O evangelho pode ser pregado de qualquer maneira?

Sua dúvida é, se Paulo se regozijava de ver o evangelho ser pregado de qualquer maneira, por que nos preocuparmos com os pregadores da prosperidade da TV e seu evangelho distorcido? O assunto que Paulo estava tratando não era pregar o evangelho de qualquer jeito, no sentido de que podiam pregar mentiras como sendo o evangelho, mas de alguns que pregavam por motivos ruins, como inveja e porfia, e fazia isso para trazer problemas para Paulo. Vamos à passagem:

De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares; e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor. Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa vontade; uns, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda” (Fp 1:13-18).

O que ele diz é que não se importava, desde que o evangelho fosse pregado. O evangelho deles estava certo, pois pregavam “a Cristo”, seus motivos porém é que estavam errados. Mas quando um falso evangelho era pregado, Paulo pegava pesado, como no caso dos Gálatas que estavam sendo influenciados por pregadores judaizantes, que seriam o equivalente aos legalistas de hoje, como sabatistas e outros. Aliás a carta aos Gálatas serve como uma luva para aqueles cristãos que pregam a Lei ao invés da Graça e obrigam as pessoas a andarem segundo uma lista de regras. Se este fosse o caso em Filipo, Paulo não se regozijaria, mas amaldiçoaria. Veja a diferença da linguagem em Gálatas:

Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema. Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo. Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:6-12).

Na carta aos Gálatas Paulo chama os que obrigavam os cristãos a viverem na Lei mosaica de “...falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós... Oh insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gl 2:4-5; 3:1-3).

A Timóteo, Paulo aconselhou repreender aqueles que estavam pregando fábulas: “Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2 Tm 4:2-4).

Resumindo, a passagem de sua dúvida mostra que se Paulo se regozijava com os que pregavam a Cristo por inveja, é porque sabia que eles não pregavam algo diferente do evangelho da graça de Deus. Mas tanto os que inquietavam os Gálatas, quanto os que são citados em Filipenses, podem ser enquadrados na categoria de hipócritas: os legalistas por pregarem uma Lei que nem eles são capazes de cumprir, e os outros por pregarem a Cristo não sinceramente, mas por inveja e porfia.