Não existe dízimo na doutrina dos apóstolos?

Não, você não encontrará o dízimo na doutrina dos apóstolos que está nas epístolas, exceto por alguma citação fazendo referência ao Antigo Testamento e à Lei. Também não encontrará muitas outras coisas, como igrejas denominadas (exceto pela identificação da cidade onde estavam), templos, pastores dirigindo congregações, mulheres falando nas reuniões da igreja, altares, música instrumental na adoração, corais, homilias, danças, ensaios, dias santos, escolas de teologia, um clero distinto dos leigos, roupas ou cadeiras diferentes para certas pessoas do clero, títulos honoríficos, presidente disso, diretor daquilo, etc.

Na doutrina dos apóstolos os cristãos não constroem templos e nem trazem outro nome que diferencie uns dos outros além do nome de Cristo, não se fazem membros de alguma instituição religiosa, não assinam algum contrato para obter carteirinha e nem prestam juramento a algum sistema. Eles são exortados a reconhecer que há um só corpo de Cristo que inclui TODOS os salvos, e a darem testemunho prático disso quando congregarem ao nome do Senhor Jesus para a comunhão e aprendizado da doutrina dos apóstolos, para celebrar a ceia do Senhor à mesa do Senhor, e para a oração.

Individualmente, e não como igreja, eles saem para pregar o evangelho, mas não são capacitados por alguma escola de teologia e nem enviados por alguma junta de missões ou liderança, mas apenas pelo Espírito Santo. Estes que saem na obra do Senhor NUNCA pedem dinheiro aos irmãos para fazer a obra (porque é do Senhor e ele irá prover se for dele), e muito menos de incrédulos. Também não promovem partidos políticos ou apoiam candidatos. São simplesmente cidadãos celestiais que estão momentaneamente vivendo na Terra, um planeta que não lhes pertence e que eles não se iludem em transformar em um “mundo melhor” porque sabem seu destino.

Mas antes que você fique animado com a ideia de não existir a exigência do dízimo na doutrina dos apóstolos, saiba que a beneficência é sim estimulada no sentido de socorrer os mais pobres e enfermos e prover para aqueles que se dedicam ao trabalho do evangelho. No princípio da Igreja os primeiros cristãos até chegaram a ter tudo em comum, mas isso com o tempo e a ruína que se instalou no testemunho cristão mostrou- se impraticável.

Mesmo assim os cristãos são exortados a não se esquecerem “da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada”(Hb 13:16). Também são aconselhados, não a praticar caridade para receber a salvação, pois esta já receberam de graça pela fé em Cristo, mas simplesmente porque o que Deus lhes dá não devem considerar como sendo de si mesmos, mas devem entender que são apenas despenseiros (responsáveis pela despensa) de Deus para distribuir o que Deus lhes dá com sabedoria e para suprir as necessidades da obra e do povo de Deus.

Assim como o Senhor Jesus foi liberal dando sua própria vida por nós, o Espírito através dos apóstolos exorta: “Portanto, tive por coisa necessária exortar estes irmãos, para que primeiro fossem ter convosco, e preparassem de antemão a vossa bênção, já antes anunciada, para que esteja pronta como bênção, e não como avareza. E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará” (2Co 9:5-6).

Ao contrário da Lei, quando o israelita era obrigado a dar uma porcentagem fixa, ao cristão é dito que “cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece para sempre” (2 Co 9:7-9).

Deus promete a manutenção das necessidades do crente, como abrigo e sustento, não como no Antigo Testamento quando era prometida prosperidade e mesmo riquezas. Ao contrário do que pregam os teólogos da prosperidade, Deus pode prover mais que o necessário, porém apenas para o crente poder ser mais liberal em sua obra para o Senhor, e não para enriquecer. A Palavra de Deus em muitas passagens mostra a loucura que é querer ficar rico:

Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1Tm 6:8-10). “Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus” (Lc 12:20-21).

Deu para perceber que esses pregadores da prosperidade transformam seus seguidores em loucos para que caiam em laço, perdição e ruína, se desviem da fé e se traspassem com muitas dores?

Toda provisão do crente vem de Deus: “Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça”, mas vem com um propósito muito definido: “Para que em tudo enriqueçais PARA TODA A BENEFICÊNCIA, a qual faz que por nós se deem graças a Deus. Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também é abundante em muitas graças, que se dão a Deus. Visto como, na prova desta administração, glorificam a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos” (2Co 9:10-13).

Portanto, Deus provê para sermos provedores daqueles que têm necessidades e daqueles que trabalham na obra do evangelho sem pedir nada a ninguém. O fato de não pedirem não significa que não necessitem. Muitas vezes necessitam, mas são exercitados a depender só do Senhor que irá mover corações de indivíduos e assembleias para proverem o necessário para levarem o evangelho e o ministério da Palavra. Sempre que um cristão ajuda alguém em suas necessidades, tanto para supri-lo em sua pobreza, como para que o evangelho continua sendo pregado, está produzindo “graças a Deus... muitas graças que se dão a Deus”. Este é o final da história: não o enriquecimento, mas a glória de Deus.

Portanto se você pensou que congregar somente ao nome do Senhor fora das denominações e dos sistemas religiosos e isento do dízimo iria sair mais barato, é melhor pensar de novo. A motivação do crente nas coisas de Deus nunca deve ser material, nem no sentido de dar, nem no sentido de receber. Nem preciso dizer que aquela história de campanhas, votos, promessas e tantas outras coisas praticadas na cristandade hoje não passam de mesquinharias, de pessoas querendo fazer barganha com Deus para de algum modo enriquecerem.