Atos 14:23 autoriza a eleição de presbíteros?

Você viu um vídeo de um clérigo presbiteriano usando a passagem de Atos 14:23 para justificar a eleição de anciãos ou presbíteros pela igreja e queria saber se tem fundamento. Obviamente um vídeo de um“_Reverendo”_não iria ensinar outra coisa que não fosse a eleição de presbíteros pelas igrejas locais, pois disso depende seu título e posição. Vamos à passagem:

E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio e Antioquia, confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus. E, havendo-lhes, por comum consentimento, eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido”(At 14:21-23).

Se observar a frase “voltaram para Listra, e Icônio e Antioquia” verá que Paulo e os outros estavam retornando a cidades onde já existiam irmãos congregados, muitos deles convertidos de outra passagem do apóstolo por ali. No entanto aquelas congregações ou assembleias locais não possuíam bispos ou presbíteros eleitos e agora, por direção do apóstolo, eles iriam eleger seus anciãos. Mas até ali essas assembleias haviam funcionado sem pessoas eleitas para essa posição.

Em outra ocasião Paulo envia Tito na missão de eleger presbíteros: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei”(Tt 1:5). A ordem é seguida de recomendações quanto às características e idoneidade das pessoas que seriam eleitas. As duas passagens nos ajudam a entender que os bispos, presbíteros ou anciãos (a mesma coisa com diferentes nomes) eram eleitos por indicação direta dos apóstolos ou por pessoas designadas diretamente por eles para esse fim. As igrejas por si mesmas não elegiam anciãos ou presbíteros independentemente dos apóstolos.

Hoje não temos apóstolos e não temos fundamento para eleger anciãos, mas podemos reconhecer aqueles que se dedicam à guarda e administração do rebanho. São reconhecidos por sua disposição, mas não eleitos ou nomeados, e muito menos intitulados como se tivessem um “Doutor” antes do nome, e menos ainda “Reverendo”, um título que na Bíblia (versão inglesa) aparece apenas para Deus: “He sent redemption unto his people: he hath commanded his covenant for ever: holy andReverendis his name”(Sl 111:9 - King James).

Quando Paulo se despediu dos anciãos de Éfeso ele não disse que os anciãos, bispos ou presbíteros deixariam de existir, mas indicou uma mudança em como eles seriam quando os apóstolos já não estivessem ali para elegê-los. O Espírito Santo seria responsável por colocar no coração de alguns a responsabilidade pelo rebanho. Aqueles anciãos de Éfeso certamente tinham sido eleitos por ordem dos apóstolos, mas Paulo revela o que havia por detrás daquela ordem: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”(At 20:28).

Na ausência dos apóstolos ainda podemos contar com o Espírito Santo para constituir bispos nas assembleias locais, mas não temos qualquer base bíblica para nomeá-los. Certamente podemos reconhecê-los pelo trabalho e características que trazem, e devemos respeitá-los como ensina Hebreus 13:17: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” (ARA). Aqui são chamados de _guias_e em algumas versões pastores, mas não no sentido do dom de pastor, mas sim de referências ou zeladores do rebanho.

A tradução Almeida Revista e Atualizada (ARA) está melhor que a Almeida Revista e Corrigida (ARC) ou a Almeida Corrigida Fiel, que traz “porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas”, o que induz ao erro de pensar que eles dariam contas das almas dos homens, quando é cada um que dará conta de si mesmo a Deus. “De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus”(Rm 14:12).

Mas nada disso tem a ver com nomeação de clérigos por juntas de homens ou votação da igreja, como vemos ser a prática na cristandade hoje, e muito menos com a colocação de um título antes do nome, como “Presbítero Fulano”, “Bispo Sicrano” ou “Reverendo Beltrano”. O mundo gosta de títulos e comendas, mas não devemos seguir o modelo do mundo.