policial foi chamado para atender um caso de tentativa de homicídio. Ao chegar lá viu um homem agarrando uma mulher e com uma faca em seu pescoço prestes a cortá-lo. Quando viu o policial, o agressor partiu para cima dele com a faca, e o policial, em legítima defesa, atirou. O homem rodopiou e caiu. Felizmente o policial descobriu que tinha errado o tiro e o homem caiu desmaiado de susto. Levados para a delegacia, a mulher não quis prestar queixa pois amava de montão aquele homem. Se o policial tivesse acertado o tiro teria a vítima contra si. Nunca se esqueça daquele ditado “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”.
Estes exemplos mostram o quanto podemos nos enganar e tirar conclusões equivocadas se não conhecermos todos os detalhes de uma situação, como é a dificuldade de relacionamento entre marido e mulher.
Outra dificuldade de quem faz aconselhamento matrimonial é o perigo de se envolver emocionalmente com a pessoa que está sendo aconselhada. Uma porcentagem alta de adultério entre pastores protestantes vem das sessões de aconselhamento, quando lidam com mulheres fragilizadas em busca de um ombro amigo para chorar. Em seu livro “A ordem de Deus”, Bruce Anstey escreve:
“As Escrituras que citamos costumam ser distorcidas ou consideradas antiquadas e discriminatórias. Com muita frequência vemos uma inversão na ordem do ministério de irmãos e irmãs. Por exemplo, ouvimos falar de irmãos (no papel do “Pastor”) que têm encontros em particular com mulheres - geralmente mulheres jovens - com o objetivo de aconselhá-las em sua vida pessoal. É frequente pessoas assim acabarem caindo em algum tipo de imoralidade, para desonra do Senhor. Temos um artigo que mostra que mais de 80% dos homens no “ministério” que caíram em imoralidade chegaram a tal ponto como resultado de sessões de aconselhamento! Muito disso teria sido evitado se esse ministério na igreja fosse desempenhado por mulheres”.
Por isso o aconselhamento deve ser preferencialmente feito por um casal, e no meu caso isso não é possível. Na epístola a Tito o apóstolo Paulo dá instruções de como Tito deveria proceder ao aconselhar homens idosos, mulheres idosas, mulheres jovens e homens jovens. Se reparar bem, verá que não era para Tito aconselhar diretamente as mulheres jovens. Ele deveria aconselhar as idosas para que estas aconselhassem as jovens. Assim funciona a sabedoria de Deus e evitaríamos muitos riscos se a seguíssemos à risca.
“Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Os velhos que sejam sóbrios, graves, prudentes, sãos na fé, na caridade e na paciência. As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem, para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seu marido, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada. Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados” (Tt 2:1-6).