Por que o cristão sofre?

Um dia passei em frente a uma dessas “igrejas” neopentecostais e sob o nome da organização havia uma frase: “Não sofra mais!”. A intenção clara era de atrair incautos a se fazerem membros daquela religião para encontrarem nela o alívio para o sofrimento.

Uma das grandes mentiras dos pregadores neopentecostais é negar o sofrimento do crente em Cristo. Muitos deles ensinam que se um crente está sofrendo é por não ter fé ou por estar andando em desobediência a Deus, esquecendo que Cristo sofreu e nunca houve ninguém mais santo do que ele. E é em sua Palavra que encontramos algo que contraria todo o ensino de que o crente esteja imune ao sofrimento: “Foi-me bom ter sido afligido” (Sl 119:71).

Costumamos pensar que apenas o que é bom é bom, nos esquecendo que o bom é inimigo das “coisas mais excelentes”(Fp 1:10). O apóstolo Paulo sabia discernir isso quando escreveu que suas prisões eram excelentes, mesmo que teria sido melhor do ponto de vista humano que ele não estivesse na cadeia.

Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho; de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais; e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus” (Fp 1:12-14).

O apóstolo reconhecia também que não era prisioneiro dos romanos, mas do Senhor, que é como se identifica na carta aos Efésios: “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor”(Ef 4:1).

Deus age assim muitas vezes para frustrar os planos do inimigo. Quando você dá linha, o peixe até pensa que venceu a parada, até sentir o tranco do anzol. Os irmãos de José tentaram se livrar dele, mas no final ele diz “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida”(Gn 50:20). Satanás podia se regozijar vendo Jesus morto na cruz, mas podemos imaginar sua expressão quando viu o túmulo vazio e os discípulos, outrora tristes, exultando de alegria?

Se vivemos para a glória de Deus, que importa os meios que Deus poderá querer usar para atingir seus objetivos? No passado os judeus passaram um cortado por causa de sua desobediência, e Deus usou até mesmo reis pagãos como o chicote que afligia o lombo de seu povo rebelde. Em Jeremias vemos uma das terríveis maldições que Deus traria ao povo:

Eis que eu enviarei, e tomarei a todas as famílias do Norte, diz o Senhor, como também a Nabucodonosor, rei de Babilônia, meu servo, e os trarei sobre esta terra, e sobre os seus moradores, e sobre todas estas nações em redor, e os destruirei totalmente, e farei que sejam objeto de espanto, e de assobio, e de perpétuas desolações” (Jr 25:9).

Reparou que Deus chama Nabucodonosor de “meu servo”? Pense em dois judeus caminhando rumo ao exílio na Babilônia, um praguejando contra o rei de Babilônia sem entender como Deus teria permitido aquilo, e o outro, caminhando por fé, e comentando: “Não se preocupe, meu irmão. Sabe esse rei aí? Ele está na folha de pagamento de nosso Deus. Por isso Deus o chama de ‘meu servo’”.

Quanto a nós, sofrimentos fazem parte do contrato de nossa vida neste planeta hostil que expulsou o Senhor da glória. Se ele sofreu, por que achar que sairíamos sem nenhum arranhão? Considerando que todos os apóstolos, exceto João que morreu em idade avançada, sofreram mortes horríveis, o que vier para nós é lucro. Bom seria podermos dizer como Paulo que “em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte.”(Fp 1:20).

Da próxima vez que você pisar em um prego com o pé descalço, ou morder uma pedrinha esquecida no meio do arroz, e segurar a forma de pizza saída do forno, entenderá que o sofrimento tem seu lugar. Se não fosse a dor você teria continuado pisando no prego até ele atravessar seu pé, perderia um dente por morder até o fim, e teria trabalho para desgrudar a carne de seus dedos que iria ficar presa à forma quente da pizza.