Todos os pastores são corruptos?
Você pergunta se todos os pastores das denominações seriam corruptos como você achou que eu disse em algum de meus vídeos ou textos. De modo nenhum. Quando faço alguma crítica, ela é seletiva e descreve os que são mercenários, lobos e hereges. Os apóstolos já previam que eles surgiriam para trazer dano ao rebanho de Cristo, portanto não é nenhuma novidade ou linguagem politicamente incorreta denunciá-los. Veja que são abundantes as passagens que os denunciam:
“Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; e que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas [pervertidas], para atraírem os discípulos após si” (At 20:29- 30).
“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas” (Fp 3:18).
“E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples” (Rm 16:17-18).
“Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns. Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade” (2Tm 2:16-19).
O ministério do próprio Senhor era cheio de alertas e advertências para que os discípulos tomassem cuidado com os fariseus e suas doutrinas, além de seu comportamento cheio de hipocrisia, malícia e engano. Afinal, não foram ladrões e prostitutas que entregaram Jesus à morte: foram líderes religiosos.
“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores... Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas [poder civil e religioso]... Adverti, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus... Acautelai-vos, que ninguém vos engane” (Mt 7:15; 10:17; 16:6; 24:4).
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7:21-23).
Portanto quando você escuta ou lê algo que eu disse sobre líderes religiosos, isso não é para ser generalizado. As instituições chamadas por eles de “igreja” obviamente não têm fundamento bíblico, pois são facções que dividem os crentes por diferentes nomes. Mas quanto às pessoas de seus líderes sei de muitos clérigos que são sinceros, honestos e dedicados ao Senhor e à Palavra. O que a alguns pode faltar em conhecimento da sã doutrina, sobra em carinho e dedicação no evangelizar os perdidos, e pastorear e ensinar as ovelhas de Cristo. Eu mesmo fico feliz quando ouço algum pregador falar do evangelho puro da salvação da graça de Deus sem mistura.
Mas conhecendo a natureza humana, sabemos que o desejo do homem não é apenas de dinheiro, como geralmente acontece entre líderes de igrejas neopentecostais que pregam curas e prosperidade enquanto enchem os bolsos, vivem em mansões e compram jatos e helicópteros. Não precisa ter muito discernimento para identificar que alguns desses são lobos que mal conseguem esconder a cauda por debaixo da pele de ovelha. Estão de olho na gordura das ovelhas e não no seu bem-estar. Já em Israel havia pessoas com essa índole e o Senhor deixou isso bem claro no livro de Ezequiel:
“Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as ovelhas? Comeis a gordura, e vos vestis da lã; matais o cevado; mas não apascentais as ovelhas... As fracas não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. Assim se espalharam, por não haver pastor, e tornaram-se pasto para todas as feras do campo, porquanto se espalharam... Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que, porquanto as minhas ovelhas foram entregues à rapina, e as minhas ovelhas vieram a servir de pasto a todas as feras do campo, por falta de pastor, e os meus pastores não procuraram as minhas ovelhas; e os pastores apascentaram a si mesmos, e não apascentaram as minhas ovelhas... Eis que eu estou contra os pastores; das suas mãos demandarei as minhas ovelhas, e eles deixarão de apascentar as ovelhas; os pastores não se apascentarão mais a si mesmos; e livrarei as minhas ovelhas da sua boca, e não lhes servirão mais de pasto” (Ez 34:2- 10).
O contraste entre os que buscam o próprio interesse e aquele verdadeiro Pastor, que é Cristo, Jesus mostrou no Evangelho de João:
“O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas. Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas. Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” (Jo 10:10-14).
Então não considere as críticas que faço às instituições, doutrinas e comportamentos reprováveis de homens mercenários como algo generalizado. Muitos evangelistas e pastores entram na obra do evangelho pobres e saem mais pobres ainda, porque gastam o que têm e às vezes a própria vida por amor ao Senhor. São dedicados às almas que precisam de salvação e às ovelhas de Cristo que precisam de alimento e pastoreio.
Deus usa esses irmãos na obra como usou Elias e Eliseu, que foram profetas dados, não aos judeus que estavam adorando no lugar instituído por Deus, mas justamente fora de Jerusalém, para onde haviam sido levadas as dez tribos por obra do ímpio e idólatra Jeroboão. Mesmo lá, fora de Jerusalém, o lugar onde Deus havia colocado o seu nome e centro de toda adoração, Deus ainda tinha provisão para o seu povo através daqueles profetas.
