Por que irmãos mais velhos desprezam minha juventude?
Você escreveu dizendo que se sente como Eliú, em Jó 32, pois às vezes é repreendido pelos irmãos mais velhos que acham que alguém na sua idade não pode ter conhecimento das Escrituras. Não se preocupe, nem sempre o problema está em você, mas nos outros. A Bíblia ensina duas coisas: Que Deus dá valor aos cabelos brancos e à experiência dos mais velhos, que devem ser sempre respeitados pelos mais novos. Mas também mostra que Deus usa quem ele quer, inclusive jovens e independente do gênero.
Foi uma jovem serva que Deus usou para levar um dos grandes generais de sua época — Naamã — ao conhecimento da Verdade. Enquanto o velho Eli vivia acomodado sentado numa cadeira no templo, Deus quis usar o jovem Samuel. O Senhor usou os pães e peixes de um jovem para alimentar uma multidão, e ele mesmo veio ao mundo por intermédio de uma jovem Maria, que devia ser ainda adolescente quando foi coberta pelo Espírito Santo.
O Senhor também usou os apóstolos, a maioria na faixa de vinte a trinta anos quando foram chamados. Os irmãos que no princípio do século 19 apartaram-se de suas denominações para congregar somente ao nome do Senhor estavam na faixa dos vinte anos, e mesmo assim o Senhor lhes deu um entendimento das Escrituras que faltava a muitos clérigos anciãos contaminados com séculos de má doutrina.
Lembro-me quando, aos vinte e quatro anos e com pouco tempo de convertido, descobri o valor de estar congregado somente ao nome do Senhor fora dos sistemas denominacionais. Ao apresentar o que entendia das Escrituras a um obreiro da Igreja Batista que frequentava, fui repreendido com estas palavras: “Você não tem nem dois anos de convertido e quer ensinar a mim, que tenho mais de vinte?”.
Na Bíblia vemos como Deus usou um jovem, Timóteo, ao ponto de Paulo lhe dedicar duas epístolas extremamente instrutivas. Isso demonstra que Deus não despreza um jovem, mas também demonstra que o jovem, como era o caso de Timóteo, necessita de instrução na Palavra. Mas o apóstolo encorajou seu pupilo com estas palavras: “Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza”(1Tm 4:12).
O perigo é quando o jovem é soberbo, não sabe se comportar e despreza a experiência dos mais velhos. Um dos grandes erros cometidos pelo rei Roboão foi ter desprezado os anciãos e buscado conselho entre os jovens de sua idade. “Porém ele deixou o conselho que os anciãos lhe tinham dado, e teve conselho com os jovens que haviam crescido com ele, que estavam diante dele” (1 Rs 12:8).
Ainda que um jovem possa ter conhecimento e razão em determinadas situações, ele deve respeitar os mais velhos porque esta é a maneira que Deus ordena. “Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados. Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” (Tt 2:6-8). “Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais” (1Tm 5:1).
Quando Paulo disse a Timóteo “ninguém despreza a tua mocidade”(1Tm 4:12) isso não queria dizer que Timóteo ficaria imune às críticas, mas que deveria viver de modo a não as gerar. A crítica geralmente é uma resposta ou reação a um determinado comportamento, daí a necessidade de Paulo admoestar Timóteo a servir de exemplo para os irmãos. Cada um de nós deve sempre perguntar: “Estou servindo de exemplo também nestes aspectos de minha vida?”.
Na admoestação de Paulo em 1 Timóteo 4:12 há seis pontos que precisavam ser observados: a Palavra, o Trato, o Amor, o Espírito, a Fé e a Pureza. Todavia, os melhores manuscritos trazem apenas cinco pontos, omitindo o “espírito”, e creio ser mesmo o mais correto, pois o número cinco na Bíblia sempre aparece relacionado à responsabilidade do homem.
NA PALAVRA - Nossa conversa deve sempre caracterizar que somos filhos de Deus. Não devemos apenas evitar aquilo que é impróprio, mas falar sempre no sentido de edificar nossos ouvintes. Em tempos de redes sociais aqui vai uma dica: sabe aquilo que você quer jogar na cara do outro? Escreva com todas as letras e no final, ao invés de clicar em “Enviar” clique em “Deletar”. Pronto, você descarregou suas emoções e não machucou ninguém. Além disso, nunca se esqueça de que tudo o que publicar na Internet nunca mais poderá ser apagado. Continuará viajando pelos compartilhamentos como as plumas de um travesseiro que você rasgou ao vento, impossíveis de serem recolhidas quando se arrepender do que disse.
NO TRATO - Isto fala de nossa conduta e comportamento. Nada em nosso modo de ser deve ser motivo de reprovação ou comprometimento para o testemunho do Senhor. Era este o cerne da orientação dada a Timóteo. Não gostamos de ser repreendidos, mas também nem sempre cuidamos de não agir de modo a produzir essas repreensões vindas de outros. Para um cristão a frase “a vida é minha e eu vivo do jeito que quiser” deveria ter morrido na cruz com Cristo.
NO AMOR - Este deve ser sempre o combustível de nossa conduta e do espírito com o qual nos comportamos em relação aos outros. Quando tudo deixar de existir permanecerá o amor, porque Deus é amor e este existia desde a eternidade. Que valor tem uma moeda que nunca desvaloriza? Assim é o amor.
NO ESPÍRITO - Este item falta nos melhores manuscritos, mas não custa falar de sua importância. Não se trata do Espírito Santo e nem do espírito do homem, mas de espírito no sentido de disposição ou humor. O entusiasmo com que vivemos e contagiamos os outros irá revelar o quanto estamos satisfeitos com Cristo. Muitos cristãos demonstram entusiasmo com futebol, música e relacionamentos, enquanto são apáticos para com as coisas de Deus. Você iria querer torcer para o time de seu colega se ele não estivesse nem aí com o resultado do jogo? Certamente não. Então como espera que seu colega irá se interessar pelo Evangelho quando nem você demonstra estar interessado?
NA FÉ - Fé e fidelidade andam juntas, pois nos falam de dependência e perseverança no Senhor. Fé também nos fala de sabermos esperar, uma qualidade que costuma não ser muito encontrada nos jovens, que são mais prontos a agir na energia da carne do que com base na paciência adquirida com a idade e a experiência.
NA PUREZA - A palavra aparece como “castidade” em algumas versões, e este é um ponto a ser observado por todo jovem cristão. Mas não são apenas nossas atitudes e modo de vida que devem ser puros, e sim os motivos que nos levam a agir da maneira como agimos. Esses motivos devem ser apenas um: a glória de Deus.
E para encerrar, não há nada como a Palavra de Deus para nos motivar a vivermos de modo a agradar a Deus:
“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus. Como também eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam salvar” (1Co 10:31-33).
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Cl 3:12-17).
“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis. Mas quem fizer agravo receberá o agravo que fizer; pois não há acepção de pessoas” (Cl 3:24-26).