Paulo excluía mulheres das reuniões?

Seria absurdo pensar que o apóstolo Paulo excluísse a presença feminina das reuniões ao dizer que “as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja” (1Co 14:34-35).

Juntar a isso a ordem dada em 1 Timóteo 2:12 — “não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio” — para afirmar que as irmãs não precisam estar nas reuniões é perverter o texto bíblico e ir além do que está escrito. A passagem de 1 Coríntios é para as reuniões da igreja ou assembleia, e a de 1 Timóteo é para todas as circunstâncias. Mas nenhuma delas está afirmando que mulheres não precisam participar das reuniões. Afinal, se Paulo escreveu que as mulheres devem permanecer caladas nas igrejas, como isso poderia acontecer se elas não estivessem nas igrejas?

Paulo não está desencorajando as irmãs de participarem das reuniões. A ordem é simplesmente que elas permaneçam caladas nas reuniões da assembleia, que não participem de forma audível com seu falar. Antes que me pergunte, falar é falar, cantar é cantar, e a ordem foi dada a respeito do falar, não do cantar. Portanto as irmãs cantam sim com toda a congregação, mas não ministram porque isso implicaria falar e eventualmente ensinar doutrina. A ordem é para que permaneçam caladas, mas não mortas e nem ausentes.

Uma irmã calada pode ser mais útil do que uma falando fora da ordem divina para a reunião dos santos. Ou até mais útil que um varão que tome a palavra movido pela carne ou para se promover. A mulher pode adorar em espírito mesmo calada, pode orar calada e, ao fazer isso, interceder pelos irmãos que ministram e interferir no rumo e resultados do ministério dos varões. Ela é como um soldado da retaguarda operando o carro de telecomunicações e garantindo que o batalhão da linha de frente permaneça conectado ao quartel general. Ela também pode fazer o papel do operador de radar.

Uma mulher sábia, ainda que calada na reunião, pode ser útil para perceber o clima da reunião e até detectar comportamentos reprováveis de varões. Mulheres têm um sentido apurado para perceber nuances de comportamento. Um irmão que viajava pelo mundo visitando assembleias, há alguns anos foi colocado fora de comunhão por introduzir, de forma sutil, doutrinas místicas e estranhas em seu ministério. Recentemente, quando eu relembrava o caso em conversa com uma irmã anciã, ela me disse: “A irmã Fulana foi a primeira pessoa que me alertou sobre o que ele estava fazendo, antes mesmo que os irmãos da assembleia detectassem o mal”.

Ainda que uma irmã não possa intervir diretamente e de forma audível nas reuniões da assembleia, ela pode levar suas impressões ao marido ou a um irmão responsável, caso seja solteira. Uma mulher calada nas reuniões, porém com um bom conhecimento das Escrituras, pode detectar erros no que está sendo ministrado. Priscila devia conhecer as Escrituras melhor que Áquila, seu marido, e talvez seja esta a razão de seu nome vir antes no auxílio dado a Apolo em Atos 18:25.

A passagem dá a entender que o discernimento de que Apolo não estava correto em seu ensino veio de Priscila e Áquila conjuntamente. Ali nós a vemos em seu lugar de submissão ao marido, não só detectando o equívoco do recém convertido Apolo, mas em sujeição a seu marido, auxiliando na exposição das Escrituras. “Ele [Apolo], começou a falar ousadamente na sinagoga. Ouvindo-o, porém, Priscila e Áquila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão, [Priscila e Áquila] lhe expuseram o caminho de Deus”.

É um erro terrível desestimular e desencorajar as irmãs só porque a ordem das reuniões da assembleia exige que guardem silêncio naquele momento em particular. Qualquer um sabe o quanto mulheres têm uma percepção aguçada das coisas e o tanto que muitas delas se empenham em oração, principalmente por serem mais sensíveis às necessidades e dificuldades da família e dos irmãos. Reparou que quem supria com seus bens as necessidades do Senhor eram mulheres? “Maria, chamada Madalena, ... e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens”(Lc 8:2-3).

Pouco antes da formação da igreja encontramos os apóstolos e discípulos do Senhor reunidos e o Espírito fez questão de frisar a presença das mulheres. “ E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam, Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelador, e Judas, de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos” (At 1:13-14).

Em Atos 2, quando o Espírito Santo desceu, estavam TODOS reunidos e certamente as irmãs estavam ali também. Uma assembleia tem muito a perder quando perde de vista a importância das irmãs na manutenção do equilíbrio. Talvez devêssemos nos lembrar com maior frequência deste conselho de Deus a Abraão, que mostrava que naquele momento e circunstância Sara estava em melhor sintonia com os planos de Deus:

Porém Deus disse a Abraão: Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua semente” (Gn 21:12).

Sempre que encontramos na Palavra de Deus uma ordem simples como a de 1 Coríntios 14 para que as irmãs permaneçam em silêncio durante as reuniões da igreja, surgem duas vertentes extremas: a dos que acham que aquilo era machismo e a dos que extrapolam o ensino e desprezam as mulheres proibindo que façam até aquilo que a Bíblia ensina claramente fazer parte do ministério delas. Além do episódio de Naamã, quando uma jovem serva é quem encaminha o grande general gentio a um profeta de Israel para ser curado, existe outro muito encorajador, e neste até o nome da menina é mencionado:

Então, Pedro [que tinha acabado de ser milagrosamente liberto da prisão], caindo em si, disse: Agora, sei, verdadeiramente, que o Senhor enviou o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de toda a expectativa do povo judaico. Considerando ele a sua situação, resolveu ir à casa de Maria, mãe de João, cognominado Marcos, onde muitas pessoas estavam congregadas e oravam. Quando ele bateu ao postigo do portão, veio uma criada, chamada Rode, ver quem era; reconhecendo a voz de Pedro, tão alegre ficou, que nem o fez entrar, mas voltou correndo para anunciar que Pedro estava junto do portão. Eles lhe disseram: Estás louca. Ela, porém, persistia em afirmar que assim era. Então, disseram: É o seu anjo. Entretanto, Pedro continuava batendo; então, eles abriram, viram-no e ficaram atônitos” (At 12:11-16).

Faz lembrar a história da população de uma pequena aldeia de agricultores que enfrentava uma terrível seca. Num certo dia todos foram convocados a ir ao campo para orar a Deus por chuva. Entre eles foi uma garotinha levando sua sombrinha e suportando a zombaria dos outros. Será que ela não viu que não tinha uma nuvem no céu? Foi a única que voltou para casa com a roupa seca.