Existe um arrebatamento parcial?
Você perguntou se até um cristão em pecado seria arrebatado, e disse isso considerando sua inclinação pelas doutrinas de Watchman Nee e Winess Lee de um arrebatamento reservado apenas a vencedores. Você acabou de identificar onde está o grande furo dessa doutrina: o de achar que exista algum cristão que não peque. Essa ideia cria fariseus de um lado — os que acham que estão andando 100% de acordo com a vontade de Deus — e depressivos de outro, os que são sinceros o suficiente para reconhecerem que são falhos. Qualquer doutrina que dê ao homem alguma parcela de mérito não vem de Deus.
No arrebatamento Cristo virá buscar sua igreja para encontrar-se com ela nos ares, e a Igreja é aquela formada por todos os que creem em Jesus. Esses têm o Espírito Santo e nessa ocasião o Espírito será tirado da terra tanto quanto os que o possuem. Quem ficar na terra não terá o Espírito, será como aqueles que viviam no Antigo Testamento. Vamos reformular sua pergunta assim: “Então até um cristão que nos últimos dois mil anos morreu em pecado seria ressuscitado?”.
Percebe como de repente sua pergunta deixa de fazer sentido? Qualquer pessoa que tenha morrido na fé em Cristo nos últimos dois mil anos certamente tinha alguma aresta no seu andar, mesmo assim, o sacrifício de Cristo foi suficiente para garantir sua salvação. No arrebatamento ele será ressuscitado e subirá junto com os que forem transformados para estar com Jesus. Qualquer ideia de um arrebatamento seletivo implicaria também numa ressurreição seletiva de crentes “vencedores”, o que é um engano diabólico que só lança dúvidas no coração dos crentes em Jesus. Tente encontrar alguma passagem que fale de um arrebatamento ou ressurreição condicional e não achará.
“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1Jo 1:8-10).
Quando Paulo descreveu o que irá acontecer num momento, ele não dividiu os crentes em vencedores e perdedores. Ele incluiu TODOS.
“Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados. (Quando? Um grupo antes e um grupo depois?) Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e NÓS seremos transformados” (1Co 15:51- 52).
Mas você alega que alguns dos irmãos que congregavam somente ao nome do Senhor no século 19 também tinham essa doutrina. Realmente, mas isso não a torna correta e nem eles continuaram em comunhão com os irmãos. J. Sladen, R. Govett, G. H. Pember pensavam assim, e por isso você talvez não encontre seus nomes na literatura normalmente aceita entre irmãos congregados ao nome do Senhor. Você pode até encontrar alguma coisa de um desses autores, mas de antes da época em que começou a introduzir ideias estranhas à doutrina dos apóstolos e ser colocado fora de comunhão por isso.
Watchman Nee e Witness Lee emprestaram deles essas ideias e as transformaram em um sistema de doutrinas que deu origem a uma “denominação sem nome” que possui todas as características de um sistema. Possui um líder mundial (que não se diz líder mundial), uma sede mundial (que não chamam de sede mundial), um clero em pirâmide e uma imprensa e literatura oficial. Nada disso tem a ver com aquilo que costumo escrever e dizer sobre estar congregado somente ao nome do Senhor e sem essas características de um sistema religioso como outro qualquer.
Se consultar o que pensavam os irmãos congregados ao nome do Senhor no século 19 verá algo como este texto de William Kelly falando do Salmo 143:2:
“‘E não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente’ (Sl 143:2). Se Deus fosse entrar em juízo com algum servo seu, não poderia haver justificação para ele, pois o juízo deve tratar de forma inflexível com pecados. E qual é o servo de Deus que nunca pecou desde o dia em que confessou o Salvador? Salvação é por graça, por meio da fé, mas isso é impossível de ocorrer no terreno do julgamento por obras, algo que está reservado para aqueles que recusaram o Senhor e rejeitaram sua “tão grande salvação”. É somente dos ímpios que Apocalipse 20:11-15 está falando. “E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras”. O livro da vida concorda com a condenação de cada um deles, pois nele está o registro dos beneficiados com a graça salvadora. “E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo”. Em Apocalipse 20:11-15 não há qualquer menção daquele que teve seu nome escrito no livro da vida. Os livros os condenaram, pois o livro da vida não trazia seus nomes escritos visando a graça” - W. Kelly.
A ideia de um arrebatamento parcial é também de certa maneira o que creem alguns populares defensores do arrebatamento, como o autor dos livros e filmes da série “Deixados para trás”. Neles pessoas que antes ouviam o evangelho, mas não se converteram, são mostradas como tendo uma segunda chance de crer durante os tempos de tribulação. Mas isso é também outro engano diabólico, pois o texto bíblico aponta claramente que Deus mesmo fará com que creiam na mentira. Para uma pessoa que hoje escuta o evangelho e deixa para decidir depois, não haverá possibilidade de decisão, pois seu destino terá sido selado no arrebatamento. Ela irá crer na mentira porque Deus fará com que creia assim. Ela será como uma pessoa que ouviu, morreu e não creu. Perdeu sua chance.
A passagem que fala da ressurreição dos que dormiram em Cristo e do arrebatamento de todos os salvos é principalmente esta:
“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1Ts 4:13-18).
A passagem que mostra o que acontecerá com os que ficarem na terra depois de terem tido a chance de ouvir e crer está na segunda epístola. Após o arrebatamento da Igreja os únicos que terão chance de se converter ao evangelho do Reino (distinto do evangelho da graça) serão os que não tiverem sido alcançados na atual época da Igreja:
“Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele [que é o arrebatamento da Igreja], que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo [que é sua vinda para julgar as nações sete anos após o arrebatamento] estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco? E agora vós sabeis o que o detém [ou seja, o Espírito Santo], para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado; e então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro [ou poder irresistível], para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2Ts 2:1-12).