Você é de direita?

Você perguntou se sou de “direita”, pois apesar de eu insistir que sou apolítico, você achou que minhas opiniões mostram que eu seria de direita. Também tentou me definir como “neoliberal” e vou dizer a verdade: nunca nem procurei saber o que é um neoliberal ou o que pensa. Alguns já disseram que sou parecido com o presidente Fernando Henrique Cardoso, mas acaso não era ele um simpatizante do socialismo que se refugiou na França durante a ditadura militar no Brasil?

Só porque alguns se intitulam de direita, outros de esquerda, outros neoliberais e outros ‘corinthianos’, por que eu precisaria ter algum crachá no peito? Não tenho. Sou cristão, esta é a única etiqueta que aceito para me definir. Obviamente você perguntou isso por ser simpatizante do comunismo, e uma das táticas das ideologias de esquerda, também largamente usada por outros regimes ditatoriais, é tachar de inimigo quem não for amigo. Então se alguém não concorda com uma doutrina marxista-leninista-trotskista-gramscista-maoista ele só pode ser um fascista capitalista imperialista — se não apoia a esquerda só pode apoiar a direita.

É simples entender esse raciocínio porque nenhum regime ou sistema ditatorial opressor poderia respeitar ou levar em consideração quem se opõe a ele. Uma característica de uma ideologia opressora é não deixar espaço para o livre pensar, porque não admite a liberdade de expressão, a livre iniciativa, a livre propriedade e a liberdade de ir e vir. Basta ver que as manifestações no Brasil, quando patrocinadas por sindicatos e partidos de esquerda, bloqueiam a liberdade constitucional de ir e vir. O pensamento comunista é o de que você só pode viajar se for autorizado pelo partido, e nem pense em pensar fora da caixa porque isso irá fazer de você inimigo do partido.

Se quiser saber o que é viver em um país comunista, pergunte a quem viveu em um e não fazia parte da elite do estado, e na Europa é possível encontrar muita gente como aquele cidadão que, com a queda do muro de Berlim, foi levado a passear na Berlim ocidental por um jornalista. Ao final do passeio o jornalista perguntou: “Então, que diferença viu entre as duas Berlins nestes quase quarenta anos de regime comunista?” A resposta do outro foi: “Quarenta anos”.

Para um cristão é simplesmente absurda a ideia de apoiar o comunismo, pois o ateísmo é parte integrante de seu alicerce, ainda que possa estar camuflado nas adaptações terceiro-mundistas da doutrina. Você se surpreende quando conhece alguém que, quando criança, foi doutrinado nas escolas dos países da Cortina de Ferro. A pessoa não tem qualquer noção de Deus e nem quer ter. Sua mente foi cauterizada por anos de doutrinação ateísta.

Evidentemente, a doutrinação materialista, muito mais sutil, também deixa marcas. Cristianismo na Europa é hoje artigo raro, geralmente consumido por velhas e imigrantes de países do terceiro mundo. Ali você encontra até mesmo capelas medievais, cuja manutenção custava caro para suas denominações, transformadas em casas de shows por quem as comprou ou arrendou. As denominações cristãs europeias foram esvaziadas pelo ceticismo e incredulidade reinante na sociedade mais “evoluída” do planeta. Em uma entrevista na TV sueca um bispo da igreja oficial daquele pais se declarou ateu.

Na Europa sobraram também pouquíssimos irmãos congregados somente ao nome do Senhor. Numa conferência que participei promovida pelos irmãos europeus na Bélgica, com menos de uma centena de pessoas presentes, eu conversava com um irmão da Romênia. Ciente das notícias do Brasil que chegavam na Romênia e do debate sobre o impeachment da presidente Dilma Roussef na época, esse irmão disse uma frase que nunca esqueci: “Os brasileiros não sabem o que é viver em um regime socialista”. Ele sabia o que era ser cristão vivendo num regime fundamentado no ateísmo. No Brasil, essa ideologia chegou maquiada e tropicalizada, mas qualquer pessoa inteligente sabe que ela está lá, na base dos partidos que a propõem.

Alguém poderá argumentar que os sistemas de direita também oprimem os pobres e coisa e tal, mas enquanto países democráticos podem ser historicamente acusados e culpados de espoliar e massacrar povos estrangeiros com seu colonialismo perverso, os países comunistas fizeram isso com seus próprios cidadãos. Espoliaram, massacraram e criaram campos de prisioneiros, como os da Sibéria, para onde eram enviados “criminosos” considerados como tais apenas por discordarem do regime.