Mas, às vezes, entre líderes religiosos que não buscam o enriquecimento, você encontra outras motivações não menos egoístas. O ser humano não é ávido só por dinheiro, mas também por poder. Em meio à onda de prisões e condenações por corrupção, a Netflix colocou dentro do aeroporto de Brasília um cartaz para promover sua série “House of Cards”. A série mostra o ator Kevin Spacey no papel de Frank Underwood, um político corrupto que chega à presidência por meio de crimes e estratagemas. Ele não busca dinheiro, ele busca poder, por isso o cartaz traz um recado aos políticos corruptos:
“ESCOLHER DINHEIRO EM VEZ DE PODER. UM ERRO QUE QUASE TODOS COMETEM.” Frank Underwood
Recentemente recebi uma crítica de um clérigo protestante que parece menos interessado em dinheiro do que em poder, tanto é que me acusa de ser mercenário e de levar o evangelho com interesses financeiros. Quem conhece meu trabalho sabe que tenho uma profissão para o meu sustento e o que faço na Web e com meus livros é tudo de graça (apenas a versão impressa de meus livros do evangelho é vendida mas o valor fica integralmente para a editora). Veja alguns trechos do que esse pastor escreveu:
“Seus frutos são de falso profeta. Pessoas como você sempre existiram e nunca fizeram mais do que tirar proveito para si tentando destruir a igreja...”.
Por certo ele acha que “igreja” é uma denominação religiosa e, curiosamente, a afirmação seguinte que faz me coloca na categoria de “profeta verdadeiro”, já que não ganho dinheiro com meus livros. Ele continua:
“João Batista saiu do meio dos levitas e da família sacerdotal, mas também saiu de perto de toda fonte de lucro e viveu somente com mel silvestre e gafanhotos. Se você fosse um profeta verdadeiro não venderia livros ou usaria os problemas da igreja para ganhar dinheiro. Fruto de falso profeta...”.
Sempre estou atento a pessoas que contestam alguma coisa que eu disse apontando argumentos bíblicos. Mas a afirmação seguinte parece ter mais a ver com o aspecto estético, de oratória e estilo de meu ministério do que doutrinal:
“Seu tom de voz, sorriso irônico, sarcasmo não é fruto de alguém indignado ou preocupado com esse problema na cristandade, mas, de um oportunista que sabe que os problemas existem e está aproveitando para fazer sua própria teologia e ganhar dinheiro. Enfim, você é mais um dos muitos dos que cobiçam”.
Tudo indica que busque ganhar dinheiro na posição eclesiástica que ocupa, mas teme perder o poder e prestígio que ela lhe confere. Na citação de João Batista como tendo vindo de família sacerdotal, já deu uma pista de que o problema estava em eu atacar o ensino teológico convencional e os títulos eclesiásticos. De minha crítica a posições e títulos como “Doutor em Divindade”, e às instituições religiosas que levam o nome de “igreja” (pois Igreja não é uma organização, é um organismo, o Corpo de Cristo, o conjunto dos salvos) ele comenta:
“Muitos como você já foram desmascarados. O fato de você não ter tido a oportunidade de estudar nos EUA e se formar em um doutorado — que não é o domínio de todo conhecimento e sim o conhecimento do especifico, pois um doutor em divindade não sabe de tudo e sim muita coisa de um amplo do conhecimento — faz você falar como oportunista sanguessuga, e não como um verdadeiro cristão. Cristo sim, viveu com fariseus, saduceus e publicanos, questionou muitos e salvou outros, a exemplo de Jose de Arimateia (Saduceu), Nicodemos (Fariseu), Mateus (Publicano) e nem por isso Jesus, que não veio salvar as instituições, se intrometeu nelas. Ele disse sobre as instituições: ‘Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus’ (Mt 22:21). É inegável que existia corrupção e desvios sagrados no império de César, porém Jesus veio salvar o que estava perdido, pessoas como você que não sabem disso porque não estudaram teologia. Estude um pouco de teologia e aprenda que o conhecimento liberta e as pessoas erram por falta de conhecimento”.
Como costuma acontecer, toda admoestação de um clérigo que teme perder seu poder sobre as pessoas vem acompanhada de um alerta com uma pitada de terrorismo psicológico, fundamentada naquela famosa frase do “não toques no ungido de Deus”. Assim ele arremata:
“Estou falando isso para você somente para alertar que com Deus não se brinca e ele não deixa ser zombado. Porque na realidade você não conseguirá afetar a igreja do Senhor Jesus, ‘...as portas do inferno não prevalecerão contra ela.’” (Mt 16:18).
Resumindo a resposta ao que perguntou, sim, existem os mercenários na cristandade que estão interessados no dinheiro das ovelhas, mas também existem os que não estão no jogo por dinheiro. Como Frank Underwood, de “House of Cards”, o interesse deles é por poder. Um cristão com um pouco de discernimento e conhecimento da natureza humana saberá perceber quando é um e quando é outro (isto quando não for um “modelo híbrido”).
Volto a afirmar que existem sim milhões de pregadores, pastores e clérigos em geral que são sinceros e honestos, pessoas humildes que estão na obra pelo amor a Cristo e às ovelhas. Às vezes tenho o prazer de encontrar alguns aqui e sei que terei prazer de abraçar a muitos quando chegar ao céu. Então o Senhor irá revelar até onde tudo o que fizemos foi construído com material nobre ou com palha descartável. Toda a glória então será só dele, pois nada mais fomos que instrumentos aqui nesta terra.
“Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.
Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo. Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos. Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso; seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus” (1Co 5:3-23).