O batismo unicista está correto?
Não é apenas o batismo unicista que está errado, mas toda a doutrina do unicismo que, apesar de considerar que Deus seja um, nega a Trindade de três Pessoas divinas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. No unicismo o Pai, o Filho e o Espírito Santo são a mesma e única Pessoa divina, apenas manifestadas de maneiras diferentes em circunstâncias distintas. Assim, segundo essa doutrina, Jesus seria o Pai e seria também o Espírito, o que é um erro grave.
Quando Tertuliano no primeiro século cunhou o termo latim “Trinitas”, de onde vem a palavra “Trindade”, ele não estava inventando nada, mas apenas nomeando algo que já era conhecido desde o primeiro versículo do livro de Gênesis, quando Elohim (plural de Eloha) criou os céus e a terra. No início da Igreja um herege de nome Sabélio começou a pregar erro unicista e foi logo rechaçado. Mas em tempos modernos um determinado movimento pentecostal ressuscitou essa heresia e hoje existem muitos que se dizem cristãos ao mesmo tempo em que negam uma das verdades fundamentais do cristianismo bíblico, que é a Trindade. Esse erro se dissemina também em grupos sem denominação.
Outro movimento igualmente pernicioso, mas com algumas diferenças, é o unitarismo, que considera existir um só Deus, enquanto nega a Trindade. Como desgraça pouca é bobagem, geralmente essas “igrejas” unicistas e unitaristas ou unitarianistas, trazem em seu bojo doutrinário outros erros. Não sou nenhum expert em heresias, por isso nem me pergunte sobre as diferenças entre um e outro. Pesquise na Web se tiver interesse.
Voltando ao assunto de sua dúvida, que é o batismo, existe muita confusão sobre isso, a começar com alguns que citam o batismo que João Batista praticava como se fosse um batismo cristão. Se fosse, os discípulos de João não teriam sido depois batizados a Jesus em Atos 19. O batismo de João Batista era um batismo judaico e, enquanto os judeus que eram batizados por João confessavam seus pecados, Jesus não confessou nada porque não tinha pecados; ao ser batizado ele apenas orava. Jesus quis se identificar com aquele remanescente de judeus que reconheciam a ruína de Israel e aguardavam a restauração do reino. A atitude de Jesus foi o que chamamos de empatia.
“E toda a província da Judeia e os de Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessandoos seus pecados... E aconteceu que, como todo o povo se batizava, sendo batizado também Jesus, orandoele, o céu se abriu” (Mc 1:5; Lc 3:21).
O batismo bíblico ensinado por Jesus é aquele que nos associa a Jesus e é feito segundo a fórmula ensinada por ele: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os que haviam sido batizados por João e depois se converteram a Jesus foram batizados novamente.
“Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João. Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus” (At 19:3-5).
Aqui entra outro equívoco que é aproveitado também por unicistas e unitaristas, que não creem na Trindade, e até por cristãos que creem na Trindade, mas não entendem perfeitamente o que seja o batismo. Alguns até acham que seja para limpar pecados, enquanto outros ensinam que é pelo batismo que se é acrescentado ao corpo de Cristo, a Igreja, e não são poucos os que batizam para tornar a pessoa membro de alguma denominação. Mas há também os que batizam “_em nome de Jesus”_por causa da passagem de Atos 19, sem entenderem não ser esta a fórmula, mas a Pessoa a quem a pessoa é associada pelo batismo.
O batismo em nome de Jesus significa batizar alguém conectando a pessoa a Jesus (ou ao nome de Jesus) com a autoridade que Jesus delegou de batizarmos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, uma ordem sem data de validade, ou seja, “até a consumação dos séculos”. Foi uma ordem dada antes da fundação da Igreja (Atos 2), mas não exclusiva a ela, e sim abrangendo as “nações” ou gentios. Portanto, também para o tempo depois que a Igreja for tirada daqui e judeus e gentios se converterem pela pregação do evangelho do Reino para habitarem na terra no Milênio.
“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações (gentios), batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mt 28:19-20).
O Concise Bible Dictionary diz:
No final do evangelho de Mateus temos um mandamento conectado com o batismo e com a missão apostólica dada exclusivamente aos gentios, mas ali nada há de arrependimento ou remissão. Trata-se simplesmente de fazer discípulos dentre as nações, batizando-os e ensinando-os (Mt 28:19-20). Em seu sentido amplo, esta passagem contempla uma obra que ainda será feita no final pelo remanescente judeu para com os gentios.
O batismo cristão agora é tanto para judeus como para gentios, para que por meio dele, eles deixem a posição que ora ocupam e, estando conectados à morte de Cristo, sejam introduzidos na profissão cristã, deixando para trás aquelas distinções. A ordem dada em Lucas 24:47 é no sentido do arrependimento e remissão de pecados. Em Marcos 16:15-16 a salvação pertencia àquele que cria e era batizado, pois se não o fizesse estaria se recusando a ser cristão.
As escrituras não nos dão um ensino definitivo quanto ao modo de batismo, já que o foco é a que os que recebiam batismo estariam sendo ligados pelo mesmo (At 19:3). A ideia está mais para a palavra “lavar”, como ocorria com os sacerdotes da antiguidade (Ex 29:4), do que para a palavra “aspergir”, como acontecia com os levitas (Nm 8:7).
Quanto à fórmula utilizada, alguns supõem que por lermos em Atos que as pessoas eram batizadas “em nome do Senhor Jesus” a instrução dada em Mateus 28:19 para batizar “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” tivesse sido mudada. Mas isso não tem fundamento, pois o batismo é sempre a alguémou a alguma coisa. Os discípulos encontrados em Éfeso haviam sido batizados ao batismo de João (At 19:3); os israelitas tinham sido batizados a Moisés, e aqueles batizados em Atos foram batizados ao nome do Senhor Jesus como Salvador e Senhor, portanto não existe motivo para isto não combinar com as palavras encontradas em Mateus, e uma pessoa é batizada em nome do Senhor Jesus para o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Em Atos 2:38 a preposição é ἐπί (ἐν in MSS B,C,D); em Atos 10: 48 é ἐν; e em todas as outras passagens é εἰς. [traduzido de “Morrish’s New and Concise Bible Dictionary”].