Se Satanás sabia quem era Jesus para que tentá-lo no deserto?
Nos capítulos 1 e 2 do livro de Jó vemos Satanás comparecendo no céu na presença de Deus. Com tal acesso ele certamente sabia quem era o Filho de Deus, e daí surge sua dúvida: por que razão o diabo iria querer tentar Jesus no deserto, se não apenas ele, mas até os demônios sabiam quem ele era?
Que Satanás sabia, não há dúvida, e que os demônios também sabiam nós podemos ver de passagens como esta: “E os espíritos imundos vendo-o, prostravam-se diante dele, e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus”(Mc 3:11). É importante sempre lembrar que não foi o diabo quem conduziu Jesus ao deserto para ser tentado. A iniciativa partiu do Espírito Santo, como vemos aqui: “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”(Mt 4:1). O diabo ali foi apenas um instrumento que ajudou a comprovar a impecabilidade do Filho de Deus.
Aquela não foi uma tentação no sentido que conhecemos, pois em nós existe a resposta à tentação externa. Tiago explica bem esse processo que ocorre em nós como resposta a uma tentação externa ou tendo sua origem totalmente dentro de nós mesmos: “Ninguém, sendo tentado, diga: de Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1:13- 15).
A tentação à qual Jesus foi submetido foi mais um teste ou prova, como fazemos quando colocamos o ouro ou a prata no fogo ou sob a ação de um ácido para comprovar sua pureza. Apesar de isso dar uma ideia do que ocorreu no deserto, sabemos que todo exemplo falha, pois ao contrário do ouro e da prata nos quais o teste pode revelar alguma mistura ou sujidade, Jesus entrou e saiu da tentação do mesmo jeito, sem nenhum subproduto de pecado em si.
O diabo obviamente sabia quem ele era, mas, como se diz, não custava tentar. Afinal, ele tinha diante de si, não o Filho de Deus tal como o conhecia nas regiões celestiais, mas Jesus na forma humana e de servo, com todas as fragilidades que seu corpo humano lhe dava. De qualquer modo, a prova que o Espírito Santo queria mostrar ao levá-lo ao deserto para ser tentado não era só para o diabo, mas principalmente para os milhões de seres humanos que desde então podem ter a certeza da natureza santa e impecável de Jesus.
Quando um novo embaixador é designado para um país ele precisa apresentar suas credenciais para comprovar que ele é quem diz ser. Portanto pode ter plena certeza de que Jesus, o Filho de Deus, é Deus e Homem; um que não tem pecado, nunca pecou e é incapaz de pecar.