Será que você nunca ouviu falar das pessoas que na antiga União Soviética copiavam a Bíblia à mão por não terem acesso a uma impressa? Assim como era feito na China até recentemente (hoje o país que mais imprime Bíblias em todo o mundo, porque dá dinheiro), Bíblias eram proibidas ou apenas uma parcela era distribuída em igrejas de fachada para constarem das estatísticas oficiais. Certamente você nunca teve acesso a informações do que acontecia em Cuba com cristãos por causa de sua fé.

Não se trata de uma questão de ser de direita ou de esquerda, mas de bom senso. O que o partido de esquerda fez no Brasil em um passado recente foi espoliar estatais e o país com a desculpa de distribuir riqueza. O que não contaram foi que a riqueza seria distribuída principalmente entre os membros do partido e com os que os apoiassem, que hoje são milionários e presidiários.

Um socialista mais exaltado dirá: “Ahá! Eu não disse que ele é de direita?!”. É claro que irá dizer, pois foi treinado a pensar em preto e branco e não saberá considerar todo o espectro do pensamento humano. Não se preocupe, não sou de direita nem de esquerda, mas conheço um pouquinho da natureza humana para saber que somos extremamente egoístas por natureza e que nenhuma ideologia de distribuição compulsória de riquezas ou de propriedade comum acaba sendo contaminada pela mesquinhez humana. O comunismo seria o melhor regime... se o homem não fosse pecador.

É uma ilusão achar que algum sistema de governo irá resolver o problema da pobreza, porque não vai. O próprio Senhor Jesus disse aos seus discípulos “os pobres sempre os tendes convosco”(Jo 12:8), não porque isso é bom, mas porque é assim que funciona o mundo que foi entregue pelos homens de mão beijada para seu príncipe usurpador, Satanás.

Sempre que existir alguma iniciativa de distribuição compulsória de riquezas, alguém terá de trabalhar para sustentar os que não trabalham. Mas não pense que eu não acredite que isso vá acabar acontecendo. Acredito que é a tendência, porque muitos governos, independente de ideologia, estudam formas de solucionar os problemas da pobreza distribuindo riqueza. O nome disso em inglês é “Basic Income” ou“Renda Mínima” (pesquise para saber mais), algo como um salário mínimo, mas que nada tem a ver com doutrina comunista.

O raciocínio é este: o crescimento da substituição do trabalho humano por tecnologia atingirá um momento em que o mundo não poderá mais oferecer emprego para todos, e os que têm alguma coisa não querem que tudo acabe em anarquia destrutiva (leia-se recalcados sociais que quebram aquilo que não conseguiram ter, mas gostariam de possuir). Com a população aumentando e a tecnologia de informática e robótica se alastrando pelos meios produtivos, hoje já não funcionaria ter um carro de som no portão da fábrica e um sindicalista gritando para fazer os operários pararem de trabalhar. Seria preciso _hackear_o sistema para interferir na programação dos robôs que substituíram em grande parte os operários nas linhas de produção. Olhe por cima dos ombros do presente e você verá tudo automatizado num futuro próximo.

A previsão é que muito em breve a maior parcela da população mundial não terá o que fazer, e para que os cidadãos não façam bobagem a solução seria pagar para ficarem em casa vendo HDTV. O Brasil tem algo parecido com o nome de bolsa isso e bolsa aquilo, mas a ideia do “Basic Income” não é essa. Seria, se no Brasil todos tivessem direito a uma bolsa, não apenas os desempregados ou menos favorecidos. Porém, volto a repetir que o cristão que conhece o egoísmo humano sabe que o pecado fez do homem um eterno insatisfeito. Ele sempre irá querer mais.

Quando alguém tenta embasar na Bíblia ideologias socialistas, demonstra não conhecer o que ela ensina. Os cristãos realmente são exortados, mas não obrigados, a dividir o que têm com quem não tem. Mas isso é feito espontaneamente, não por decreto, coerção ou de qualquer outra forma compulsória. Na Bíblia a propriedade privada é reconhecida e honrada, ninguém é obrigado a dar nada a ninguém.

Quando Ananias e Safira quiseram se passar por caridosos por terem vendido uma propriedade e dado parte do dinheiro para ser distribuído entre os irmãos, mentiram ao Espírito Santo ao dizerem que tinham dado tudo. Pedro deixou bem claro que eles não tinham obrigação de entregar o que quer que fosse, e se estavam sendo castigados não era por não terem dado tudo, mas por terem mentido ao Espírito.“Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus”(At 5:4).

Aquele início do cristianismo teve um poder tal que estimulava nos corações dos cristãos o desapego, mas mesmo ali o egoísmo veio à tona. Mais tarde ficou muito evidente que mesmo os cristãos não poderiam viver tendo tudo em comum, como tentaram no começo. No capítulo 6 de Atos você já encontra queixas de desigualdade, pois alguns estavam sendo privilegiados na distribuição de alimentos em detrimento de outros. Logo terminaria aquela breve sociedade comunal, que não tinha sido ordenada por Deus, mas surgiu naturalmente como consequência da alegria do primeiro amor.

