Como alguém pode acreditar numa Trindade?
Acreditar que Deus seja uma Trindade — Pai, Filho e Espírito Santo — é também a única maneira de entender como Deus pode ser amor e capaz de amar, como vou explicar mais adiante. A palavra Trindade realmente não aparece na Bíblia, mas a Trindade está na Bíblia do começo ao fim, e a evidência mais forte que você tem é esta: “Deus é amor”(1Jo 4:8). Deus não é amar, amor não é Deus, mas “Deus é amor”.
Enquanto muitas religiões falam de um deus que ama, só no cristianismo você encontra o Deus que não apenas é capaz de amar, mas é amor em sua essência. Acredito que uma das melhores “provas” da Trindade tenha a ver com a natureza de Deus, que é Amor, e com sua capacidade de amar e ser amado. O cristianismo é a única religião que possui um Deus que ama de verdade. Talvez você retruque dizendo que o deus dos espíritas também ama, o deus dos muçulmanos também ama, o deus dos hindus também ama. Mas como um deus unitário iria exercitar o verbo “amar” na solidão da eternidade, quando não havia mais ninguém para amar ou por quem ser amado? O Deus da Bíblia possui, portanto, uma qualidade intrínseca: Ele não apenas ama, mas é amor. No Deus verdadeiro o amor faz parte de sua própria essência. E como Ele pode amar? Por ser uma Trindade.
Deus são três Pessoas em um Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Esta Trindade aparece logo no primeiro versículo da Bíblia, quando o nome de Deus é plural: “No princípio Elohim criou os céus e a Terra”(Gn 1:1). A palavra _Elohim (deuses)_é plural de Elohá (deus). Os idiomas antigos desafiam a Teoria da Evolução, pois ao invés de as línguas evoluírem elas involuíram. Idiomas antigos são mais completos e complexos, capazes de indicar coisas, situações e sentimentos impossíveis aos idiomas modernos. Mesmo entre os modernos, alguns têm palavras que faltam a outros, como é o caso da palavra “saudade”, que não existe na maioria dos idiomas.
Elohim, esse Deus em três Pessoas, volta a aparecer em Gênesis 1:26 usando o verbo “fazer” e o pronome no plural — “façamos”, “nossa”. “E disse Elohim: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. Os judeus não conheciam o Deus triuno, e jamais aceitariam a ideia da Trindade. Mesmo assim leram durante milênios o livro de Gênesis e nunca perceberam que o Espírito Santo deixou gravado bem ali que Deus é plural. Curiosamente, o fato de _Elohim_ser uma palavra plural significando “_deuses”_cria até um problema de concordância, pois o correto seria dizer que “Elohim criaram os céus e a terra”, mas o Espírito Santo preservou o verbo no singular para indicar assim que, mesmo sendo três Pessoas, Deus é um.
A revelação de Deus como Trindade é um privilégio dado a cristãos, algo que os judeus nunca tiveram ou imaginavam ser possível ter. É como o privilégio de chamar a Deus de Pai, que os cristãos têm e os judeus não. Jesus, após ressuscitar, ordenou a Maria Madalena: “Não me detenhas, porque ainda não subi parameu Pai, masvai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo parameu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20:17). Por isso Jesus surpreendia os judeus quando se dirigia ao Pai, o que deixava claro ser ele o Filho de Deus. Em seu julgamento diante de Pilatos, “responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus”(Jo 19:7).
A revelação da Trindade aparece com todas as letras na descrição do batismo de Jesus por João Batista: “E, sendo Jesusbatizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deusdescendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céusdizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3:16-17).
Uma maneira bem rudimentar de você entender a Trindade é pensar naquele disco de cores que os estudantes costumam apresentar nas feiras de ciência para demonstrar a decomposição da luz. Eles colocam um disco de papelão com as três cores primárias — vermelho, amarelo e azul — e quando o disco é girado com velocidade as cores desaparecem e o disco fica branco. Assim é também com as três Pessoas da Trindade que são, em essência, um só Deus.
O Evangelho de João é rico em passagens que mostram diferentes aspectos do relacionamento entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Coloco aqui uma lista dos significados dos versículos que aparecem antes de cada frase no Evangelho de João:
• O Filho está no seio do Pai. (1:18).
• Deus deu o Seu Filho unigênito. (3:16).
• Deus enviou o Seu Filho ao mundo. (3:17).
• Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que faz. (5:20).
• Assim como o Pai conhece o Filho, também o Filho conhece o Pai. (10:15).
• O Pai e o Filho são um. (10:30).
• O Pai está no Filho e o Filho no Pai. (10:38).
• O Filho roga ao Pai e o Pai atende dando o Espírito Santo. (14:16).
• O Pai enviaria o Espírito Santo em nome do Filho. (14:26).
