Devo destruir trabalhos de macumba?

Você escreveu dizendo que quando encontra um trabalho de macumba numa encruzilhada, ora com autoridade, destrói tudo e repreende o diabo. Sua dúvida é se estaria agindo corretamente. Não, você está erradíssimo ao fazer isso. Os versículos que usou não têm nada a ver com a questão, pois em Isaías 54:17 o texto diz: “_Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará”._O versículo está falando da proteção que Deus prometeu a Israel (o povo terreno de Deus) e não tem nada a ver com o cristão. Se ler o capítulo inteiro de Isaías irá perceber melhor do que lendo apenas um versículo isolado.

Satanás deve rir à beça de seu show de destruição de trabalhos de feitiçaria. Não é chutando imagens e espalhando farofa que você estará desfazendo as obras do diabo, mas agindo como Jesus agiu quando espoliou o Valente, que é o diabo. Como ele agiu? Libertando pessoas, não chutando ídolos.

Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem; mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos” (Lc 11:21).

O crente empenhado na obra de Cristo para libertar pessoas irá pregar o evangelho, porque libertação não significa libertar de vícios, feitiços ou macumbas, mas do pecado que irá levar aquela pessoa para a condenação eterna se não crer em Jesus.

Lutar contra Satanás e seus anjos e demônios também não tem nada a ver com cenas de histeria e gritarias nas encruzilhadas, numa tentativa de repreender o diabo, algo que só Jesus podia fazer, e nem o Arcanjo Miguel ousou em Judas 1:9. Essa luta contra o reino das trevas não é feita aos berros e pontapés nas encruzilhadas, mas de joelhos no chão e muito acima das ruas deste mundo:

Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6:11-12).

Se você sair por aí chutando imagens, derramando a cachaça e estragando os “trabalhos” logo acabará preso por intolerância religiosa e destruição de propriedade privada, porque aqueles objetos pertencem a alguém. Talvez você irá mencionar os reis e profetas de Israel que destruíam os ídolos pagãos, mas ali era uma teocracia, e aquele era o povo terreno de Deus limpando seu país da influência da idolatria pagã. O cristão não tem lugar neste mundo e sua cidadania é no céu. Veja o apóstolo Paulo, se destruiu algum dos ídolos que encontrou em Atenas:

E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio” (At 17:22-23).

Devia haver mais de uma dúzia de ídolos ali naquele local, alguns habitando hoje as exposições de grandes museus, e Paulo não encostou um dedo neles. Ele pega o gancho no fato de eles terem um pedestal vazio dedicado ao “Deus Desconhecido” e parte daí para pregar. Como você irá querer ganhar uma pessoa com o evangelho da graça de Deus depois de ter quebrado suas tigelas de farofa, sapateado sobre a galinha e chutado a imagem de São Jorge? Não é tentando arrancar o osso de um cão que você fica amigo dele, mas oferecendo algo melhor: um suculento filé.

Provavelmente você aprendeu a agir assim de livros e pregações de pastores pentecostais, portanto sugiro que passe uma borracha no que ouviu deles e jogue seus livros no lixo. E não perca seu tempo com esses pregadores de TV e Youtube entrevistando e repreendendo demônios. Comece a se ocupar mais com Cristo, não com o diabo. Você vai viver menos estressado e vai ter mais gente interessada na mensagem que você tem para passar.

Lembre-se também de que a mensagem do evangelho não é convidar alguém para filiar- se a alguma igreja, oferecer curas e revelações, ou libertar a pessoa de vícios. A mensagem do evangelho é oferecer a ela salvação eterna pela fé em Jesus, não resolução de problemas terrenos. Os que vão atrás de Jesus por causa de interesse estão na lista dos que ele mesmo não confia e são tão materialistas quanto os que fazem oferendas a demônios para estes não perturbarem suas vidinhas aqui.

E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia; e não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem” (Jo 2:23-25).