Mais tarde, ao escrever aos coríntios, o apóstolo Paulo mostraria que a caridade era uma virtude cristã, mas devia resultar de uma decisão própria e sem constrangimento: “Cada um contribuasegundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria”(2Co 9:7). Não era para ser por coerção ou compulsoriamente determinada por lei ou governo, mas como fruto de um amor espontâneo brotado no coração daqueles que entendiam o quanto haviam recebido de Deus. Mesmo porque, nas coisas de Deus o que é feito sem amor não tem qualquer validade. “E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria”(1Co 13:3).

Mas não se engane pensando que o que eu disse aqui seja uma ode à democracia ou ideologias de direita. E se eu lhe disser que não acredito na democracia? Democracia é o regime em que o povo governa por representantes, e você não vê isso na Bíblia. Deus nunca teve a intenção que o povo governasse. Israel era no princípio uma teocracia, em que as determinações de Deus eram comunicadas por seus profetas. Isso foi até decidirem que queriam ser como as outras nações que tinham um rei. Deus lhes deu um rei, Saul, que era segundo o coração do povo, mas não sem antes avisar o que aconteceria com eles:

Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações... E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles” (1 Sm 8:4-7). Continue lendo o capítulo 8 de 1 Samuel para ver as consequências daquela decisão do povo.

Depois de serem decepcionados pelo rei que lhes foi dado segundo o coração e vista dos homens — um Saul alto e forte — Deus lhes deu outro rei, menos agradável à vista, mas que seria figura do Rei que irá reinar sobre Israel no final. Disso podemos deduzir que a monarquia seria o único regime que teria o aval de Deus, não só para Israel, mas para as nações gentias. Deus demonstrou isso ao eleger Nabucodonosor “rei de reis”(Dn 2:37), uma figura do que Cristo será no Milênio. Se quiser saber mais sobre como Deus enxerga a democracia, repare nos pés da estátua de Daniel 7, onde o ferro do poder se mistura ao barro da humanidade e não dá liga. Esta seria a última forma de governo popularizada no mundo antes de Cristo vir reinar.

Quanto ao cristão envolver-se em política, seja de direita, de centro ou de esquerda, gosto de recordar o convite feito por Sambalate e Gesem a Neemias. À primeira vista eles queriam que Neemias se encontrasse com eles no lugar e nos termos de Sambalate e Gesem, como se isso fosse servir de ajuda à obra de Deus. Mas o que queriam mesmo era atrapalhar aquela obra que incluía a reconstrução dos muros e do Templo de Jerusalém.

Sambalate e Gesem mandaram dizer-me: Vem, e congreguemo-nos juntamente nas aldeias, no vale de Ono. Porém intentavam fazer-me mal. E enviei-lhes mensageiros a dizer: Faço uma grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse, e fosse ter convosco?” (Ne 6:2).

Quando o cristão desce de seu lugar elevado para associar-se aos incrédulos “no vale de Ono”, que significa “forte”, para se juntar e fazer alianças com os deste mundo, ele corre o risco de ser engodado e destruído. Por quatro vezes Neemias recebe o convite, e recusa. Ele fazia “uma grande obra” e não podia descer.

Será que, como cristão, você está consciente da “grande obra” que tem para fazer, ou será que está dando suporte aos inimigos de Deus, encontrando-se com eles no nível mais baixo deste mundo (o “vale de Ono”) por parecer que unido ali em algum partido de homens será mais forte? As intenções podem até parecer boas, mas se isso é para acontecer “no vale de Ono” e você está no monte de Jerusalém, faça como Neemias: não vá. Se for você logo estará comprometido em sua fé e andar, porque qualquer jugo desigual com incrédulos — e afiliação partidária é jugo desigual — faz de você responsável solidário por tudo o que o partido pensa e faz.

Para terminar, fique com esta anedota que meu pai costumava contar e que ilustra bem a razão de o comunismo não funcionar. Dois caipiras conversavam:

Zé, vamu ali ver aquele cumício cumunista.

Quequié isso, Benedito?!

Cumunismo é assim: Se ocê tivesse duas casa, mas só precisasse de uma pra morar, ocê daria a outra prum camarada, não daria?

É craro, Benedito, daria sim. Quem qui tem precisão de duas casa? Só priciso duma uai!

Tamém se ocê tivesse dois tomóvi, só ia conseguir guiar um, então daria o outro prum camarada, num daria?

Daria sim, tarveis até os dois porque nem sei guiar! Aquele negocio de câmbio e disimbréia é cumplicado, sô!

Pois é, se você tivesse duas bicicreta...

Epa, péraí Benedito, essa não! Essa eu tenho!