• O Filho ama o Pai e faz aquilo que Ele manda. (14:31).
• O Filho enviaria o Espírito Santo da parte do Pai para testificar do Filho. (15:26).
• O Filho enviaria o Espírito Santo. (16:7).
• O Espírito Santo não falaria de Si mesmo. (16:13).
• O Espírito Santo glorificaria o Filho. (16:14).
• Tudo o que o Pai tem é também do Filho. (16:15).
• O Pai glorifica o Filho, para que o Filho também glorifique o Pai. (17:1).
• O Pai deu ao Filho “poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos” o Pai lhe der. (17:2).
• (17:4) O Filho glorificou o Pai consumando a obra que o Pai deu ao Filho para fazer... João 17:24 O Pai amou o filho “antes da fundação do mundo”.
• Jesus diz ao Pai: “E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja”. (17:26).
Pense na eternidade, quando não havia nada e nem ninguém, mas só Deus. Agora imagine esse círculo de amor e relacionamento envolvendo essas três Pessoas distintas, Pai, Filho e Espírito Santo, que se comunicavam e interagiam desde sempre. Dentre os propósitos de Deus estava o de salvar o homem que ainda seria criado, e temos pista disso em versículos como Tito 1:2, que diz: “Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir,prometeu antes dos tempos dos séculos”. A pergunta agora é: A quem Deus poderia ter prometido algo “_antes dos tempos dos séculos”_se não existia ninguém mais a quem prometer? Trindade é a resposta. A Bíblia diz que por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra.
Mas o amor do Deus que é amor não se restringiu ao círculo de relacionamento da Trindade nos tempos eternos. Deus queria amar mais, infinitamente mais, pois o amor sobejava. Então decidiu criar o homem para amá-lo, porém o homem rejeitou esse amor. Não quis o amor de Deus porque todo amor exige relacionamento e o ser humano buscou a independência e autossuficiência. Não pode existir amor em independência.
Foi assim que o pecado entrou na Criação e jogou o homem no mais baixo nível de todos os seres criados. Animais não são capazes de cometer níveis de crueldade que você só encontra em seres humanos. Para tirar o homem desse poço de ruína e destruição, que iria exigir um juízo e uma pena eterna, Deus amou o mundo com o maior amor: o amor sacrificial: “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos”(Jo 15:13).
Esse amor sacrificial não foi uma iniciativa apenas do Pai, mas envolveu também o Filho e o Espírito Santo. O Pai enviou o Filho para morrer. O Filho entregou-se a si mesmo para morrer. E em Hebreus 9:14lemos que “Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus”.
Cristo morreu, não por amigos, mas por inimigos. Para transformar inimigos em mais que amigos, em filhos e irmãos. Por isso, a Maria Madalena Jesus disse depois de ressuscitado: “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”(Jo 20:17). O amor de Deus é tamanho que a nós, antes inimigos, nos transforma em filhos para conhecermos o que é amor e podermos amar com um amor que jamais teria vindo de nós. “Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor. Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro”(1Jo 4:12,19).
Na Bíblia temos três evangelhos que mostram a progressão da rejeição do homem contra Deus na Pessoa do seu Filho, e o quarto evangelho começa com sua rejeição e nos leva ao conhecimento do Deus-Filho. “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1:10-14).
Vimos que o Pai ama o Filho, e o Filho ama o Pai, e esse amor vem de antes dos tempos eternos. Mas onde entra o Espírito Santo nesse círculo de amor? Preste atenção neste versículo: “Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor. Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do seu Espírito. E vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo. Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus” (1Jo 4:12-15).
Acompanhando aquilo que era intrínseco à sua própria natureza, Deus mostrou unidade na pluralidade ao criar o homem como um ser triuno: espírito, alma e corpo. O espírito é aquilo que nos diferencia dos animais, que só possuem corpo e alma. E Deus mais uma vez mostrou unidade na pluralidade quando Cristo rogou pela Igreja, aquela que também havia sido concebida nos seus desígnios antes da fundação do mundo para ser a Noiva do Filho de Deus:
“E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim” (Jo 17:20-23).
Um deus solitário não poderia ser amor, além de estar incapacitado de amar ou ser amado. O amor exige pluralidade para amar e ser amado. Para existir amor é preciso que exista um relacionamento, e por toda a eternidade Pai, Filho e Espírito Santo mantiveram um relacionamento de amor. A Trindade responde ao mais antigo e permanente desejo do coração humano de amar e ser amado. Portanto se você acha difícil crer em um Deus que são três Pessoas distintas, eu digo a você que mais difícil seria explicar que poderia existir um deus unitário — como Alá ou qualquer outro — que fosse capaz de amar, vivendo ele na solidão da eternidade antes de todas as coisas terem sido criadas.